Cotidiano

Manifestantes se mobilizam contra instalação da Mina Guaíba

Manifestantes se mobilizam contra instalação da Mina Guaíba

Uma reunião na manhã desta segunda (1º), na Igreja Nossa Senhora da Boa Viagem, na Ilha da Pintada, dá segmento à mobilização contra a implantação da Mina Guaíba entre Eldorado do Sul e Charqueadas. O encontro ocorre após audiência pública em Eldorado do Sul, realizada na última quinta-feira, quando mais de mil pessoas participaram

A audiência, na última semana, foi promovida pela Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), que debateu o licenciamento do projeto Mina Guaíba. A recomendação pela realização do evento foi dos Ministérios Públicos Estadual e Federal. Foi a segunda audiência pública realizada sobre o projeto.

A Copelmi Mineração tenta, desde 2014, a licença da Fepam para instalação de uma mina de carvão em Charqueadas e Eldorado do Sul, na Região Metropolitana.

O projeto de exploração carbonífera na área é criticado por ambientalistas por se localizar próximo ao Delta do Rio Jacuí, além de envolver desvios em cursos d’água e possíveis impactos na fauna e na flora.

A Copelmi afirma que a visão do carvão como elemento poluente é ultrapassada e que novas tecnologias garantem a segurança do empreendimento. O projeto não prevê formação de barragem, como as da Vale em Mariana e Brumadinho (MG).

O projeto, que ocupará quase cinco mil hectares e prevê a extração de 166 milhões de toneladas de carvão, faz parte do processo para concessão da licença prévia ambiental. Dois funcionários da Copelmi apresentaram o Estudo de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto Ambiental (EIA-Rima).

Os argumentos são que o empreendimento gerará empregos e trará crescimento à região. No entanto, participantes da audiência se manifestaram contra o projeto. Se aprovado, a Mina Guaíba será instalada em 2020 e começará a operar em 2023. O seu fechamento seria apenas em 2052.

Moradora do Distrito Parque Eldorado e analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama), Manuela Schuch disse que “carvão é energia do século passado” e que, ao contrário do que alega a Copelmi, não representa desenvolvimento, e sim retrocesso.

Ela apresentou alternativas de geração de emprego e renda à região, por meio de iniciativas para recuperação de áreas degradadas. “A gente tem projeto que prevê a construção de uma agrofloresta comunitária, produzindo alimentos saudáveis e preservando os recursos hídricos”, declarou.

A produção de alimentos orgânicos também estaria prejudicada. Segundo o assentado Valcir de Oliveira, dezenas de famílias de Eldorado do Sul, São Jerônimo, Guaíba e Charqueadas que fazem feiras ecológicas perderiam a certificação. Além disso, moradores do Assentamento Apolônio de Carvalho, em Eldorado do Sul, seriam expulsos da área para implantação do projeto, acabando com a terceira maior produção de arroz orgânico do país. Quem vive no loteamento Guaíba City, em Charqueadas, também seria atingido. No entanto, Oliveira alerta que toda a região será vítima devido à contaminação. “Não existem afetados indiretos, todos nós seremos afetados diretamente”, apontou.

O cacique kaingang Maurício Gonçalves complementou que, apesar da Copelmi ter apresentado “imagens bonitas”, o projeto não trará prosperidade à população. Ele denunciou que, assim como em outras situações, os indígenas não foram consultados, o que desrespeita artigos da Constituição Federal e da Organização Internacional do Trabalho (OIT). “Nós, por direito, temos que ser consultados. Vocês vão trazer lucro à empresa e a algumas pessoas, mas vão trazer uma catástrofe para quem fica sem lucro. Vocês vão matar as matas, os rios, a fauna e a flora, sem contar as vidas”, argumentou.