Cotidiano

Insumos hospitalares registram aumentos acima de 1000%

A Federação dos Hospitais, Clínicas e Laboratórios do Estado de São Paulo (Fehoesp) divulgou levantamento no qual aponta a falta e o aumento abusivo de preços de materiais e medicamentos de uso dos serviços de saúde. De acordo com a entidade, foram identificados aumentos de mais de 1000% em insumos hospitalares.

Diante da situação, o presidente da Fehoesp, Yussif Ali Mere, encaminhou ofícios ao ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e às secretarias estadual e municipal de São Paulo no qual diz ser urgente atuar contra os abusos para que os serviços de saúde possam garantir o atendimento digno e de qualidade à população.

“Precisamos que as autoridades de saúde fiscalizem o que está ocorrendo e deem solução emergencial”, disse por meio de nota o presidente da federação. Segundo ele, o problema atinge, principalmente, serviços de saúde de pequeno e médio porte.

De acordo com o levantamento, estão em “falta crônica” álcool gel a 70%, máscaras e vários medicamentos, que inclusive não estão relacionados ao coronavírus.

O levantamento cita especificamente alguns produtos. Uma caixa com 50 unidades de máscara tripla com elástico, por exemplo, que custava R$ 4,50 em janeiro aumentou para R$ 35 no começo de março e, no dia 17, já estava a R$ 140.

Outro produto citado pela Fehoesp é a luva descartável de procedimento. Uma caixa com 200 pares custava R$ 14,70 em fevereiro. No início de março ela custava R$ 17,90 e, depois R$ 22,00. Já o cateter 22, que no começo do mês era vendido a R$ 0,65, atualmente é encontrado com preços na faixa de R$ 2,46 a unidade.

Uma ampola de 40mg de Omeprazol que custava R$ 5,72 no dia 10, dois dias depois passou a custar R$ 15,20. O Berotec de 20 ml, medicamento usado para inalação, custava, no dia 5, R$ 2,45. Agora ele está a R$ 13,25.

Fabricantes

Contatado pela Agência Brasil, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Artigos e Equipamentos Médicos, Odontológicos, Hospitalares e de Laboratórios (Abimo), Paulo Henrique Fraccaro, informou que a entidade, que representa os fabricantes desses produtos, não tem controle sobre os preços que são cobrados na ponta. “Além disso, as planilhas de custos de vários produtos estão sempre sob sigilo”, disse, ao relatar a dificuldade que se tem para identificar ocorrências de sobrepreço.

Fraccaro, no entanto, admite ser possível que “pessoas estejam cometendo excessos”, mas pondera que há vários fatores que podem ter resultado no aumento do preço final desses produtos.

“Não temos ideia do impacto da alta do dólar. Outra coisa: há fornecedores de matéria prima que, sabendo da demanda que estava por vir, também aumentaram os preços. Há também o fato de que muitas das matérias primas são importadas e não vêm de navio, e sim de avião. Outra coisa que pode resultar no aumento dos preços é a necessidade de pagarmos mais horas extras [para aumentar a produção]”, explicou Fraccaro.

Ele lembra que a demanda atual está acima da capacidade da produção. “E, na fase crítica, muitos países deixaram de exportar produtos que não temos por aqui, ou temos em uma quantidade menor do que a da demanda”.

“De fato é uma situação que não deixa nada a desejar ao que ocorre durante uma guerra. É muito difícil entender o que é abuso e o que é real”, completou.