Com a apresentação do violonista Turíbio Santos e o tema “Lembranças de Jacob do Bandolim” será aberta amanhã (20) a 16ª edição do Festival Vale do Café, na antiga estação ferroviária de Vassouras, sul do estado do Rio de Janeiro. O festival se estenderá até o próximo dia 29, com atrações em sete municípios da região.
Além do concerto de abertura, estão programadas outras apresentações gratuitas com repertório relacionado ao músico, na região. No dia 21, o conjunto Noites Cariocas comemora os 100 anos de Jacob do Bandolim no Centro Cultural Professor Antônio Pacheco Leão, em Rio das Flores, e a harpista Cristina Braga, vai tocar Mil Cordas Brasileiras, no Centro Cultural Maestro José Figueira, em Paty do Alferes.
Diretor artístico do festival, Turíbio Santos destacou à Agência Brasil que os cursos gratuitos oferecidos a jovens músicos de todo o país terão continuidade este ano. “Os cursos sempre foram muito bem frequentados, sempre lotados, com muita garotada. Teve anos que nós chegamos a ter quase 300 alunos”. Somente no ano passado, devido à crise econômica, o festival não ofereceu os cursos, em função também de dificuldade de locais onde eles seriam realizados.
Os cursos musicais que já chegaram a ter média de 12 instrumentos, vão oferecer este ano apenas cinco instrumentos (cavaquinho e bandolim; flauta; violão; violino), além de canto. A inscrição gratuita pode ser feita pelo site oficial.
Envolvimento da população
O diretor do festival afirmou que a principal característica do evento é o envolvimento da população local. “Isso é extremamente importante, a tal ponto que, há três ou quatro anos, eles começaram a fazer uma espécie de festival paralelo, que não é competitivo com o Festival Vale do Café. Ao contrário, dá apoio.” O festival organizado pela população da região se chamava “#Abrace Vassouras”. Na edição 2018, o título mudou para “#Mais Vassouras”.
Turíbio Santos acredita que a melhor coisa que pode ocorrer para o Festival Vale do Café é implantar a ideia da festa anual que congrega professores e alunos e o público que vem conhecer a região. O festival contribui para descentralizar do eixo das principais capitais brasileiras a realização desse tipo de evento, que começa a replicar pelo interior do país. “Pegaram esse entusiasmo”.
Escravos
Em Vassouras, por exemplo, segundo Turíbio, há fatores que envolvem a história da escravidão. “Quando acabaram com a escravidão, isso teve um choque terrível em Vassouras, porque, em São Paulo, os plantadores de café já tinham recolhido os grãos e aqui ainda não tinham feito. Com isso, muitos plantadores de café ficaram pobres, da noite para o dia”.
A região do Vale do Café, onde se produziu a maior quantidade do grão no Brasil, durante o século 19, acumulando uma verdadeira riqueza arquitetônica e histórica, recebe o Festival Vale do Café, que ocorre sempre em julho, desde 2003. Este ano, o maior evento da região reúne apresentações musicais em 12 fazendas históricas.
O homenageado desta edição, Jacob do Bandolim, terá seu repertório executado pelo duo Dani Spielmann e Sheila Zagury, na Fazenda São João da Prosperidade, em Barra do Piraí; e pelo Terno Carioca, formado por Luiz Flávio Alcofra, Pedro Aragão e Lena Verani, na Fazenda São Roque, em Vassouras. Em todas as fazendas que sediarão ‘shows’, haverá visita ao casarão com degustação de lanche colonial após o concerto.
Embora o evento tenha diminuído de tamanho em função da crise econômica, Turíbio Santos garantiu que “estamos firme e vamos fazer crescer (o festival) outra vez”. O evento chegou, em edições anteriores, a envolver 14 fazendas em vários municípios, que abrem ao público a oportunidade de conhecer parte da história do Brasil que esses locais representam.
Novidade
A produtora do evento, Roberta Kelab, disse à Agência Brasil que uma novidade da edição deste ano é que o festival foi incluído no programa Rio de Janeiro a Janeiro, dos governos federal, fluminense e municipal, que certifica eventos culturais, esportivos e corporativos com potencial de impacto socioeconômico para o estado. “É um dos projetos do interior que tem o selo Rio de Janeiro a Janeiro.
O programa tem estudo financeiro feito pela Fundação Getulio Vargas, que mostra que para cada R$ 1 investido no festival, retorna para a região cerca de R$ 5,09 sob a forma de serviços, impostos e de receita para o município, segundo Roberta. O evento representa a geração de cerca de 600 postos de trabalho.
Com relação às fazendas que abrigarão os shows nessa edição, Roberta Kelab salientou que “o grande barato é que muitas dessas fazendas não abrem para visitação normalmente e são verdadeiros tesouros de patrimônio; mas durante o festival, nosso acordo com as fazendas é que elas abram para uma visitação, mesmo que pequena, para todos os que compraram ingresso”.
Roberta ressaltou que parte da venda dos ingressos será revertida em gratuidade para estudantes e professores de escolas públicas e para pessoas de baixa renda nos concertos. “Eles são clientes como quaisquer outros, só que gratuitamente. Não existe limitação, não existe restrição de local, nem lugar determinado.”