O incêndio no Museu Nacional, na noite do último domingo (2), no Rio de Janeiro, chamou atenção para a situação de outros museus do país, como o Museu Paulista, conhecido como Museu do Ipiranga, localizado na capital paulista. O museu que conta a história da Independência do Brasil está fechado desde 2013, esperando por uma reforma que vai ampliar sua área em cinco mil metros quadros e fazer adaptações de segurança.
A previsão é que o prédio, de arquitetura neoclássica e inaugurado em 1892, deverá ser reaberto em 2022, ano do bicentenário da Independência do Brasil, segundo previsão da Universidade de São Paulo (USP), responsável pelo museu. O projeto executivo para restauro e modernização, que está sendo realizado pelo escritório H+F Arquitetos, custou R$ 5,6 milhões e deve ficar pronto até março do ano que vem. Após conclusão deste, a USP abrirá edital para realizar as obras, que devem custar cerca de R$ 100 milhões.
“O projeto [executivo] tem muitas qualidades, em especial, na perspectiva do que é necessário para essa nova etapa do museu, na perspectiva da preservação e do menor impacto no edifício que é tombado pelas três instâncias [nacional, estadual e municipal]. Estamos falando não só do restauro, mas do que estamos chamando de modernização, que é esse atendimento a todas as normas legais de acessibilidade e segurança – as quais um edifício construído no século XIX não atende mais”, disse Renata Motta, assessora da reitoria da USP.
Um dos motivos para o período de fechamento até agora, por cinco anos, é o fato de que havia 450 mil itens de acervo dentro do edifício. “É todo um conjunto de atividades muito grandes relativamente à retirada de todo esse acervo de dentro do edifício, a definição pra onde iria. Tem que ser um lugar específico, com segurança, adequação técnica”, acrescentou.
A ampliação em cerca de cinco mil metros quadrados, com a construção de um edifício no subsolo do Parque da Independência, é um dos destaques do projeto, de acordo com Pablo Hereñu, do escritório H+F Arquitetos. “A nova entrada do museu vai ser pela ampliação, não vai ser pelo edifício existente. Com isso, uma coisa interessante é que os fluxos de visitantes do museu estarão mais integrados com o parque do que estão hoje em dia”, disse.
Espaços novos de visitação dentro do prédio já existente também estão no projeto. “Existem alguns espaços hoje que não são visitáveis. Lá em cima, além de alguns locais novos de exposição, vai ser criado um mirante na cobertura da parte central mais alta o central do atual prédio, de onde vai ser possível ter uma visão panorâmica do parque e de toda a região”, contou Hereñu.
De acordo com o arquiteto, o projeto inclui o restauro e recuperação de tudo que estiver deteriorado e em mau estado de conservação, além da modernização do edifício, com novas instalações hidráulicas, elétricas, de informática e rede wifi. O arquiteto disse que não há nenhum problema grave no prédio do museu e que apenas são necessárias intervenções pontuais.
“Faz parte da modernização instalar elevadores, que atendam às demandas de acessibilidade universal, nova escada para atender às normas de circulação de emergência e sistema de combate a incêndio”, disse ele, acrescentando que as características originais do prédio serão mantidas.
Importância do museu
O presidente de Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, João Goldemberg, destaca que, apesar da crise econômica que o Brasil atravessa, há a necessidade de se priorizar os investimentos. “Nessas condições [de crise], você precisa estabelecer prioridades e obviamente segurança em um museu é uma prioridade de primeira grandeza”, avaliou, lembrando do incêndio ocorrido no Museu na Nacional do Rio de Janeiro.
“O que é lamentável no episódio do Rio [de Janeiro] é que claramente, mesmo com a falta de recursos, não foi dada prioridade para essas questões de segurança. É uma coisa duplamente lamentável: o museu ter pegado fogo e perdido o acervo, além de não terem se conscientizado que segurança é uma consideração de caráter fundamental. Além de lamentar a perda, tem que lamentar o fato de as autoridades não terem dado prioridade adequada”, disse.
Para o professor de antropologia da Unicamp, Antonio Augusto Arantes, que foi presidente do Iphan e do Condephaat, o Museu do Ipiranga é uma referência importante não só para a cidade de São Paulo, mas para o Brasil. “Porque está associado evidentemente à independência, então ele tem toda essa relação com fatos históricos que fazem parte da formação dos estudantes e dos brasileiros. É um museu que tem peças arqueológicas e etnológicas muito importantes”.
A demora para realização do projeto e das obras, segundo avaliação de Arantes, se deve tanto à complexidade da execução quanto à necessidade de recursos. “São obras muito complexas para execução, tem toda uma logística de retirada das peças e acondicionamento das peças, tudo muito lento porque tem que ser feito com muito cuidado. Tudo isso é feito com muita atenção, com muito cuidado e é muito caro”, disse.
“Nós chegamos em um outro ponto que eu acho importante é que é justamente que as verbas de que nós dispomos na área da cultura de um modo geral e da conservação do patrimônio em particular são bastante limitadas”, acrescentou.