O ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, disse hoje (12) que o Brasil já tem casos de transmissão sustentada do coronavírus, ou seja, de pessoas que contraíram o Covid-19 sem ter ido a um país onde a doença está em situação de contágio grave. Ele afirmou, porém, que a situação no país ainda não pode ser considerada de pandemia, que é quando ocorre o contágio indiscriminado na sociedade sem que se consiga determinar a origem do vírus.
“Nós ainda estamos na véspera”, disse o ministro. “Essa doença vem como se fosse um vento, começa como uma brisa, vai ganhado força, ganhando força, até que chega num determinado momento que faz um movimento espiral, que é quando uma pessoa vai transmitindo para outra, transmitindo para outra, e essa espiral forma como se fosse um ciclone. Aí você faz um gráfico em que há um aumento muito rápido no número de casos.”
Segundo o ministro, o Covid-19 não apresenta grande letalidade individual e é “uma virose como outra qualquer”. Ele alertou que o Brasil passa atualmente por epidemias muito mais graves.
“Temos uma doença infecciosa no Brasil hoje chamada dengue. Tivemos milhares de casos e óbitos. Temos sarampo, que tem vacina”, disse Mandetta, reforçando o apelo para que as pessoas se vacinem. “Estamos vendo surto de sarampo com óbitos. A tuberculose é a doença infecciosa que mais mata no mundo e o Rio de Janeiro, infelizmente, há séculos, é uma das cidades com maior índice de tuberculose no mundo.”
Para Mandetta, a maior preocupação no momento é a sobrecarga no sistema de saúde. Ele lembrou, porém, que 80% dos infectados pelo Covid-19 não apresentam sintomas graves, sendo que 30% são assintomáticos, como crianças e adolescentes. “Vinte por cento vão ter algum grau de necessidade de cuidado”, disse o ministro, ressaltando que a morte tem ocorrido entre pessoas que apresentam outras doenças associadas. “São classicamente os que falecem por gripe todos os anos – no ano passado tivemos quase 550 mil internações por influenza e 9% de letalidade por gripe.”
Sobre os casos de transmissão local no Rio de Janeiro, anunciados nesta quinta-feira pela Secretaria de Estado de Saúde, o ministro disse que todo o sistema está sendo pautado por evidências científicas.
“Se isso é fato, você vai começar a ver espirais de casos. Daí você vai ficar mais atento se isso é num bairro, numa região, como as pessoas daquela região estão sendo atendidas. Hoje vamos fazer uma reunião com o secretário estadual e o municipal, para ver como o ministério pode ajudar, se a coisa está funcionando bem. Como eu fiz na semana passada em São Paulo, estou aqui hoje no Rio, amanhã volto a São Paulo, vou à Bahia, onde está acontecendo a mesma coisa, em Feira de Santana. Vamos nos desdobrar”, afirmou.
Críticas
Mandetta criticou medidas como a do governo do Distrito Federal (GDF), que suspendeu as aulas por cinco dias, o que ele considerou precipitado e não baseado em evidências científicas.
O ministro informou que o Distrito Federal tem um caso e comentou: “Um caso. Aí você suspende as aulas. Os alunos ficam em casa. Pai e mãe estão trabalhando, com quem ficam as crianças? Com os avós. Quem é o maior grupo de risco? Os idosos. Você sabe que as crianças são assintomáticas ou têm sintomas leves. Vamos proteger as crianças para não pegarem a gripe, vamos mandar para a casa dos avós. Depois de uma semana, ou 10 dias, vão começar os idosos a aparecer nas unidades de saúde em bloco, com dificuldades respiratórias.”
Mandetta afirmou também que a Organização Mundial da Saúde (OMS) demorou mais do que deveria para decretar a pandemia. “Nós falamos, há três semanas: ‘Declare pandemia, para facilitar a identificação.’ E insistiram com aquela fórmula: sai um avião de Portugal, que não tem problema. Mas quem está dentro do avião? Um cara que foi para a Itália, para a Espanha, para a Alemanha, para o Irã, para Doha, para o Qatar. O mundo não tem fronteiras!”, lembrou
Recursos
Sobre os recursos de R$ 5 bilhões que o Ministério da Saúde solicitou ao Congresso Nacional para custeio, o ministro explicou que, pelas novas regras do Orçamento da União, a liberação precisa ser feita pelo relator do Orçamento do ano anterior.
“É o deputado Domingos Neto [PSD-CE] que tem que autorizar. Já pedi por escrito e verbalmente. Se não o fizer, nós vamos fazer remanejamentos. Puxa a despesa que seria de dezembro, de novembro, de outubro, e vamos atender esse momento”, disse Mandetta, garantindo que o sistema de saúde terá os recursos de que precisar.
Ele informou que o ministério já fez a conta e que o valor necessário para que toda a rede se prepare para atende ao surto de coronavírus, com extensão de horário de atendimento, é de R$ 1 bilhão. A distribuição será feita de acordo com a população de cada cidade. O ministro destacou também que a rede particular precisa ter condições de atender aos pacientes com Covid-19.
Mandetta negou que o coronavírus seja problema do Sistema Único de Saúde (SUS), só do hospital público. “Não. Em Brasília, a paciente foi atendida em um hospital privado, foi feito o diagnóstico e falaram que não sabiam tratar da doença. Um hospital que não sabe tratar uma pneumonia por gripe tem que tirar o nome de hospital da porta, porque pode ser chamado de qualquer coisa, menos de hospital. Todos têm que se preparar de acordo com a sua clientela, estão todos superbem avisados.”
O ministro falou com a imprensa após participar de cerimônia com o prefeito do Rio de Janeiro, Marcelo Crivella, que marcou a adesão da primeira clínica da família da cidade ao programa Saúde na Hora, do ministério. Com isso, a Clínica da Família Helena Besserman Vianna, em Rio das Pedras, na zona oeste, passa a funcionar até as 22 horas.