OBITUÁRIO

Morre o apresentador e empresário Silvio Santos

Silvio Santos estava afastado dos palcos desde 2022, quando parou de gravar seus programas. A causa da morte foi uma broncopneumonia.

Crédito: Lourival Ribeiro / SBT
Crédito: Lourival Ribeiro / SBT

Silvio Santos, apresentador e empresário, morreu neste sábado (17) aos 93 anos, em São Paulo. Ele estava internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) do hospital Albert Einstein, em São Paulo após ter contraído Influenza A (H1N1).

A causa da morte foi broncopneumonia. De acordo com a família, ele pediu para que não ocorresse velório e fosse sepultado em cerimônia judaica. “Ele pediu para que não explorássemos a sua passagem. Gostava de ser celebrado em vida e gostaria de ser lembrado com a alegria que viveu. Nos pediu para que respeitássemos o desejo dele. E assim vamos fazer”, afirmou a família Abravanel em nota.

Entre 17 e 20 de julho, ele foi internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, para tratamento de Influenza A (H1N1), causada pelo vírus da gripe. No início deste mês, houve nova baixa para a “realização de exames de imagem”. No entanto, ele permaneceu sob cuidados médicos na UTI do hospital.

Silvio Santos estava afastado dos palcos desde 2022, quando parou de gravar os programas dominicais. Mas nunca anunciou que estava se aposentando. O apresentador marcou os domingos da TV brasileira. Com um programa de variedades – com música, dança e jogos – se tornou referência de entretenimento.

Silvio Santos é uma das figuras mais emblemáticas da história recente do Brasil. Foi de camelô na então capital federal, Rio de Janeiro, ao bilionário empresário dono da segunda maior rede de TV do Brasil entre os anos 1980 e 2000.

Teve seis filhas. Duas do primeiro casamento, com Maria Aparecida Vieira Abravanel, a Cidinha, que morreu em decorrência de um câncer em 1977. Posteriormente, teve mais quatro herdeiras com Íris Pássaro Abravanel.

Do início da carreira à TV

Crédito: Acervo/Editora Globo

Senor Abravanel nasceu em 12 de dezembro de 1930, na Lapa, zona sul do Rio de Janeiro. Seus pais, Alberto e Rebeca, eram imigrantes de origem judia. Ele era o mais velho de cinco irmãos.

Estudou contabilidade. Em 1946, começou a atuar como camelô, vendendo canetas e capas de plástico para títulos de eleitor nas eleições daquele ano. Na mesma época, iniciou a fazer pequenos trabalhos de locução de rádio.

Seguiu trabalhando com rádio e, em 1948, serviu ao Exército na Escola de Paraquedistas. Em 1954, Silvio assinou o primeiro contrato fixo como locutor, na Rádio Nacional de São Paulo. No mesmo ano, Manuel da Nóbrega o chamou para ser animador do seu programa.

Quatro anos depois, em 1958, Silvio Santos assumiu a “Baú da Felicidade”, de Manuel da Nóbrega. O apresentador de rádio passou a ser empresário e, a partir de 1963, implementou um sistema de carnês onde os clientes que pagassem em dia podiam concorrer a sorteios, ou trocar os valores pagos por produtos.

No mesmo ano de 1958, Silvio migrou do rádio para a televisão, onde passou a apresentar o “Hit Parade”, na TV Paulista, canal 5 de São Paulo. Depois, apresentou o “Vamos brincar de forca” no mesmo canal. No ano seguinte surgiu o “Programa Silvio Santos”. No mesmo ano, passou a fazer programas também na TV Tupi, de São Paulo, às terças-feiras.

Sucesso na Globo e compra de parte da Record

Chacrinha e Silvio Santos em foto de 1971, durante gravação da vinheta de fim de ano da TV Globo. Crédito: Acervo TV Globo

Em 1966, a TV Paulista foi comprada pela TV Globo, que então era uma emissora pequena do Rio de Janeiro. Como alugava horário na grade, Silvio seguiu como apresentador e assinou um contrato de cinco anos com Roberto Marinho (1904-2003).

A partir de 1969, o programa passou a ser exibido em rede com o Rio de Janeiro. Se tornou um sucesso absoluto. A partir dos anos 1970, Silvio começou a sofrer oposição dentro da Globo, porque seu programa destoava do restante do “padrão” da emissora. Na mesma época, comprou 50% das ações da TV Record, canal 7 de São Paulo.

Em 1975, obteve do Governo Federal a concessão da frequência do Canal 11, no Rio de Janeiro. Nascia ali a TVS (TV Studios, ou TV Studios Silvio Santos). Conseguiu colocar no ar o canal, mesmo com percalços na importação dos equipamentos necessários. A Record de SP passou a operar de forma conjunta com o canal do RJ.

