Terminou nesta sexta-feira (22) a 13ª edição da Paralimpíada Escolar. O evento, que é considerado o maior do mundo para jovens com deficiência em idade escolar, reuniu 1.220 atletas de todo o país (de 12 e 17 anos) no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo.
Foram disputadas 12 modalidades voltadas a estudantes com deficiências físico-motoras, visuais e intelectuais. Nessa última categoria houve uma novidade, uma subdivisão para jovens com síndrome de Down no atletismo e na natação.
“Essa iniciativa fisiologicamente foi necessária porque é uma classe que leva uma desvantagem muito grande (em relação a outros atletas com deficiência intelectual). O Comitê Paralímpico Internacional (IPC) ainda não reconheceu, mas aqui é um palco para experimentar”, afirmou o coordenador de Desporto Escolar do Comitê Paralímpico Brasileiro (CPB), Ramon Pereira.
Cinquenta e cinco crianças e adolescentes com Down participaram do evento esportivo e puderam experimentar provas diferentes. “Fiz salto em distância e arremesso do peso, mas preferi a corrida”, disse a gaúcha Emanuela Formaggionni, de 14 anos, exausta após a disputa dos 250 metros na pista de atletismo.
A prova foi vencida pela paranaense Karina Kamily, também de 14 anos, para satisfação da dona de casa Roseli Pereira, que acompanhava a jovem e outras duas atletas com Down no evento: “É para eles sentirem que podem participar de qualquer coisa, que não podem ser excluídos. Acho isso muito importante. Ficamos emocionados”.
Inspirações
A Paralimpíada Escolar é uma porta de entrada para jovens que sonham com uma carreira no paradesporto. “Em janeiro vamos pegar 117 atletas das modalidades que oferecemos para uma vivência de alto-rendimento, que é o camping escolar. O objetivo do CPB é incentivar desde cedo o alto-rendimento para que essas crianças defendam o Brasil em Mundiais e Paralimpíadas”, afirmou Ramon Pereira.
E não faltam exemplos para a garotada seguir. Medalhistas paralímpicos nos Jogos do Rio, em 2016, o nadador Talisson Glock, o jogador de goalball Leomon Moreno e a velocista Verônica Hipólito também passaram pela disputa escolar.
Verônica, aliás, é a inspiração da mineira Emilly Camilly, de 15 anos, que ganhou sua bateria nos 250 metros na classe T11 (deficiência visual total) sub-16. “Ela é humilde, tem garra e isso serve de inspiração. Mostra que, apesar da deficiência, você é alguém na vida”, declarou Emilly.
Já para a sergipana Kelianny dos Santos (vencedora na mesma classe e faixa etária de Emilly) um espelho a seguir corre ao seu lado. Atleta-guia na Paralimpíada Escolar, Jadson Santos Souza está na briga por índice para representar o Brasil na Paralimpíada de Tóquio, no ano que vem, na classe T20 (deficiência intelectual).
“Se abaixar meu tempo, talvez consiga a vaga em 2020. Então, estou dando inspiração para que ela chegue junto comigo em Tóquio”, disse.
Além do esporte
João Vitor, de 15 anos, nasceu com má formação nas duas pernas. Apesar de também jogar basquete em cadeira de rodas, prefere o vôlei sentado. Na Paralimpíada Escolar, o paulista foi, inclusive, treinado pelo técnico da seleção masculina da modalidade, Célio Mediato.
O jovem quer seguir carreira e tem o apoio da mãe adotiva, Maria do Carmo. Caso não dê certo, ela não tem dúvidas de que o contato com o esporte já valeu a pena. “Ele está desenvolvendo não só o corpo, mas também a cabeça. Está mais solto, comunicativo. Ainda tem um pouco da timidez, que é natural dele. Mas sinto ele muito melhor”, disse emocionada.
De fato, entre mais de 1.200 crianças e adolescentes, talvez nem todos se tornem atletas. Mas, para Ramon Pereira, do CPB, o legado da Paralimpíada Escolar vai além do resultado esportivo.
“Infelizmente, em muitos estados, um aluno com deficiência acaba dispensado da educação física porque o professor ou instrutor não tem informação de como planejar uma atividade inclusiva. Certamente, uma criança que sai daqui vai até ensinar esse professor a como ela pode ser incluída nas atividades. Isso é muito importante, pois dá voz e ação à criança com deficiência”, concluiu.