Cotidiano

Cooperativas da Reforma Agrária já doaram mais de 2,3 mil toneladas de alimentos

Produtos de assentados do MST integram milhares de cestas básicas entregues para quem mais precisa

Mais de 2.300 toneladas de alimentos foram doados a quem mais precisa, por camponeses e camponesas Sem Terra, desde o início da pandemia da Covid-19. São alimentos frescos, colhidos direto das terras conquistadas na luta pela Reforma Agrária. Outros itens partilhados são industrializados pelas cooperativas do MST.

Os assentados e acampados seguem com a produção que mantém os empregos, a geração de renda e fortalece as ações de solidariedade. Com o selo “Produto da Reforma Agrária”, leite, bebida láctea, melado, açúcar, arroz e outros produtos beneficiados e embalados fizeram parte das milhares de cestas básicas entregues em todo o Brasil.

Na região Sul, somam quase 60 cooperativas e mais de 80 agroindústrias: 27 cooperativas e 23 agroindústrias no Rio Grande do Sul; 21 cooperativas e 51 agroindústrias no Paraná; e 9 cooperativas e 4 agroindústrias em Santa Catarina.

“As cooperativas têm um papel central nas doações, elas trazem a marca dos nossos processos de cooperação e sem esses processos nós não poderíamos disponibilizar produtos em grandes quantidades”, assinala Geronimo da Silva, dirigente estadual do MST, pelo Rio Grande do Sul.

Segundo ele, apesar da estiagem e da falta de apoio do governo do Estado aos pequenos produtores rurais, os assentados gaúchos não deixaram de ajudar os mais vulneráveis. Assentados e cooperativas da região Norte, por exemplo,  doaram aproximadamente seis toneladas de alimentos a famílias carentes. Todos os produtos distribuídos foram arrecadados de famílias assentadas, da Cooperativa Agropecuária e Laticínios Pontão (Cooperlat) e Cooperativa de Produção Agropecuária Cascata (Cooptar), o Instituto Educar.

Segundo Vanderlei de Sousa Oliveira, do setor de comercialização da Cooperlat, foram realizadas doações em três momentos distintos que atenderam mais de 300 famílias. Oliveira reforça ainda que os assentados seguem se organizando para novas doações. “É a nossa obrigação, atualmente, produzir e doar”, conclui.

O estado doou mais de 150 toneladas e 3.800 litros de leites. Os alimentos da Reforma Agrária da marca Terra Livre também estão chegando a famílias em situação de vulnerabilidade por meio de vendas para doações. Foram entregues 2.212 cestas, em um total de 7.350 toneladas.

Paraná

Outro exemplo do papel das cooperativas nas ações solidárias vem do Paraná, da Cooperativa de Comercialização e Reforma Agrária União Camponesa (Copran). Localizada em Arapongas, no assentamento Dorcelina Folador, a Copran tem alcance regional e abrange 28 municípios.

A maioria dos 1.164 sócios são agricultores e agricultoras da Reforma Agrária da região Centro-oeste e Norte do Estado. No laticínio da Cooperativa são processados 40 mil litros de leite por dia, coletados em 11 assentamentos e algumas comunidades de pequenos agricultores, que levam a marca Campo Vivo.

Dirlete Dellazeri, integrante da coordenação da cooperativa, conta que a logística, o transporte e o beneficiamento é que tornaram possível que milhares de litros de leite pudessem sair das comunidades rurais e chegar a famílias carentes, hospitais e entidades beneficentes.

“O produtor quer participar da doação, mas está longe da cidade […]. A gente colocou nos grupos e o pessoal já foi indicado que poderiam doar 50 litros, 100 litros, mas é um produto que precisa ser pasteurizado, não posso dar in natura pras pessoas. Aí é que a estrutura da cooperativa se mostra tão importante pra nós. É a estrutura coletiva a serviço da emancipação e da solidariedade”, frisa a agricultora.

Ela relata que a primeira grande doação de leite feita pelo conjunto de sócios e sócias da Copran começou no dia 17 de abril, data em que o Massacre de Eldorado dos Carajás completou 24 anos, quando foram arrecadados mais de 5 mil litros.

O alimento chegou ao Hospital Universitário (HU) – referência da região no tratamento de pacientes com a covid-19 -, ao Hospital de Câncer de Londrina, o Hospital Regional de Ivaiporã e os bairros de Arapongas.

Comboios de caminhões

As imagens dos comboios de caminhões chegando com as doações de alimentos da Reforma Agrária têm chamado a atenção de quem passa na rua ou que vê pelas redes sociais. “Fazer parte de uma cooperativa do MST é muito gratificante. Porque nos sentimos sujeitos da construção de um projeto de vida coletivo e popular”, finaliza Dirlete. Outras cooperativas e mais de 100 assentamentos e acampamentos do Paraná doaram 248 toneladas de alimentos desde o início da pandemia.

O alimento produzido pelos assentamentos e cooperativas vão para as periferias e são entregues de trabalhador para trabalhador. “Esse alimento é a chave da unidade entre o campo e cidade”, observa Geronimo da Silva.

Alimentos para escolas

Os camponeses também buscam garantir a entrega de alimentos às escolas pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). No Paraná, o Programa foi mantido e tem contribuído para garantir alimento para as famílias de crianças matriculadas nas escolas e também o escoamento da produção e a renda para pequenos agricultores. A Copran entrega alimentos pelo PNAE a 52 municípios, em mais de 500 escolas, com produtos como iogurte, bebida láctea, hortifruti, leite e produtos panificados. Além das entregas para as escolas, a Cooperativa atende 150 estabelecimentos privados de Londrina e Maringá, com diversos produtos.

Já no Rio Grande do Sul, de acordo com as lideranças do MST, o governo vem ignorando a importância do Programa e o seu dever de distribuir produtos da agricultura familiar aos estudantes da rede pública. Com a pandemia, muitos contratos com os produtores foram cancelados, reduzindo a renda desses trabalhadores a mais de 50 por cento, critica Leodimar Ferreira, da coordenação da Frente Estadual de Comercialização do MST/RS.

Ferreira afirma que o governador gaúcho utilizou um recurso de 23 milhões, destinado à aquisição de alimentos para as escolas e investiu todo o valor em um atacado, não cumprindo com o mínimo de 30% da compra, que seria atribuído aos produtos da agricultura familiar. Para Ferreira, disponibilizar o alimento produzido pelas famílias do campo às crianças a partir do PNAE, é defender o acesso ao alimento saudável. Por meio do PNAE e do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), as comunidades da Reforma Agrária do Estado atendiam mais de 600 escolas.

A comercialização da produção também acontece por meio de 74 feiras nas regiões Metropolitana, Serrana Missões Fronteira Oeste, Livramento, Centro, São Gabriel, Sul e Campanha. Em Santa Catarina, quatro cooperativas da Reforma Agrária continuam as entregas de alimentos a escolas durante a pandemia, por meio do Programa.