O crescimento de 0,2% do Produto Interno Bruto (PIB, soma de todos os bens e serviços produzidos no país) no segundo trimestre deste ano, em comparação ao trimestre anterior, não foi surpresa para os economistas do Instituto de Pesquisa Econômica Ampliada (Ipea). “O valor, em si, não representa uma grande surpresa”, disse hoje (31) à Agência Brasil o técnico de Planejamento e Pesquisa do Ipea Leonardo de Carvalho.
A greve dos caminhoneiros afetou quantitativamente o resultado, de forma pontual, disse o economista. “Embora a atividade tenha recuperado em junho, você acaba afetando a média do trimestre”.
O Ipea já vinha notando também uma desaceleração da atividade em função de outros fatores. Entre eles, Leonardo Carvalho destacou o mercado de trabalho, que apesar de continuar apresentando melhora, ocorre em um ritmo ainda bastante lento. “Olhando a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad), você não vê muito emprego formal. A recuperação ainda é bastante lenta no mercado do trabalho e isso acaba atrasando uma recuperação mais forte da demanda”.
Outro fator que influenciou o resultado do PIB no segundo trimestre, segundo o economista, foi o cenário externo, em termos de ativos como o câmbio. A piora observada em alguns países, como Turquia e Argentina, na avaliação do economista, acabou aumentando um pouco a aversão ao risco para nações emergentes. “Eu diria que o cenário externo, que vinha sendo bastante benigno, piorou um pouquinho e também acaba ajudando a explicar o resultado da atividade econômica no Brasil”.
Ainda segundo o economista, as exportações líquidas contribuíram negativamente, tanto na comparação com ajuste quanto pelo mesmo trimestre. “A queda na safra de milho pode explicar o impacto negativo sobre as exportações”, disse.
O Ipea observou isso também nos números da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), com reversão da trajetória de exportações de alguns bens manufaturados, como automóveis, em virtude da crise na Argentina, mercado importante para o Brasil.
Eleições
Um terceiro elemento importante para explicar a conjuntura, de acordo com o pesquisador, é a incerteza eleitoral, que deve contribuir para reduzir, ou postergar um pouco, as decisões de investimento, de aquisição de bens duráveis que envolvam tomada de financiamento e crédito. Leonardo Carvalho prevê que o terceiro trimestre e o segundo semestre deste ano devem ser afetados pela questão das eleições e, por extensão, pela expectativa das reformas. “A gente tem que ver se o candidato vitorioso vai ser ou não comprometido com as reformas, porque isso afeta mercado, afeta câmbio”.
Serviços e comércio
Leonardo Carvalho destacou a contribuição do setor de serviços, da ordem de 0,8 ponto percentual, para o resultado do PIB do segundo trimestre. “É um resultado positivo porque o setor de serviços tem uma inércia maior, e tem um potencial de contribuição maior para a atividade”. O resultado poderia ter sido maior se o segmento transportes, com o número de caminhões rodando, não tivesse sido afetado pela greve dos caminhoneiros, disse o pesquisador.
No comércio, o consumo pelo lado da demanda apresentou crescimento modesto de 0,1%. Ocorreu também no período aumento da inflação, em especial alimentos e combustíveis. “De modo geral, o efeito da greve foi muito disseminado, com alguns setores sofrendo mais do que outros, como o caso da indústria. Mas (o setor de) serviços ajudou bastante a explicar esse 0,2% [do PIB] e o 1% na mesma base de comparação”, avaliou. Leonardo Carvalho disse que existe ainda um temor em relação a emprego e uma percepção de dificuldade em se conseguir emprego no país. Essas coisas tendem a “segurar” um pouco as decisões de consumo de bens duráveis e as decisões de crédito, apesar da flexibilização da taxa de juros básicos no país, a Selic.
Investimentos
Em relação à Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), que funciona como indicador de investimento, houve queda de 1,8% no segundo trimestre sobre o trimestre imediatamente anterior mas, em comparação a igual período de 2017, a taxa evoluiu 3,7%. Leonardo Carvalho disse que por mais que esse número seja positivo, o nível da taxa é baixo. “Em termos do número, a variação é positiva, mas não seria um patamar que a gente considera ideal para permitir um crescimento sustentável maior. A gente está muito aquém de um crescimento de produtividade que venha possibilitar um aumento do PIB potencial mais relevante”.
Leonardo Carvalho destacou ainda como ponto positivo o fato de o PIB vir crescendo abaixo da demanda doméstica, que envolve consumo e investimentos. “Esses componentes são mais tributáveis que a exportação e a importação. A gente está crescendo em componentes que geram mais imposto, e isso tem impacto positivo na arrecadação. No segundo trimestre aconteceu o mesmo padrão: a demanda doméstica cresceu mais que o PIB. Você tem uma demanda doméstica acima do PIB mas, quando coloca na conta a contribuição negativa das exportações líquidas, você chega nesse 1% de crescimento, tendo esse impacto positivo em arrecadação”.
Na segunda quinzena de setembro, o Ipea deve rever as projeções do PIB para o terceiro trimestre e para os anos fechados de 2018 e 2019.