A Comissão Externa da Câmara dos Deputados que acompanha as investigações dos assassinatos da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Pedro Gomes, suspendeu hoje (4) a votação do pedido de transferência das investigações do crime para a alçada federal.
Por sugestão do presidente do colegiado, deputado Jean Wyllys, e do relator deputado Glauber Braga, ambos do PSOL do Rio de Janeiro, a autora do pedido da federalização do caso, deputada Maria do Rosário (PT-RS), decidiu retirar de pauta o pedido. Segundo Wyllys, durante uma reunião no fim de agosto, representantes do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) prometeram se envolver “de forma mais clara” com a apuração dos crimes e dar mais transparência às informações cuja divulgação não comprometa o andamento das investigações.
“Diante dos esclarecimentos prestados pelo Ministério Público durante nossa última reunião e do depoimento do delegado responsável pela investigação [Geniton Lages], gostaria de solicitar à deputada Maria do Rosário que retirássemos seu requerimento da pauta, deixando-o para a próxima reunião da comissão”, argumentou Wyllys após ler ofício do procurador-geral de Justiça do Rio de Janeiro, Eduardo Gussem.
No documento, Gussem afirma não se opor à atuação da Polícia Federal (PF) no caso, mas defende que o deslocamento de competência do inquérito instaurado pela Justiça do Rio de Janeiro para a alçada federal não seria oportuna.
“Seria uma suspensão para o avaliarmos a necessidade de transferência em um outro momento”, propôs Wyllys, acrescentado que, durante a reunião de agosto, as autoridades policiais fluminenses afirmaram ter condições e querer “chegar a resultados” concretos.
Ao acolher a sugestão, a deputada Maria do Rosário defendeu que os graves crimes relacionados à violação aos direitos humanos devem ser analisados, investigados e julgados na esfera federal, como prevê a Constituição Federal. “De toda forma, tenho plena confiança nesta comissão e nas autoridades estaduais e retiro o requerimento”, disse a deputada.
Mais cedo, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, repetiu que, se necessário, a Polícia Federal está “pronta” para assumir a investigação. “Lembrando que a PF é uma das melhores polícias investigativas do mundo e que nos sentimos responsáveis – como, acredito, todos os demais [órgãos] – por elucidar este crime e colocar na cadeia os que cometeram este bárbaro assassinato”.
Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes foram mortos a tiros na noite de 14 de março deste ano, em uma emboscada, quando a vereadora saia de um evento, no centro do Rio de Janeiro. A suspeita é de que Marielle, uma defensora dos direitos humanos, tenha sido morta em função de sua atividade política.