Cotidiano

Exposições no MAM mostram trabalhos sobre imagens

O Museu de Arte Moderna do Rio (MAM) começou o mês abrindo espaços para os moradores e visitantes da cidade se envolvam com duas formas de tratamento de imagens. No térreo, o público pode transitar pela exposição Metaimagens, que apresenta 15 trabalh...

O Museu de Arte Moderna do Rio (MAM) começou o mês abrindo espaços para os moradores e visitantes da cidade se envolvam com duas formas de tratamento de imagens. No térreo, o público pode transitar pela exposição Metaimagens, que apresenta 15 trabalhos inéditos do artista, cineasta e fotógrafo Cesar Oiticica Filho. No segundo andar, o trabalho exposto convida as pessoas a entender um pouco mais da história do cinema.

O trabalho do fotógrafo é consequência de uma avaliação que vinha fazendo sobre o fim da fotografia com o começo da era digital. Oiticica disse que nessa época usou a pintura em papel fotográfico para desenvolver algo naquele tipo de mídia antes que ela desaparecesse. Depois seguiu as experiências com cromos se utilizando da diferença de cores, mas aí veio o inesperado.

O fotógrafo e cineasta Cesar Oiticica Filho na inauguração da sua exposição Metaimagens, sobre o fim e a transfornação da fotografia, no Museu de Arte Moderna.

O fotógrafo e cineasta Cesar Oiticica Filho na inauguração da sua exposição Metaimagens, sobre o fim e a transfornação da fotografia, no Museu de Arte Moderna. – Fernando Frazão/Agência Brasil

Durante um incêndio no Projeto Hélio Oiticica, no bairro do Jardim Botânico, na zona sul do Rio, do qual é curador e concentra seus projetos e do irmão destacado artista plástico, César perdeu parte do seu trabalho.

“Eu guardei tudo, porque achei que aquilo era uma coisa de que eu estava falando e aconteceu ao mesmo tempo no meu trabalho. Deu para sentir essa destruição assim meio na carne, mas ficou ali a ideia esperando essa oportunidade de montar esta obra, que é o núcleo Metaimagético”, revelou satisfeito em poder completar a sua experiência.

Na visão do artista, a analogia da exposição representa uma evolução. Segundo ele, quando a fotografia surge e é impressa, vira pintura ou gravura com pigmentos sobre papel, sobre plástico ou sobre tela. Se é feita no telefone, ao se transformar em projeção passa a ter relação com filmes e pode, ainda, virar objeto em 3D e em realidade virtual.

A exposição Metaimagens, do fotógrafo e cineasta Cesar Oiticica Filho, sobre o fim e a transformação da fotografia, é inaugurada no Museu de Arte Moderna.

A exposição Metaimagens, do fotógrafo e cineasta Cesar Oiticica Filho, sobre o fim e a transformação da fotografia, é inaugurada no Museu de Arte Moderna. – Fernando Frazão/Agência Brasil

Oiticica criticou o uso da fotografia para o culto ao corpo e o que as pessoas são capazes de fazer para conseguir uma imagem fictícia. “Então se é, totalmente, devorado pela imagem. É uma analogia que faço com a nossa sociedade. As pessoas estão se mutilando, estão morrendo, querendo botar bunda, puxar a cara. Já existem campanhas na Europa e nos Estados Unidos para as modelos aparecerem sem maquiagem porque tudo é photoshop”, disse.

O percurso na exposição termina com um convite para o visitante deitar, e com uma luz que provoca calor e vento frio possa sentir o próprio corpo. “É um mergulho interior nos sentidos”.

Cinema

Na outra exposição, o público poderá passear por uma história nem sempre disponível para o conhecimento. Na Galáxia (s) do Cinema – Mámetaimagensquinas, Engrenagens, Movimentos ou this strange little thing called love, com curadoria do conservador audiovisual e curador assistente da Cinemateca do MAM, Hernani Heffner, tem possibilidade de ver de perto equipamentos que mostram a evolução tecnológica da chamada sétima arte.

“O mundo digital veio de forma tão avassaladora que encerrou de todas as maneiras a era industrial. Se substituiu todas as máquinas mecânicas por máquinas eletroeletrônicas que chamamos de digitais. É uma oportunidade das pessoas perceberem que um determinado mundo se foi, se tornou arcaico. Tem duas gerações que não conheceram isso de maneira direta. De uma maneira geral o expectador comum nunca viu a maior parte desses equipamentos”, afirmou Heffner.

A exposição Galáxia (s) do Cinema – Máquinas, Engrenagens, Movimentos ou This strange little thing called love, resgata a história do cinema através de equipamentos e peças que mostram a evolução no Museu de Arte Moderna.

A exposição Galáxia (s) do Cinema – Máquinas, Engrenagens, Movimentos ou This strange little thing called love, resgata a história do cinema através de equipamentos e peças que mostram a evolução no Museu de Arte Moderna. – Fernando Frazão/Agência Brasil

Ele informou que a maior parte dos equipamentos da exposição pertence ao MAM, cuja coleção da sua Cinemateca é estimada em mais de duas mil peças, mas a mostra conta ainda com contribuições de outras instituições e empresas como a Cinédia, Movedoll e o CTAv, e de colecionadores como Márcio Melges e José Eduardo Zepka.

Cartazes

Além dos equipamentos, a mostra tem 16 cartazes de filmes que também fazem parte do acervo. O coordenador de pesquisa e documentação da Cinemateca do MAM, Fábio Vellozo, destacou que por meio dos cartazes é possível identificar a influência de um determinado período das artes plásticas.

“O cartaz polonês de O Cangaceiro não havia nenhum com aquele design no Brasil naquele momento. Só a partir da década de 1960 e mais fortemente a partir da década de 1980 se viu algo semelhante. Como tinha também alguns artistas que faziam cartazes de cinema, se consegue fazer um paralelo com momentos das artes plásticas”, disse.

A exposição Galáxia (s) do Cinema – Máquinas, Engrenagens, Movimentos ou This strange little thing called love, resgata a história do cinema através de equipamentos e peças que mostram a evolução no Museu de Arte Moderna.

A mostra Galáxia(s) do Cinema é dedicada ao pioneiro da preservação da tecnologia de cinema no Brasil. – Fernando Frazão/Agência Brasil

Vellozo ressaltou que a ideia que baseou a escolha dos cartazes para a exposição era estar em sintonia com o tema proposto por Hernani Heffner, de mostrar movimento ao mesmo tempo de chamar atenção para cartazistas famosos brasileiros e para filmes nem tão conhecidos.

“Todos fazem parte da Cinemateca do MAM, inclusive os poloneses de filmes brasileiros. O cartaz brasileiro do filme O Cangaceiro, que é arte do Caribé; o Brás Cubas, dirigido pelo Júlio Bressane, que é arte do Luciano Figueiredo, quer dizer artistas plásticos que não estavam acostumados a fazer cartazismo para cinema”, disse Vellozo.

“A gente misturou isso, e foi uma proposta ter o trabalho de pessoas que não estavam no mundo do cinema, o caso do Caribé e do Luciano, junto com designers como José Luiz Benício e do Ziraldo” completou”, acrescentou.

A mostra Galáxia(s) do Cinema é dedicada ao pioneiro da preservação da tecnologia de cinema no Brasil, o cineasta e pesquisador Jurandyr Noronha (1916-2015), e está incluída nas comemorações dos 70 anos do MAM Rio, com destaque para a relevância da Cinemateca do MAM, uma referência na América Latina.