Ministro da Transparência critica Lava Jato e governo avalia se ele permanece no cargo

A crise em Brasília causou novos estragos para a imagem do governo interino de Michel Temer (PMDB). Após revelações de áudios gravados pelo ex-diretor da Transpetro, Sérgio Machado, hoje delator na Lava Jato, um novo ministro pode ter que deixar a Esplanada. Temer foi aconselhado a seguir o mesmo processo de Romero Jucá, que falou em “deter” a Operação e teve que deixar o governo.
O alvo da vez é Fabiano Silveira, ministro da Transparência, Fiscalização e Controle, órgão que substitui a CGU (Controladoria-Geral da União). Os áudios foram exibidos pelo programa “Fantástico“, da TV Globo. No áudio, após Machado criticar o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, Silveira disse: “Eles estão perdidos nessa questão [da Lava Jato]”.
Uma ala do governo Temer diz que a situação de Fabiano Silveira ficou insustentável não pelo que ele diz nas gravações feitas por Sérgio Machado, mas pelo diálogo em que o presidente do Senado, Renan Calheiros, cita o seu nome.
Nela, o senador comenta que Fabiano Silveira esteve com o procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Na conversa, eles teriam tratado das investigações envolvendo o presidente do Senado e, depois, feito o relato do encontro a Renan. Na avaliação de assessores de Temer, este tipo de encontro configura conflito de interesses, já que, na época, Fabiano Silveira era membro do CNJ (Conselho Nacional de Justiça). Nas palavras de um assessor, é como se um membro de uma instância do Judiciário estivesse operando contra a Justiça.

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Fabiano Silveira afirmou, em nota, que não interferiu na Lava Jato e que foi “de passagem” na residência do Senado, sem saber da presença de Sérgio Machado. Ele negou relação com Machado e disse que esteve “involuntariamente” e em “conversa informal”. “Chega a ser despropósito sugerir que o Ministério Público (…) possa sofrer qualquer tipo de interferência”. Renan Calheiros não respondeu. A defesa de Machado disse que ele não se pronunciará devido ao acordo de delação.
No entanto, até o momento, não há decisão sobre o futuro de Silveira. Dentro do governo, contudo, a reação de funcionários públicos ao áudio em que o ministro da Transparência também é citada como um motivos a mais a agravar sua situação na pasta e eleva a pressão interna para que ele deixe o cargo. Hoje, um grupo de servidores fez uma “higienização” no gabinete do ministro.
“A situação deste ministro é insustentável. Essas gravações mostram interferências indevidas. É uma postura completamente incompatível com o cargo de dirigente de um órgão de controle”, afirma Fábio Felix, auditor da CGU e um dos organizadores do protesto, em entrevista ao jornal O Globo.