Cotidiano

Emprego na América Latina terá lenta recuperação após pandemia

A recuperação do mercado de trabalho na América Latina e no Caribe após a pandemia de covid-19 levará anos e exigirá ações dos governos. A conclusão consta em relatório conjunto divulgado hoje (10) pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal) e pela Organização Internacional do Trabalho (OIT). Apenas no segundo trimestre de 2020, a região fechou 47 milhões de postos de trabalho a mais que no mesmo período do ano passado.

Segundo o documento, mesmo se o Produto Interno Bruto (PIB, soma dos bens e dos serviços produzidos) da América Latina e do Caribe voltasse a crescer numa média de 3% por ano, a região atingiria apenas o nível do PIB de 2019 em 2023. Caso o PIB regional cresça 1,8% por ano, taxa média observada na última década, o PIB de 2019 só seria alcançado em 2025. Se a região crescer apenas 0,4% ao ano, nível observado desde 2014, o PIB de 2019 não seria atingido na próxima década.

Para contrapor-se à essa tendência, a Cepal e a OIT sugerem políticas ativas de estímulo às economias da região, acompanhada de medidas setoriais que promovam o desenvolvimento sustentável com emprego. Entre as ações recomendadas, estão a promoção de políticas ambientais que estimulem o emprego, de investimentos públicos intensivos em mão de obra e de políticas industriais e tecnológicas que construam capacidades produtivas nacionais e aumentem a competitividade.

O relatório também defende a expansão do crédito às micro, pequenas e médias empresas. Eventualmente, os governos poderiam subsidiar parte do crédito, permitindo que os empréstimos sejam oferecidos com prazos longos e juros baixos.

Populações vulneráveis

De acordo com a Cepal e a OIT, a contração econômica na América Latina e no Caribe foi a maior dos últimos 100 anos e deixou elevados custos econômicos, sociais e produtivos. Segundo o relatório, o grupo mais afetado foi daqueles que não podem realizar trabalho a distância. Esse contingente, apontou o documento, inclui principalmente as mulheres, os jovens e os imigrantes.

No caso das mulheres, o documento destacou que, além das dificuldades de arranjarem emprego, muitas tiveram de se retirar do mercado durante a pandemia para realizarem as tarefas domésticas e de cuidado. Os trabalhadores informais foram afetados pelas restrições de circulação e pela menor capacidade dos domicílios para contratarem trabalhadores. Em relação aos jovens, a queda na geração de empregos impactou negativamente as perspectivas de quem acaba de entrar no mercado de trabalho.

Sobre os setores mais afetados pela pandemia, o relatório destacou as atividades relacionadas ao comércio, à manufatura, à construção e aos serviços, principalmente os serviços de turismo e de entretenimento. Mais sujeitos a empregos com necessidade de proximidade física, os trabalhadores de menor qualificação também estão entre os mais impactados, assim como as micro e pequenas empresas, que dispõem de menos dinheiro em caixa para enfrentarem o fechamento temporário das atividades.

Números

Com a extinção de 47 milhões de empregos de abril a junho a mais do que no mesmo período do ano passado, a América Latina e o Caribe viu a taxa de desocupação aberta (em que as pessoas continuam procurando emprego) passar de 8,9% no segundo trimestre de 2019 para 11% no segundo trimestre deste ano.

A taxa efetiva de desemprego, no entanto, é maior. Segundo o relatório, grande parte das pessoas demitidas no segundo trimestre desistiu de procurar trabalho por falta de oportunidade ou por causa das restrições de mobilidade na fase mais aguda da pandemia.

Jovens

Em relação aos jovens de 15 a 24 anos, o relatório ressalta que a queda do emprego para as pessoas dessa faixa etária chegou a 7,8 pontos percentuais em relação ao segundo trimestre de 2019. Para a população com 25 anos ou mais, o recuo somou 7,3 pontos. A taxa de desocupação dos jovens no segundo trimestre subiu 3,4 pontos percentuais e 1,8 ponto entre os adultos.

Segundo a Cepal e a OIT, a crise traz efeitos mais duradouros para os jovens porque a menor probabilidade de conseguir emprego desestimula a procura, aumentando o número de jovens inativos que não procuram emprego nem estudam. Como resultado, a informalidade e a exclusão no mercado de trabalho aumentam no continente. O relatório recomenda programas de requalificação ou de reciclagem profissional para os jovens, com subsídios monetários para garantir a frequência e a participação nas aulas e uma etapa posterior de estágios em empresas.