Cotidiano

Cartas sem resposta de um maestro é tema do Caminhos da Reportagem

Há 60 anos morria Heitor Villa-Lobos, um dos maiores nomes da música brasileira. Para o violonista Turíbio Santos, Villa-Lobos é único: “Acha que foi uma fadinha que jogou pó de pirlimpimpim? Não, foi Heitor Villa-Lobos que musicalizou nosso país”.

Passando por diversas vertentes musicais, Villa-Lobos foi e ainda é considerado por muitos o maior músico erudito brasileiro. Mas o maestro, que conquistou o Brasil e o mundo, foi além com sua obra. Zizi Possi é uma das que se renderam aos encantos do compositor ainda nos anos 1990, quando gravou Melodia Sentimental. Para a cantora, a obra dele é muito especial: “Eu acho que a Melodia Sentimental tem um jeitão popular. É uma música que fica na cabeça. Dá aquela impressão de que a gente sempre conheceu essa música”.

O compositor, maestro, violoncelista, pianista e violonista Villa-Lobos produziu cerca de mil obras ao longo de sua vida. Hoje, grande parte do trabalho está no museu que leva seu nome, no Rio de Janeiro, cidade onde nasceu e viveu grande parte de sua vida. “No nosso acervo temos manuscritos originais e também rascunhos que Villa-Lobos costumava chamar de monstros, que ele utilizava para construir as ideias musicais e realizar as obras”, destaca Claudia Castro, atual diretora do museu.

Localizado num casarão do século XIX, no espaço também estão alguns objetos raros, como o piano que ele usava para compor em sua residência. Marcelo Rodolpho, consultor musical do museu, ressalta que o “local acabou se tornando a grande referência no mundo inteiro da obra de Villa-Lobos”.

Filmes e fotografias se juntam à imensa coleção que estará disponível ao público, a partir do ano que vem, por meio digital. O trabalho, fruto de longa pesquisa que teve início ainda na década de 1990, será mostrado no programa Caminhos da Reportagem, que vai ao ar hoje (26), às 21h30, na TV Brasil.

No Museu Villa-Lobos também estão as primeiras partituras originais, manuscritas. Grande parte é de difícil leitura e nunca foi revisada. Uma parte delas está no acervo da Academia Brasileira de Música e, até pouco tempo, ainda eram desconhecidas do grande público, como as sinfonias. “Muitos de nós jamais tínhamos ouvido a maioria delas. Nunca tinham sido tocadas”, afirma Arthur Nestrovski, diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp). 

Com o objetivo de manter viva a obra de Villa-Lobos para as gerações atuais e futuras, o maestro Isaac Karabtchevsky, em parceria com a Osesp e a Academia Brasileira de Música iniciaram um minucioso trabalho de revisão e editoração dessas sinfonias. Um projeto que durou sete anos e que traz uma peculiaridade. Villa-Lobos compôs 12 sinfonias, mas a de número 05, que teria sido composta por ele nos anos 1940, nunca foi encontrada. Um sumiço que até hoje permanece como mistério. Para o maestro Isaac Karabtchevsky a sinfonia 05 nunca existiu: “Procuramos por toda parte, inclusive com nossos amigos mais íntimos e ligados pessoalmente a Villa-Lobos. Nunca aconteceu de termos acesso a qualquer manuscrito ou embrião do que poderia ter sido essa sinfonia”.