Cotidiano

Etapa brasileira do Tour de France consagra bicampeões

Um percurso de 107 quilômetros, com largada e chegada em Campos do Jordão (SP) e elevações que, somadas, chegaram a cerca de 2.300 metros. Desafio que o mineiro Otávio Bulgarelli precisou de pouco mais de três horas para superar e levar pela segunda vez o título masculino da quinta edição do L’Étape Brasil, prova amadora de ciclismo de estrada que tem a chancela do Tour de France, maior circuito profissional da modalidade no mundo.

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Bulgarelli, que já foi ciclista profissional, concluiu a prova com só quatro milésimos de vantagem para o ítalo-brasileiro Ricardo Pichetta, também bicampeão do L’Étape.

“Eu acompanho de perto uma galera que vem para participar e melhorar o tempo. O treinamento também não é fácil para eles, não é só para mim, que venho para disputar nas primeiras colocações. Quem quer se desafiar, tem que vir treinadinho, porque não é uma prova simples”, afirmou após a competição, que aconteceu no domingo (29).

A disputa feminina conheceu a campeã — ou melhor, bicampeã — pouco depois da masculina. Vencedora em 2018, Nadine Gill cruzou a chegada após 3h15, alcançando também um dos 15 melhores tempos entre os cerca de 2.400 participantes da prova.

Alemã e campeã de ciclismo de estrada em seu país, Nadine trabalha há três anos no consulado germânico em São Paulo (SP).

“Foi muito legal, mas também muito duro. Vou ficar mais um ano no Brasil. Gosto muito daqui, então acho que voltarei (risos)”, disse a ciclista, que chegou mais de 15 minutos a frente da paranaense Taise Benato, segunda colocada.

Mascote é atração

Antes de Nadine concluir a prova, outro alemão roubava a cena em Campos do Jordão. Dieter Senft, ou simplesmente “Didi”, de 65 anos, é apaixonado por ciclismo. Ele administra um museu em seu país com mais de 120 modelos diferentes de bicicletas. Desde 1993, acompanha as disputas profissionais e amadoras do Tour de France fantasiado de diabo, com tridente e tudo, para incentivar os atletas.

“É minha primeira vez no Brasil. As pessoas aqui são muito animadas. Todos querendo tirar fotos, fico muito feliz com isso!”, contou o “Diabo do Tour”, como é conhecido.

 tour de france no Brasil

Desde 1993 o alemão Dieter Senft se fantasia de diabo para acompanhar a prova.  – Agência Ophelia/Fotop/Direitos reservados

Anônimos e famosos

O caráter amador da prova reuniu atletas com diferentes motivações. O paulista Fabiano Garcez esteve em todas as edições do L’Étape — que, antes de Campos do Jordão, que recebeu o evento pela segunda vez, foi disputado por três anos em Cunha (SP).

“Quando fiz o primeiro L’Étape, estava com mais de 100 quilos. Hoje, tenho 72 (quilos). Então, são cinco anos de evolução minha junto com o evento. A sensação de superar obstáculos, para quem pesou o que pesei, é de vitória”, comemorou Fabiano, que é gerente de suprimentos.

“O ciclismo é um esporte que cresce muito. Para a gente que teve experiência na modalidade, estar aqui é poder passar mais aprendizado para a galera que está no começo”, destacou o jornalista carioca Pedro Barbosa, ex-ciclista profissional.

Os 26 estados, além do Distrito Federal, estiveram representados no interior paulista. Acostumado ao calor de Boquim (SE), Jocimar Araújo desafiou a baixa temperatura de Campos do Jordão — na casa dos 12ºC no momento da largada, às 7h.

“Fiquei 10 dias aqui. A gente sofreu um pouco com o frio, mas já deu para dar uma adaptada boa. Eu amo esse esporte”, contou o ciclista sergipano, que é vendedor e mecânico.

Em meio aos “anônimos”, alguns amadores famosos em outros esportes, como Bernardinho, ex-técnico da seleção brasileira de vôlei, e Eric Granado, bicampeão nacional de Superbike.

“Estou acostumado a andar em alta velocidade, então gosto das curvas. Mas, o que conta [na prova] é a subida. Tem que fazer força. Aqui, as pernas é que são o motor, não há para onde correr”, explicou Granado.

Esforço Recompensado

Independentemente da colocação, todos os participantes receberam medalhas. Esgotado, mas feliz com o desempenho, o paulista Felipe Soares ostentou a dele com orgulho.

“A parte mais difícil foi o início. Todo muito está bem, com a perna fresca, mas você não sabe quem vai aguentar até o final. É como um jogo de resta um. E eu restei, ainda bem (risos)”, disse o professor de educação física.

Já para o comerciante Algemiro Fernandes Júnior, também paulista, tão importante quanto à medalha, foi receber o carinho da família após cruzar a linha de chegada.

“Se não fossem esposa e filhas, isso não teria um início, né? Somos uma equipe. É um prazer completar esse evento e poder abracá-las”, concluiu.

Resultados

Feminino

1º – Nadine Gill – 3h15min36

2º – Taise Benato – 3h34min28

3º – Cristiane Silva – 3h37min08

 

Masculino

1º – Otavio Bulgarelli – 3h07min02s20

2º – Ricardo Pichetta – 3h07min02s24

3º – Daniel Mendes – 3h07min02s47