A Polícia Civil indiciou por sete crimes o corretor de imóveis que, conforme as investigações, matou, esquartejou e carbonizou Jonathan Rafael Maria, 31 anos. O motivo do homicídio doloso, segundo a delegada Elisa Souza, responsável pelas investigações na 6ª DPHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa), foi uma dívida de R$ 60 mil que Victor Batista Ferraz, também 31 anos, tinha com a vítima.
O caso chocou pela tamanha brutalidade com que Jonathan foi morto. O jovem havia desaparecido no dia 29 de dezembro do ano passado, quando foi encontrar o, até então, amigo Victor, que lhe devia uma quantia de R$ 60 mil. O dinheiro era mantido em uma aplicação em imóveis.
Conforme a delegada, o crime foi premeditado. Sem dinheiro para devolver os R$ 60 mil que pertenciam a Jonathan e que havia sacado sem autorização, Victor Batista Ferraz decidiu matar o amigo ao invés de achar um jeito de pagá-lo. Ele foi indiciado pelo crime de homicídio doloso com qualificadoras por motivo torpe, uso de emboscada, ocultação de cadáver e à traição, pois usou da confiança da vítima para levá-la até onde aconteceria o crime.
Além dos crimes relacionados ao homicídio, Victor foi indiciado por ameaçar a esposa da vítima quando ela foi buscar informações do companheiro e, ainda, por dirigir com direito suspenso. Se condenado a pena máxima em todos os crimes, pode pegar 30 anos de prisão.
A investigação
O trabalho da polícia para apurar o desaparecimento de Jonathan começou horas depois que ele foi convidado por Victor a ir até a casa de um tio na rua General Rondon, no bairro Tristeza. A esposa da vítima comunicou a polícia que o jovem havia ido encontrar o então amigo, por volta das 15h da tarde daquela sexta-feira 29 de dezembro e não havia mais dado notícias.
Ela e familiares começaram, incessantemente, uma campanha para localizar o jovem. Na busca, a companheira da vítima chegou a ir até a casa de Victor. Ele a convidou a entrar, mas ela não quis. A investigação aponta que, durante a conversa, ele foi evasivo e mentiu para a mulher de Jonathan, dizendo que a vítima havia pego o dinheiro na casa do acusado – e não na que ocorreu o encontro – e deixado o local em seu carro companhia de uma mulher.
A investigação aponta, ainda, que o crime foi uma emboscada armada pelo autor contra a vítima. Para isso, Victor usou uma casa que pertence a um tio que estava, junto com familiares, no Litoral Norte no dia 29 e voltaram à Porto Alegre somente na noite do dia 1° de janeiro.
Esse tio, ao entrar na casa, encontrou o imóvel alagado, com várias manchas de sangue, cheiro forte. Na casa ainda foi encontrado um pedaço de dedo. A Polícia Civil e o IGP (Instituto-Geral de Perícias) foram acionados para realizar uma inspeção no local.
Na mesma noite, dois homens que trabalhavam com tratores viram um homem, que depois se descobriu que era Victor, deixando sacos de lixo às margens da BR-290, em Eldorado do Sul. O acusado ainda pediu ajuda para desatolar o Volkswagen Up! para uma das testemunhas.
Pouco tempo depois que houve esse contato entre os trabalhadores e o suspeito, o Corpo de Bombeiros foi chamado para apagar as chamas em um matagal às margens da mesma rodovia. Ao combaterem o incêndio, os bombeiros encontraram uma sacola com partes de um cadáver humano parcialmente queimado.
A Polícia Civil de Eldorado do Sul foi acionada e, já no dia seguinte, a 6ª DPHPP, que investigava o desaparecimento de Jonathan tinha a suspeita que o corpo carbonizado era da vítima procurada. A peça-chave para a investigação foi o reconhecimento da esposa Jonathan de uma tatuagem em homenagem à mãe dele.
A perícia apontou que Jonathan foi morto com um tiro. A principal suspeita é que Victor tenha comprado munição para uma arma antiga que o tio tinha na residência, o que reforça a tese de crime premeditado. Também corrobora para a suspeita, o acusado chamar o amigo até essa casa e o fato de ele ter a chave e as senhas do alarme.
Crime tem apenas um autor, acredita polícia
A delegada Elisa Souza crê que apenas Victor praticou o crime. Em um primeiro momento se acreditava na participação de uma segunda pessoa na cena do homicídio, mas a tese quase que descartada após a investigação ouvir mais de 30 testemunhas.
Também corrobora para essa tese que o acusado foi sozinho deixar o carro da vítima, uma Hyundai Tucson, em uma oficina mecânica da avenida Coronel Massot, também na zona Sul. Imagens de câmeras de videomonitoramento também mostram que Victor foi sozinho até o posto de combustíveis comprar gasolina.
E, por fim, o acusado foi sozinho até Santa Cruz do Sul onde se hospedou em um hotel antes de se apresentar à polícia. O carro possivelmente usado no crime só foi encontrado no dia 5, dois dias depois que Victor se apresentou à polícia.