Os aparelhos de ar-condicionado promovem uma sensação de bem-estar em dias de intenso calor. No entanto, o uso de equipamentos de refrigeração exige cuidados. O alto consumo de energia, associada à falta de manutenção adequada por levar a superaquecimentos, sobrecarga da rede elétrica e até um curto-circuito que leve a um incêndio.
O professor de Engenharia Elétrica Edson Watanabe explica que nos imóveis de construções antigas a preocupação maior era com a iluminação e a preparação para receber poucos aparelhos, bem diferente da atualidade. “Tem muitos lugares com microondas, air fryer, fogão de indução magnética. Quem vai aumentando estas cargas têm que tomar cuidado”, alertou.
O curto-circuito, que costuma ser vilão em alguns casos de incêndio, é uma ocorrência rara. Normalmente, quando ela acontece, os disjuntores costumam proteger o local desligando o sistema.
Aparelhos que ficam desligados muito tempo merecem cuidados quando entram novamente em uso. Isso se dá pelo grande consumo de energia, que chega a ser 10 a 20 vezes superior ao de um ventilador potente. “Em alguns casos os fios não estão preparados para isso. A tomada também é um risco por ficar muito tempo espetada no ponto elétrico sem o uso do aparelho. Isso pode resultar em mal contato se só for utilizado no ano seguinte”, aponta o especialista.
Ele também destaca outro risco: o da tomada com mau contato. “É muito ruim porque, em geral, não se nota [o problema]. Quando tem o mal contato, a tomada começa a esquentar, em alguns casos derrete e pega fogo. Isso é bastante comum. O bom é tirar a tomada quando não está usando o aparelho”, recomendou, acrescentando que é importante também manter a limpeza da tomada.
Além de uma manutenção anual feita por um profissional especialista em ar-condicionado, o professor lembra que é bom também manter o filtro do aparelho limpo, mas nesse caso é por uma questão de saúde por causa do acúmulo de poeira. “Fica lá juntando poeira o ano inteiro e quando liga vai tudo para o espaço e para cima da gente”.
O professor Watanabe lembrou que os aparelhos mais modernos, os inverter, têm um sistema diferente. “É um pouco mais caro, mas em geral não têm pico de partida, são mais suaves, controlados eletronicamente e mais eficientes. Teoricamente são melhores”.
Histórico
Grandes incêndios brasileiros começaram com problemas em máquinas de ar-condicionado. Veja alguns exemplos:
Em 1º de fevereiro de 1974, um curto-circuito em um aparelho de ar-condicionado deflagrou uma das mais tragédias urbanas da história brasileira: a do Edifício Joelma, em São Paulo. Ao todo, 187 pessoas morreram e mais de 300 ficaram feridas após o incêndio catastrófico, que se espalhou rapidamente devido ao interior do prédio com muito material inflamável.
Dois anos depois, em 6 de junho 1976, um outro incêndio – desta vez sem vítimas – teve início após um curto-circuito em ar-condicionado. Foi na sede da TV Globo, no Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. As atividades da emissora não foram suspensas porque foram ancoradas de São Paulo. A emissora do Rio só retomou atividades quase três meses depois, com a chegada de novos equipamentos importados dos Estados Unidos.
O incêndio que devastou o Museu Nacional em 2 de setembro de 2018 teve a mesma causa. O fogo teve início com a sobrecarga em um dos aparelhos de ar-condicionado que ficava próximo ao palco do auditório, no primeiro andar. O problema pode ter ocorrido por uma falha no disjuntor, que não desarmou, devido à sobrecarga a que estava exposto.
Pouco tempo depois, uma nova tragédia: o incêndio no centro de treinamento do Flamengo, o Ninho do Urubu. Dez adolescentes morreram e outros três feridos no dia 8 de fevereiro de 2019. Seis contêineres, que eram interligados serviam de dormitórios, foram atingidos pelo fogo, que teria começado em uma máquina de ar-condicionado.