Na manhã desta quarta-feira (13), mulheres do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do MCP (Movimento Camponês Popular) ocuparam a fazenda Agropastoril Dom Inácio, em Anápolis, entre os distritos de Interlândia e Souzânia, no interior de Goiás.
A área que está sub judice tem em torno de 600 hectares e fica próxima à rodovia GO-433. A ação faz parte da Jornada Nacional de Lutas das Mulheres Sem Terra que começou na última semana com mobilizações em todo país.
João Teixeira de Farias, conhecido como João de “Deus”, ficou famoso no país e no mundo por oferecer desde 1976 supostos tratamentos mediúnicos.
Em dezembro de 2018 ele foi acusado publicamente de abuso e violência sexual, desde então, mais de 500 mulheres já procuraram a polícia e o Ministério Público de Goiás para denunciar abusos cometidos, que aconteciam em sua maioria, durante os atendimentos na Casa Dom Inácio de Loyola, em Abadiânia (GO).
Além das denúncias no estado, mulheres de diferentes regiões do Brasil e de mais seis países também relataram abusos. Na ocasião, o MP declarou ter registros de casos de assédio desde 2010, mas, em 1980, já haviam sido apresentadas acusações contra ele.
Um dos primeiros relatos é o da própria filha, Dalva Teixeira, de 45 anos, que declarou em um vídeo ter sofrido abuso sexual por parte do pai entre os 9 e 14 anos.
Preso preventivamente desde dezembro de 2016, João de “Deus” é acusado de estupro, estupro de vulnerável, violação sexual mediante fraude, estelionato, coação e corrupção de testemunhas. Além disso, ao longo de sua atuação, ele já foi acusado de charlatanismo, sedução de menor, atentado ao pudor, contrabando de minério e até assassinato. Influente entre autoridades, em nenhum dos casos o médium foi julgado culpado.
Latifúndio
Ninguém sabe ao certo qual o valor da fortuna de João de “Deus”, entre aplicações, empresas, carros, casas, fazendas e latifúndios de monocultivo de gado e soja e um avião Seneca II de seis lugares, está um garimpo de ouro em Nova Era, Minas Gerais.
João de “Deus” também é conhecido por concentrar lotes, terras improdutivas e terrenos na cidade. Segundo levantamento realizado pelo jornal Folha de São Paulo em cartórios da região de Goiás, são 27 registros de imóveis em nome do “João curador”. Destes, 23 estão na área urbana, totalizando 19.725 m², e quatro na zona rural, com 703 hectares, o equivalente a 723 campos de futebol.
Em depoimento formal à polícia, o acusado afirmou ter seis fazendas em Goiás: Crixás, Itapaci, Anápolis, São Miguel, Pirenópolis e Abadiânia.
Segundo as mulheres Sem Terra, por esses e tantos outros motivos, elas ocupam hoje “um território que é fruto do abuso, do estupro e da violência”.