Saída da Globo e o início do império na TV

Foto dos anos 1970, quando Silvio Santos apresentava programa no canal. Crédito: Acervo / TV Globo

Em 1976, Silvio Santos deixa a Globo e inaugura a TVS em 14 de maio. Quatro anos depois, no entanto, vai dar projeção nacional ao empresário. Uma série de mudanças acontece no mercado de comunicação do Brasil. O governo federal cassa as licenças da Rede Tupi de Televisão (1950-1980). As afiliadas da rede passam a retransmitir o sinal da TVS ou da Record. As licenças do canal e, também, das extintas TVs Excelsior (SP) e Continental (RJ) são colocadas em concorrência pública.

O empresário e o dono da Revista Manchete, Adolpho Bloch, participam da disputa. Silvio Santos, porém, sai “perdedor do certame. Bloch obtém cinco concessões, enquanto o “dono do Baú” apenas quatro: São Paulo (TV Tupi), Porto Alegre (TV Piratini) e Belém (TV Marajoara), além de uma segunda licença no Rio de Janeiro.

As três primeiras vão se unir com a TVS – Canal 11, para se tornarem SBT (Sistema Brasileiro de Televisão). A outra frequência no Rio, no canal 9, fica para a TV Record.

O surgimento do SBT

O SBT surge em 19 de agosto de 1981, com o lançamento da “TVSBT Canal 4 de São Paulo”. Nos anos seguintes, Silvio Santos investe em uma programação diversificada de entretenimento. Aos poucos, reúne os grandes apresentadores da televisão brasileira que estavam em outros canais, tais como Hebe Camargo e Flávio Cavalcanti.

Em 1989, na primeira eleição pós-ditadura, Silvio Santos chegou a se lançar como candidato à Presidência da República. No entanto, sua chapa pelo nanico PMB (Partido Municipalista Brasileiro), foi impugnada. O partido, criado em 1985, não fez as convenções exigidas pela Lei Eleitoral para chancelar a candidatura. Posteriormente, ele não buscou concorrer a outros cargos públicos.

No mesmo ano, vendeu sua participação na TV Record para o bispo Edir Macedo, líder da Igreja Universal do Reino de Deus.

Auge nos anos 1990

Entre o fim dos anos 1980 e nos 1990, o SBT entra em uma “fase de ouro”, com programas populares como “Sabadão”/”Sabadão Sertanejo” (1991-2002), “Domingo Legal” (1993-atualmente), “Passa ou Repassa” (1987-2000), “Topa Tudo por Dinheiro” (1991-2001) e popularescos como o “Aqui Agora” (1991-1997) e o “Documento Especial: Televisão Verdade” (1992-1995).

O “Programa Sílvio Santos” é a estrela da casa nos domingos, com quadros como “Qual é a Música” (1976-1991, 1999-2002), e “Show de Calouros” (1981-1996). Em vários momentos, o canal incomoda a TV Globo, batendo de frente com “Domingão do Faustão” e “Fantástico”.

Em 1996, Silvio inaugura o CDT (Centro de Televisão), às margens da rodovia Anhanguera, em São Paulo. O complexo passa a centralizar as operações de TV do canal, então divididas em cinco locais. A rede passa a contar com equipamentos de última geração e a qualidade dos programas têm, nessa época, salto notável.

O canal prossegue na vice-liderança de audiência pelos próximos 10 anos. No entanto, sofre com o avanço da TV Record a partir de 2005, quando o canal passa a tentar ser a maior rede de televisão do país.

Ano conturbado

Em 2001, Silvio viveu um ano conturbado e de extrema exposição pública. Foi homenageado pela escola de samba Tradição, no carnaval carioca. Em agosto, viveu o sequestro da filha Patrícia e, na sequência, o dele próprio, que só terminou com a presença do então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin.

Em 2010, outro revés. O empresário enfrentou um rombo bilionário nas contas do Banco PanAmericano, uma de suas empresas, que acabou tendo o controle vendido para o BTG. Para garantir um empréstimo, Silvio empenhou todos os seus bens, incluindo o SBT.

Se envolveu em polêmicas ao longo da carreira, desde o lobby junto aos generais da ditadura para conseguir as concessões dos canais de TV, até declarações discriminatórias nos últimos anos, em seu programa de auditório.

Silvio seguiu apresentando seu programa até 2022, quando “passou o bastão” para a filha Patrícia Abravanel.

Nota do SBT sobre a morte de Silvio Santos

Por meio das redes sociais, o SBT (Sistema Brasileiro de Televisão) publicou uma homenagem ao seu criador. Leia a íntegra.

Hoje o céu está alegre com a chegada do nosso amado Silvio Santos. Ele viveu 93 anos para levar felicidade e amor a todos os brasileiros. A família é muito grata ao Brasil pelos mais de 65 anos de convivência com muita alegria.

Para nós, o Senor Abravanel é ainda mais especial e somos muito felizes pelo presente que Deus nos deu e por todos os momentos maravilhosos que tivemos juntos. Aquele sorriso largo e voz tão familiar será para sempre lembrada com muita gratidão.

Descansa em Paz que vc sempre será eterno em nossos corações.