O óleo de origem desconhecida, que já atingiu mais de 150 pontos do litoral nordestino, chegou hoje (11), a Salvador (BA), poluindo as praias do Flamengo e Jardim dos Namorados, no bairro da Pituba.
Blocos de petróleo bruto misturado à areia e a outros materiais foram encontrados por banhistas e confirmados por equipes do Instituto do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema), que já vinha acompanhando o avanço da macha de óleo.
A prefeitura informou que 75 agentes de limpeza estarão de prontidão 24 horas a fim de identificar e tomar as providências necessárias em caso de novas ocorrências nas praias soteropolitanas. Além disso, técnicos da Defesa Civil e engenheiros ambientais também estão em alerta e podem ser acionados pelo telefone 156.
A prefeitura recomenda que as pessoas evitem ir à praia, nadar ou praticar esportes aquáticos nas regiões afetadas. Quem encontrar algum animal ferido ou afetado pelo óleo deve ligar para a Polícia Ambiental (190) ou para a Guarda Civil Municipal (3202-5312). Em caso de reação alérgica ao toque ou ingestão do óleo, a pessoa deve procurar uma unidade básica de saúde.
Segundo a relação de áreas afetadas, atualizada diariamente pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), só na Bahia sete cidades já foram atingidas pelo óleo. Além da capital baiana, foram afetadas Camaçari, Conde, Entre Rios, Esplanada, Jandaíra e Mata de São João.
A relação do Ibama não inclui o município de Lauro de Freitas, cuja prefeitura confirmou que, na última quarta-feira (9), frequentadores e trabalhadores da praia de Vilas do Atlântico comunicaram o avistamento de vestígios de óleo possivelmente carregados até a praia pela correnteza.
“Percorremos as três praias do município e alguns pontos do Rio Sapato e, até o momento, não encontramos nenhuma [outra] mancha, mas o vestígio encontrado é um sinal de que as pelotas sólidas podem chegar, mas até o momento as praias estão limpas”, informou em nota a oceanógrafa da secretaria Marina Motta.
Mancha de óleo
A presença da mancha de óleo no litoral nordestino foi notada no fim de agosto. A primeira localidade onde, segundo o relatório do Ibama, a contaminação foi comunicada, fica na Praia Bela, em Pitimbu (PB), onde os fragmentos de óleo foram avistados no dia 30 de agosto. A partir daí, a substância escura e pegajosa se espalhou pelos nove estados do Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe).
Segundo o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, análises laboratoriais realizadas pela Petrobras apontam que as amostras de óleo estudadas são “compatíveis” com o tipo de petróleo produzido na Venezuela. Hipótese corroborada por pesquisadores da Universidade Federal da Bahia (UFBA) que, por iniciativa própria e em parceria com especialistas da Universidade Federal de Sergipe (UFS), analisaram nove de 27 amostras de resíduos que recolheram ao longo do litoral do Sergipe e da Bahia, encontrando uma “forte correlação” entre a substância e “um dos tipos de petróleo produzido no país vizinho”. Segundo os pesquisadores, nenhuma das variedades de petróleo produzidas no Brasil apresenta características semelhantes às encontradas nas amostras analisadas.
Marinha
A Polícia Federal (PF), a Marinha e os órgãos ambientais do Brasil tentam agora esclarecer como o material chegou às águas territoriais brasileiras e poluiu trechos do litoral nordestino. De acordo com o ministro Ricardo Salles, entre as hipóteses estão um possível vazamento acidental em alguma embarcação ainda não identificada; um derramamento criminoso do material por motivos desconhecidos ou a eventual limpeza do porão de um navio.
“A Marinha identificou todos os barcos que trafegaram pela costa brasileira e está investigando para saber qual é o possível barco [que pode ter derramado o óleo no mar]”, comentou o ministro durante reunião ordinária do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), realizada ontem (10), em Brasília. Ao fim do encontro, a assessoria do ministério esclareceu à Agência Brasil que o ministro jamais atribuiu a responsabilidade pelo vazamento ao Estado venezuelano ou a estatal petrolífera Petróleos de Venezuela (PDVSA).
“A hipótese aventada é que [o produto] pode ter sido derramado a partir de navios que trafegaram ao longo da costa brasileira, e não necessariamente de campos do governo ditatorial venezuelano”, informou a pasta.
A PDVSA e o ministro do Petróleo da Venezuela, Manuel Quevedo, rechaçaram qualquer ilação que tente responsabilizar o país pelo derramamento de óleo no litoral brasileiro. “Reiteramos que não recebemos nenhum relatório no qual nossos clientes e/ou subsidiárias relatam uma possível avaria ou vazamento nas proximidades da costa brasileira, cuja distância com nossas instalações de petróleo é de aproximadamente 6.650 km, via marítima”, disse a PDVSA, em nota.