APÓS AS ENCHENTES

Fiocruz alerta para risco de doenças infecciosas e acidentes com animais peçonhentos no RS

Aumento de casos pode refletir em sobrecarga para o sistema de saúde, que foi comprometido pelas enchentes.

SINIMBU, RS, BRASIL, 03.05.2024 | Sinimbu, durante os trabalhos de limpeza. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini
SINIMBU, RS, BRASIL, 03.05.2024 | Sinimbu, durante os trabalhos de limpeza. Foto: Gustavo Mansur/ Palácio Piratini

Pesquisadores do Observatório de Clima e Saúde do Instituto de Comunicação e Informação em Saúde da Fiocruz alertam para o aumento do risco de doenças infecciosas e de acidentes com animais peçonhentos no Rio Grande do Sul. O alerta surge 40 dias depois das enchentes catastróficas no Estado, que causaram a morte de 176 pessoas e deixaram outras 39 desaparecidas.

Conforme nota técnica publicada pelo grupo, há risco da incidência de várias doenças. Entre elas as de trato respiratório (Covid-19, gripes e resfriados e tuberculose), gastrointestinais (hepatite A e diarreia infecciosa), transmitidas por vetores (principalmente a dengue) e leptospirose.

A aglomeração de pessoas nos abrigos, as obras de recuperação das cidades atingidas e o contato com água contaminada estão entre os motivos que podem causar o aumento da maioria dos problemas relacionados à saúde. Neste momento, em que as ruas estão cheias de lixo e entulho à espera de coleta, lesões físicas, como cortes, fraturas, contusões e até queimaduras, também se tornam frequentes, conforme o observatório.  

As doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares e transtornos mentais podem se descompensar devido à interrupção do acesso a medicamentos e cuidados médicos contínuos. 

Outro perigo deste momento pós-enchentes é o maior número de acidentes com animais peçonhentos, que podem aparecer dentro das casas. 

“Historicamente, as regiões dos Vales, incluindo a Região Metropolitana de Porto Alegre, a Depressão Central e Litoral Norte do Estado possuem maior incidência de acidentes com animais peçonhentos. Com a subida do nível das águas podem ocorrer mais acidentes com aranhas e serpentes. Assim como aumenta o risco da transmissão de doenças transmitidas por água contaminada e vetores, como leptospirose, diarreias e dengue”, explica o pesquisador do Observatório de Clima e Saúde, Diego Xavier.

“Essas doenças e agravos estão mais concentrados no verão. Mas podem se estender nos próximos meses devido às alterações do ambiente original causadas pelas chuvas intensas e enchentes”, aponta o especialista.

“A sobreposição desses riscos, nas mesmas áreas e no mesmo período, exige do sistema de saúde uma maior capacidade de realizar diagnósticos diferenciais e de identificar os casos mais graves, que precisarão de internação hospitalar ou tratamento especializado”, complementa Christovam Barcellos, também pesquisador do Observatório.

Por meio de nota técnica, os pesquisadores chamam a atenção para outra questão importante nesta etapa da tragédia: a saúde mental dos desabrigados, dos profissionais e dos voluntários que estão trabalhando na emergência. As perdas materiais e/ou de parentes e amigos podem causar um aumento de casos de transtorno de estresse pós-traumático, depressão e ansiedade.