Uma campanha de financiamento coletivo busca dar um passo decisivo para tirar do papel um projeto de extensão desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) voltado para a construção de moradias populares no Haiti. O objetivo é arrecadar recursos para iniciar as obras de uma pequena comunidade que abrigaria inicialmente 15 famílias da cidade de Duchity, situada em uma região afetada pelo terremoto de 2010 e pelo furacão Matthew, em 2016.
A iniciativa é do engenheiro Jac-Ssone Alerte, que nasceu em Duchity, a oeste da capital haitiana, Porto Príncipe, vive no Brasil desde 2008 e é formado na UFRJ. “É uma satisfação grande ver o projeto saindo do papel.” Jac-Ssone diz que, um jovem engenheiro como ele, tem que se preocupar e colaborar com sua comunidade. “Não sabemos os desafios de amanhã, mas o que está ao nosso alcance hoje é iniiar início a esse projeto. Transformar o local onde eu nasci e me sentir útil.”
A proposta de Jac-Ssone é aplicar, em regime de mutirão, a técnica solo-cimento, que vem sendo estudada há alguns anos por pesquisadores da UFRJ como uma alternativa a métodos convencionais empregados pela indústria da construção civil. A técnica é sustentável e de baixo custo.
Com duração de 60 dias, a campanha para arrecadar recursos tem duração de 60 dias, começou no dia 13 do mês passado e se encerra em 10 de fevereiro. A meta é levantar R$ 45 mil, total estimado para compra de uma máquina para fabricar tijolo solo-cimento e construção da primeira casa. Até , agora, porém, apenas 16% foram arrecadados – cerca de R$7 mil. A campanha é realizada na modalidade “tudo ou nada”, o que significa que, se a meta não for alcançada, o dinheiro será devolvido aos doadores.
Para Jac-Ssone, a iniciaitva pode ser exemplo para qualquer lugar do mundo. “Eu acredito no potencial de colaboração das pessoas. Se não conseguir a arrecadação, ainda não sei qual será o plano B”, afirma o engenheiro.
As doações são feitas pela internet, e os colaboradores poderão receber brindes como camisetas e chaveiros, além de ter o nome gravado em um tijolo da “parede dos doadores”, que será erguida na comunidade.
Os contribuintes ganharão ainda uma cópia digital do livro (Re)construindo um Sonho, que Jac-Ssone lançou no ano passado para apresentar suas ideias e contar sua história. Os recursos arrecadados com a venda dos livros impressos também estão destinados ao projeto.
Famílias desabrigadas
Em janeiro do ano passado, Jac-Ssone disse à Agência Brasil que o projeto de extensão prevê a construção da Village Marie no bairro de Don de L’Amitié, onde ele viveu. Segundoo Jac-Ssone, o nome da comunidade é uma homenagem à sua mãe. O terreno já foi adquirido e os beneficiários, selecionados com base em perfis socioeconômicos. São famílias desabrigadas em decorrência do furacão Matthew.
O plano urbanístico prevê ainda a construção de posto de saúde, escola e de uma área voltada para o comércio. Dessa forma, além das 15 famílias que serão assentadas, os demais moradores do bairro de Don de L’amitié serão beneficiados. Atualmente, eles sofrem com a carência de equipamentos públicos e com a inexistência de saneamento básico e de um sistema amplo de distribuição de energia, diz o engenheiro haitiano.
De acordo com Jac-Ssone, os imóveis serão seguros e resistentes a tremores e ventos fortes. A iniciativa tem ainda o objetifo de chamar a atenção para a necessidade de melhorar as políticas habitacionais no Haiti.
O engenheiro lembrou que o impacto das tragédias ambientais é otencializado pela frágil estrutura das edificações no país. O terremoto de 2010, que completa nove anos na próxima semana, atingiu 7 graus na escala Richter e causou a morte de cerca de 200 mil mortos. Já o furacão Matthew provocou mais de mil mortes em 2016.