CURA FICTA

Sete são presos em operação contra golpe do "falso médico"

A partir de ocorrências em Porto Alegre e Canoas, a Polícia descobriu uma rede interestadual para aplicação do golpe

Foto: Polícia Civil / Divulgação
Foto: Polícia Civil / Divulgação

A Polícia Civil deflagrou, nesta terça-feira (2), a Operação “Cura Ficta”, com apoio operacional da PCERJ, PJCMT e PCGO. O objetivo é desarticular uma organização criminosa interestadual especializada na prática do estelionato conhecido como golpe do “falso médico”. Sete pessoas foram presas.

Através da DRCPE/DERCC (Delegacia de Repressão aos Crimes Patrimoniais Eletrônicos), os agentes cumpriram nove mandados de prisão preventiva e 13  mandados de busca e apreensão. A ações ocorreram nos estados de Mato Grosso, Goiás e Rio de Janeiro. Além das prisões, os policiais apreenderam celulares e equipamentos informáticos.

A Operação Cura Ficta (alusão à falsa cura ou tratamento prometido pelos golpistas) teve início após o registro de ocorrências em Porto Alegre e Canoas. Nestes locais, as vítimas relataram prejuízos que, somados, ultrapassam dezenas de milhares de reais em poucos dias.

A Polícia Civil conseguiu vincular os terminais telefônicos usados nos golpes aos aparelhos celulares em posse dos investigados em Rondonópolis, Goiás e Rio de Janeiro.

“Com a deflagração da operação, a Polícia Civil busca não apenas a prisão dos executores e líderes, mas também a asfixia financeira do grupo e a apreensão de novos elementos de prova”, disse a Polícia Civil em comunicado.

O crime

A investigação revelou uma estrutura criminosa que explorava a vulnerabilidade emocional de familiares de pacientes internados em UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) de hospitais no RS e em outros estados. Os criminosos entravam em contato telefônico com as vítimas, passando-se por médicos ou diretores clínicos, utilizando nomes fictícios e fotos retiradas da internet.

Com acesso a dados privilegiados, informavam um falso agravamento no quadro de saúde do paciente (como leucemia ou infecções bacterianas graves) e exigiam pagamentos urgentes, via PIX, para exames ou medicamentos. Estes, supostamente, não eram cobertos pelo plano de saúde.

Comando e operação

O indivíduo, de 35 anos, responsável pelo esquema, está atualmente recolhido na Penitenciária de Rondonópolis/MT. Mesmo encarcerado, ele coordenava as chamadas e a logística do golpe. No interior da cela do apenado, já haviam sido apreendidos anteriormente cadernos com anotações de roteiros do golpe, dados bancários e números de telefone.

Uma mulher, residente em Rondonópolis/MT e companheira de um dos envolvidos, atuava como braço direito do comando prisional, operando contas bancárias, gerenciando o fluxo financeiro e utilizando tornozeleira eletrônica.

A lavagem de dinheiro

A Delegacia de Repressão aos Crimes Patrimoniais Eletrônicos desvendou uma rede complexa de lavagem de dinheiro e ocultação de identidade. Além da base em Mato Grosso, a organização possuía ramificações em outros lugares.

Em Guaratiba/RJ, a polícia identificou dois operadores responsáveis por fornecer e movimentar contas bancárias utilizadas para receber os valores extorquidos das vítimas, agindo em sincronia com os contatos telefônicos feitos de dentro do presídio. Um dos alvos, residente em Rondonópolis, possui 121 chaves PIX cadastradas em seu CPF, indicando a utilização profissional de contas para pulverizar o dinheiro ilícito.

Além disso, a investigação identificou o uso de emuladores de Android em computadores para simular múltiplos aparelhos celulares. A estratégia permitia que um único criminoso gerenciasse diversas contas de whatsapp e aplicativos bancários simultaneamente, dificultando o rastreamento policial.

A investigação apontou, por fim, que parte dos lucros obtidos, ilicitamente, das famílias hospitalizadas tinha como destino o financiamento de uma organização criminosa com atuação no estado do Mato Grosso.