Com o objetivo de unir escritores e amantes da poesia em diferentes países, teve início na tarde desta quinta-feira (5), no Rio de Janeiro, o 6º Encontro de Poetas da Língua Portuguesa. Até o final do mês, o evento irá passar ainda por Guiné-Bissau e Portugal e irá lançar a antologia comemorativa A Poesia na Rota dos Camões. A obra reúne a participação de 142 poetas.
“Estamos fomentando a leitura, trocando conhecimento entre os países, criando novos leitores e amantes de poesia, descobrindo novos talentos e publicando”, conta Mariza Sorriso, mentora e organizadora mundial do evento e vice-presidente da Academia Virtual dos Poetas da Língua Portuguesa. Segundo Mariza, a organização do evento já publicou os trabalhos de mais de 200 novos poetas, somadas as seis edições do encontro.
Ela explica que o poeta renascentista português Luís de Camões é sempre um dos homenageados. Além dele, serão destacadas neste ano as obras de mais quatro autores. Uma delas é a poetisa maranhense Maria Firmina dos Reis. Autora de narrativas associadas às causas abolicionistas, ela é apontada também como primeira romancista do Brasil. Outro homenageado desta edição é o poeta guineense Vasco Cabral. Serão ainda lembrados o centenário de nascimento das poetisas portuguesas Sophia de Mello Breyner Andresen e Amália Rodrigues.
“A finalidade do encontro é esse intercâmbio para trazer ao público as obras de poetas que a gente não conhece. Vasco Cabral, por exemplo, é um precursor na Guiné-Bissau e pouca gente conhece. Eu mesmo não conhecia até pouco tempo. O próprio Camões não é lido. Nós lemos Os Lusíadas. Mas não são lidos os sonetos que ele produziu separadamente”, pondera Mariza Sorriso.
A abertura do encontro ocorreu no Real Gabinete Português, no centro do Rio de Janeiro. Na ocasião, a escritora e pesquisadora de literatura comparada, Carmem Teresa Elias, ministrou uma palestra sobre a influência de Camões. Ela avalia que ter o autor português como referência não significa que se deve perseguir o seu estilo de escrita. Em sua visão, novos autores precisam buscar novos espaços desprezando o que já se tornou lugar-comum.
“Tem gente que acha que precisa escrever como Camões. E não precisa. Camões é um representante do Renascimento. Ninguém mais quer escrever como na época do Renascimento. Temos que encontrar o caminho do hoje, do agora e do aqui. Encontrar um novo rumo que verbalize a sensibilidade do homem moderno e expresse a identidade nacional, dando voz à linguagem e a cultura popular, também. É preciso questionar o lugar do indivíduo no mundo e na sociedade e avançar em reflexões existenciais. O gigante passou a ser o mundo artificial e tecnológico. Quem é o Admastor de hoje?”, questiona ela em referência ao episódio O Gigante Adamastor, que integra a obra Os Lusíadas.
Evento itinerante
No Rio de Janeiro, o encontro prossegue nesta sexta-feira e sábado, no auditório do Museu da República. A programação inclui palestras e apresentações poéticas e musicais. Todas as atividades são gratuitas e abertas ao público. O encontro desta edição continua entre os dias 18 e 21 de setembro em Bissau, capital de Guiné-Bissau. Depois, Lisboa sediará as atividades de 26 a 28 de setembro.