Leandro Boldrini se diz inocente e não responde questionamentos de promotor

O médico Leandro Boldrini foi o primeiro a ser interrogado no plenário da comarca de Três Passos. Ele é réu pelo assassinato e ocultação do cadáver do filho, Bernardo.

O terceiro dia de julgamento, em Três Passos, foi marcado pelo primeiro depoimento dos réus no processo. O médico Leandro Boldrini foi o primeiro a ser interrogado no plenário da comarca de Três Passos. Ele é réu pelo assassinato e ocultação do cadáver do filho, Bernardo Uglione Boldrini.

A quarta-feira começou com a oitiva das testemunhas. A primeira foi Luiz Omar, que fazia trabalhos de manutenção residencial para Leandro Boldrini. Ele defendeu o médico e afirmou que foi proibido pela ré Graciele Ugulini o proibiu de ter contato com Bernardo.

A segunda testemunha arrolada pela defesa dos réus foi Maria Lúcia Cremonese, amiga de Leandro. De forma rápida, ela declarou que Leandro tinha um pai “muito duro”. Depois do depoimento dela, a defesa abriu mão do depoimento de dois irmãos do acusado.

Ainda pela manhã, depôs Luiz Gabriel Costa Passos, perito grafotécnico contratado pela defesa de Leandro. Foi discutido, pela acusação e a defesa, a suposta assinatura de Leandro em um receituário para midazolam usado por Graciele e Edelvânia para comprar o medicamento. Houve controvérsia durante o depoimento entre a testemunha e os promotores.

Depoimento de Leandro

A oitiva de Leandro Boldrini durou cerca de três horas e trinta. No início ouviu a juíza Sucilene Engler lendo a peça de acusação. Depois foi questionado por ela sobre qual o controle que o médico tinha sobre o receituário. Leandro respondeu que os blocos ficavam no consultório, assim como o carimbo. Ele confirmou que além dele, a secretária e Graciele tinham acesso aos receituários. Boldrini também confirmou que fazia uso de midazolam para a sedar os pacientes durante os exame.

Na sequência, ele foi questionado pelo promotor Bruno Bonamente. O acusador focou o relacionamento do médico com Graciele. Boldrini, ao ser inquirido sobre como era a relação entre a madrasta e o enteado, se limitou a dizer que a relação era “de respeito”. Ele disse que o convívio poderia ser divida em três fases, sendo que houve animosidade na última delas.

Boldrini seguiu respondendo às perguntas do promotor. Se referindo diretamente aos jurados, disse que “Bernardo não era um estorvo”. Destacou que Bernardo tinha “a própria agenda” e que o filho decidia o que queria fazer. “Ele tinha personalidade muito forte. Ele queria uma coisa tinha que ser agora, ele insistia”, disse quando questionado sobre as ações de Bernardo.

Os questionamentos continuaram a serem realizados pela Silvia Inês Miron Jappe. Ela fez várias questões referentes ao dia a dia da vítima. Uma das questões foi porque amigos de Bernardo não dormiam na casa do menino. Leandro titubeou para responder, mas disse o filho é que escolhia ir nas casas dos colegas. Em vários momentos a promotora identificou vários pontos de aparente contradição do réu. E questionou Leandro sobre as divergências.

Defesa orienta Boldrini não responder perguntas

Houve animosidade entre a defesa e os promotores ainda quando Silva fazia as perguntas. Mas, durante as questões do Ederson Luciano Maia Vieira, Boldrini foi orientado a não mais responder mais. O promotor, de forma rígida, apontou vários pontos de contradição entre o que o médico dizia e o que consta nos autos e nas perícias. Vieira bateu de forma contundente que não haviam chamadas para Bernardo, como Leandro insistia.

Diante das incongruências, a defesa de Boldrini interveio. Eles orientaram o cliente a não responder mais nenhuma questão. O promotor, então, pediu para a juíza para que as questões fossem feitas, mesmo que sem as respostas do réu. Foi atendido e, depois de fazer várias questões, a defesa pediu novamente a palavra. Eles pediram a anulação do julgamento diante da decisão da feitura das perguntas sem a resposta de Leandro. Para os advogados, o silêncio dele poderia ser considerado uma forma de assumir a culpa.

Após a discussão, os defensores ganharam a palavra. Eles fizeram várias questões sobre como era a vida do réu na infância, na adolescência e como era a relação com Bernardo. Depois, perguntaram o que Leandro faria se fosse solto. “Quando me tirarem essas algemas vou em Santa Maria rezar e me ajoelhar aonde está sepultado o meu filho. Minha vida está um livro com duas páginas em branco. Não consegui iniciar nem terminar um luto. Estou soterrado naquela cadeia”. “Foram elas”, frisou o réu, após se declarar inocente.

Leandro Boldrini declarou que pretende retomar a vida na cidade de Três Passos. “Aqui me criei como médico e aqui vou continuar. O que fizeram com Bernardo não tem explicação. A vida, a gente reconstrói depois. O caminho vai ser trilhado de volta aqui em Três Passos. Porque eu não mandei matar meu filho.”

Cronograma

Os defensores dos outros três réus não quiseram realizar perguntas para Boldrini. A sessão foi suspensa por volta das 18h40 e deve ser retomada às 9h desta quinta-feira (14). Devem ser ouvidas as rés Graciele Ugulini e Edelvânia Wirganovicz. Na sequência, será tomado depoimento de Evandro Wirganovicz. Previsão é de que os trabalhos se estendam até meia noite. Já o resultado do julgamento deve ser proferido na sexta-feira de tarde.