D'Alessandro: a despedida do último 10

Quando se tem um relacionamento estável, sente-se o acomodamento comum dos namoros. Aquele costume de estar com a pessoa por perto e nem notar como seria sua vida sem ela. É assim no futebol, também. D’Alessandro vinha perdendo o fôlego e o nível reduziu nos últimos anos. Em partes, a torcida colorada reclamava, mas, pelo mesmo acomodamento, não se via sem ele. Porém, como todo o longo namoro – foram sete anos e meio de amor -, o momento da despedida chegou.
Com um histórico invejável a qualquer outro jogador no Estado nos últimos anos, Andrés D’Alessandro talvez seja o estrangeiro que mais se sentiu em casa no Rio Grande do Sul, quiçá no Brasil. Talvez até por isso ele tenha que ir mesmo ao River Plate. Afinal, o conforto de casa nos deixa levemente preguiçosos e o ritmo de trabalho diminui.

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Para uma torcida que já perdeu grandes ídolos e já os viu jogando no rival, não é nenhuma novidade. Mas, para que um novo ciclo se inicie, é necessário fechar o antigo. E, para isso, a saída de D’Ale é fundamental. Vai acabar a D’Aledependência e aquele papo de “quando ele voltar, vai melhorar”, que gira no clube de 2010 pra cá. O problema é a forma de negociação. Inter vai emprestá-lo por um ano. Voltaria ainda ao clube gaúcho ou será negociado novamente? Assim, a história do “quando ele voltar, melhora” vai continuar permeando as mesas de bar em Porto Alegre.
Em qualidade técnica, o Inter perde e perde muito. Dificilmente encontrará um jogador com tamanho empenho e técnica para a camisa 10 nos próximos anos. Resta agora a Vitório Píffero buscar no próprio elenco uma peça para repor o meio-campo de alguma forma, pois atletas que desempenham a função de D’Alessandro não existem mais. Não com a mesma habilidade, não com o mesmo drible, nem com a mesma vontade. No entanto, a idade chega, os problemas aparecem e isso poderia corroer a relação de amor entre torcida e jogador.
Nesta tarde, o futebol brasileiro perdeu o maior argentino de sua história. Um dia que ficará marcado por muito tempo. La Boba nunca será esquecida, assim como aquele golaço contra o Galo na Libertadores também não. Ou então daquele baixinho de canelas finas indignado com o zagueiro William na final da Copa do Brasil em 2009. Em 2012, herdou a braçadeira de capitão e, de lá pra cá, deixou de ser referência técnica para ser o norte dos jogadores colorados em campo.
Um dos maiores da história do Internacional, D’Alessandro deixa o clube com um histórico invejável. Foram 340 jogos. 27 Grenais, tendo marcado oito gols no clássico, 76 gols e 79 assistências. Durante a estadia em Porto Alegre, o argentino ergueu os três principais títulos da América: Libertadores, Copa Sul-Americana e Recopa Sul-Americana. Sendo importante nas três conquistas.
O último 10 se despede. Meu pai me contava histórias de Falcão. Vou poder contar aos meus filhos que vi D’Alessandro jogar. O jogador se vai, o ídolo fica. Poucos representaram tão bem o torcedor colorado em campo. Como todo o fim de namoro, o torcedor vai sofrer no começo. Vai sentir a falta da entrevista, da garra e da habilidade, mas é momento de superar isso e dar volta por cima. Para novos ídolos surgirem, outros devem sair. D’Alessandro, junto de Falcão e Fernandão, faz parte da TRINDADE COLORADA. E ninguém nunca vai tirar isso dele.