O golpe militar perpetrado por militares na Turquia fracassou, segundo o presidente do país, Recep Erdogan. Segundo ele, os líderes da revolta foram presos, e a situação está “largamente sob controle”. Agências internacionais não tem um número preciso, mas se fala em cerca de 300 mortes por causa do golpe militar.
O golpe teria sido liderado pelo oficial Muharrem Kose, removido do Estado-Maior em março passado, mas Erdogan acusou o movimento Gülen, liderado pelo clérigo exilado nos Estados Unidos Fethullah Gülen, de estar por trás da revolta.
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Gülen, que nega qualquer envolvimento, lidera uma ampla organização que se diz laica, mas prega uma vertente moderada do Islamismo. Considerado um dos muçulmanos mais influentes no mundo, o clérigo era aliado do presidente, mas rompeu com ele em 2013, após o governo ter fechado instituições de ensino gülenistas.
Algumas horas depois da tentativa fracassada de golpe de Estado na Turquia, o órgão de controle de magistrados e procuradores removeu do cargo 2.745 juízes de todo o país. Segundo a agência estatal “Anadolu”, a decisão tem como objetivo adotar medidas disciplinares contra os suspeitos de ligação Gülen.
O Estado-Maior do Exército da Turquia havia anunciado no fim da noite nesta sexta-feira (15) a tomada do controle do país. “Para recuperar nossos direitos humanos, constitucionais e democráticos, estamos oficialmente assumindo o controle”, dizia uma declaração da ala das Forças Armadas responsável pela revolta.
Definindo a garantia do Estado de Direito como “uma prioridade”, os militares chegaram a decretar toque de recolher e lei marcial, suspendendo liberdades fundamentais, vetando manifestações, censurando opiniões e restringindo o direito de ir e vir.
Ignorando o toque de recolher, multidões contrárias e favoráveis ao golpe desceram às ruas em Ancara e Istambul, que registraram confrontos em várias regiões. Além disso, soldados e policiais – estes últimos fiéis a Erdogan – trocaram tiros. Na capital, 13 militares teriam sido detidos em uma tentativa de invasão ao palácio presidencial. Por outro lado, segundo a “CNN Turk”, 17 policiais morreram nos tiroteios.
Como começou
Por volta das 22h (horário local), tiros foram ouvidos em Ancara, capital do país, onde caças faziam voos rasantes e helicópteros militares tomavam os céus. Em seguida, foram fechadas as duas pontes sobre o estreito de Bósforo, em Istambul, no sentido Ásia-Europa – no caminho inverso, o tráfego seguiu fluindo.
Logo depois foi bloqueado o acesso às redes sociais, e militares invadiram a sede da TV estatal (agora já libertada). Além disso, tanques se dirigiram ao Aeroporto Internacional de Ataturk, em Istambul, o mais movimentado do país.
A sede do partido AKP, fundado por Erdogan e liderado por Yildirim, também foi invadida pelos militares. “Os autores [do golpe] pagarão o preço mais alto”, garantiu o premier. Nos últimos meses, o presidente Erdogan vinha sendo acusado de promover uma deriva autoritária no país, atingindo até alguns de seus antigos aliados.
Além disso, o país convive com a ameaça do terrorismo do Estado Islâmico e de grupos separatistas curdos. O partido AKP, fundado por Erdogan, é acusado de interferir na justiça para abafar casos de corrupção e de censurar a imprensa. Para isso, fechou jornais opositores e afastou juízes tidos como “adversários”.
Erdogan foi primeiro-ministro até 2014, mas ao fim de seu mandato foi eleito presidente, mantendo o poder em suas mãos, apesar de a Turquia ser parlamentarista. Nos últimos meses, vem tentando emplacar uma mudança para o regime presidencialista, o que lhe daria ainda mais força.
“Ainda sou presidente da Turquia e comandante-em-chefe. Resistam ao golpe de Estado nas ruas e nos aeroportos”, disse o mandatário, por meio de um vídeo transmitido via smartphone, após o anúncio do golpe. Durante toda a revolta seu paradeiro era desconhecido, mas logo após o anúncio da vitória governista ele aterrissou em Istambul.
Apesar da derrota dos golpistas, a crise na Turquia pode ter efeitos incalculáveis. O país faz fronteira com a Síria e integra a coalizão internacional contra o Estado Islâmico. Além disso, faz parte da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), principal aliança militar do planeta. Na política interna, Erdogan pode ganhar o argumento ideal para seguir seu processo de concentração de poder e de repressão a grupos adversários.