Brasileiro preso na Espanha afirma que não queria se tornar terrorista

Unir-se ao Estado Islâmico não era, segundo o depoimento do goiano Kaique Luan Ribeiro Guimarães, o objetivo de sua viagem que acabou em uma prisão búlgara no dia 22 de dezembro. O brasileiro, de 18 anos — que falou pouco diante do juiz Santiago Pedraz, quando, na sexta-feira, foi extraditado e entregue às autoridades espanholas — disse que apenas acompanhava os amigos, Tafik Mauhouch, de 24 anos, e Mohammed El Gabbro, de 27.
Os dois, ambos marroquinos, declararam que a finalidade do trajeto, que acabaria em Istambul e não, segundo eles, na Síria, como se suspeita, era exclusivamente comercial. Queriam comprar roupas na cidade turca para revendê-las em Terrassa, a cidade catalã onde os três moram.
Kaique agora está em prisão provisória sem direito a fiança, acusado de pertencer a uma organização terrorista. Não há previsão de quando se realizará o julgamento. Ele ficará preso enquanto as investigações judiciais e policiais avançam. O tempo máximo é de dois anos prorrogáveis por outros dois. O brasileiro, que será julgado pela Audiência Nacional, pode ser sentenciado, caso seja condenado, a uma pena de seis a 12 anos de prisão.
Por enquanto, Kaique está a 40 quilômetros da capital espanhola, como um dos mais de mil internos do Centro Penitenciario Madri V, de Soto del Real, mas em qualquer momento pode ser transferido.
Antecedentes
Dos três, Maunouch é o único com antecedentes criminais por uma violação leve da lei. Natural de Formosa, a 282 quilômetros de Goiânia, Kaique vive na cidade de Terrassa, nos arredores de Barcelona, há dez anos com a família.
Seu futuro está nas mãos do juiz Santiago Pedraz, de 56 anos, com fama de honesto, coerente, trabalhador incansável e extremamente comprometido com os direitos individuais. De fato, sua postura garantista irrita seus detratores.
Causou polêmica, em 2005, ao arquivar o último processo contra José Ignacio de Juana Chaos por artigos, supostamente ameaçadores, escritos pelo terrorista e publicados no jornal basco “Gara”. Juana Chaos, na ocasião, já fora condenado por integrar o grupo separatista basco ETA e cumpria o 18º ano de uma pena de 3.129 anos, por 25 assassinatos.