O secretário da Saúde do município de Canela, na Serra gaúcha, foi preso nesta terça-feira (9). A ação faz parte da 11ª fase da Operação Cáritas, iniciada em 2021, que investiga supostos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e coação para que funcionários públicos devolvessem seus salários, conhecido como “rachadinha”.
Foram cumpridos seis ordens judiciais de busca e apreensão e um mandado de prisão preventiva. O único detido é o secretário da Saúde, Leandro Gralha. Ele também era o interventor do Hospital de Canela. A decisão judicial que embasou a nova fase da Cáritas também ordenou a quebra de sigilos bancários.
Ao todo, 24 policiais civis participaram da ação. Detalhes da investigação não foram compartilhados. A Asdep (Associação dos Delegados de Polícia do RS) tem orientado os filiados a não concederem informações à imprensa. O motivo é a demora na negociação de reajuste salarial para os delegados.
Entenda a Operação Caritas
A Operação Caritas foi deflagrada em abril de 2021, com o objetivo de desarticular uma organização criminosa que atuava entre o Legislativo e o Executivo da cidade. Na ocasião, a polícia apreendeu material de construção que estaria sendo desviado da reforma do Hospital de Canela em um sítio de um ex-servidor da Prefeitura. O homem era dono de empreiteira que prestava serviços para o município. Os itens desviados estavam sendo usados em uma obra particular do suspeito.
Mas, ao ir puxando o novelo desse suposto desvio, os policiais encontraram indícios da criação de uma rede de corrupção utilizada para lavagem de dinheiro. A investigação demonstrou, pouco tempo depois, um esquema para fraudar as obras da Prefeitura e, assim, enriquecer os integrantes às custas da população. Segundo a investigação da época, os investigados faziam orçamentos de fachada para supostas reformas no hospital ou em outros prédios públicos. Outras duas empresas de fachada, apresentariam orçamentos com valores maiores, para perder o contrato.
Com os orçamentos fraudulentos, o grupo criminoso vencia os contratos com a Prefeitura de Canela. Entre os crimes praticados por essa rede estavam a falsificação de documentos, crimes em licitação, ocultação de bens, desvio de materiais de construção comprados para reforma do Hospital de Caridade, canalização de verbas públicas para fim diverso ao que deveria ser aplicado, orçamentos fraudulentos em licitações e a “rachadinha”.
Em julho de 2021, foram investigadas irregularidades na emissão de licenças ambientais pela Secretaria de Meio Ambiente de Canela. Foi descoberto que empresas pertencentes ou ligadas a servidores do alto escalão da Secretaria de Meio Ambiente e seus sócios eram indicadas a pessoas que buscavam licenciar grandes empreendimentos na cidade. Caso o morador ou empresário não contratasse esta empresa, tinha a obra inviabilizada ou atrasada. Também existiam suspeitas quanto a contratos firmados pela prefeitura de Canela com empresas ligadas aos servidores, nas quais houve dispensa de licitação.
Em novembro de 2021, o presidente da Câmara de Vereadores da cidade, Alberi Galvani Dias, o secretário de Obras do município Luís Cláudio da Silva (conhecido como Ratinho) e o interventor do Hospital de Caridade, Vilmar da Silva dos Santos, foram presos. Eles foram acusados de envolvimento no esquema, que envolvia a prática de “rachadinha” – a obrigatoriedade de um servidor devolver parte do salário para o “padrinho” político.
Em maio de 2022, o ex-secretário de Meio Ambiente de Canela, Jackson Müller, foi preso duas vezes. Na primeira, por causa da investigação que apurava irregularidades na emissão de licenças ambientais. Depois, em julho de 2022, ao tentar atrapalhar as investigações. O ex-secretário teria contratado criminosos para forjar o arrombamento da própria casa em São Leopoldo.
Na décima fase da Cáritas, em dezembro de 2022, foi preso Ângelo Sanches, ex-secretário do Turismo de Canela. Segundo as investigações, havia um esquema de corrupção dentro da pasta. que realizava contratações sem cumprir a exigência legal da prática de licitação. Através destes contratos, empresas envolvidas no esquema recebiam os valores pagos pela Prefeitura Municipal e repassavam parte da quantia a agentes e servidores públicos da própria Secretaria de Turismo.