Diante de produtores das principais cadeias do agronegócio brasileiro, reunidos na sexta edição do Fórum de Agricultura da América do Sul, em Curitiba, o analista da área ambiental do Banco Mundial, Paul Procee, alertou que o perfil dos investidores está mudando e defendeu que a região busque o maior investimento em tecnologias para elevar os resultados, sem que, para isso, seja necessário ampliar áreas de cultivo.
A principal preocupação da instituição, que mantém parceria com o governo brasileiro em diversos projetos, recai sobre o aumento de terras usadas para cultivos em expansão, como o da soja, em detrimento de áreas que deveriam ser preservadas, incluindo parte da região amazônica.
“Não vai mais haver investimentos sem uma proteção ambiental adequada. Temos que criar, como instituição, a capacidade de assegurar para os investidores que o que estamos fazendo é uma agricultura sustentável”, disse.
Crédito rural
À parte os investimentos privados, dentro do modelo tradicional o sistema de crédito rural, criado em 1965, ainda tem o governo como protagonista. Mesmo com cortes orçamentários, este ano foram reservados R$ 9,7 bilhões para custeio e investimento de produções em todas as escalas, com uma taxa de juros anual abaixo da oferecida pelo mercado.
O economista da Federação de Agricultura do Paraná (Faep) Pedro Loyola elencou os desafios desse sistema de financiamento para o produtor e lamentou, entre outros pontos, que os pequenos produtores ainda enfrentem tantas dificuldades em obter esses recursos, principalmente por não terem garantias. A situação dessas propriedades de menor escala ainda se agravam, segundo ele, pela falta de investimentos em assistência técnica no país, que poderia ajudar na busca de estratégias de melhoria produtiva.
Certo de que o Estado está “saindo à francesa” do sistema, Loyola disse que novas formas de financiamento como as cooperativas de crédito devem ganhar mais espaço em médio prazo. “É uma transição que depende muito da economia brasileira. Se estiver bem, não precisamos do crédito rural, mas, se continuarmos em crise, a gente precisa desse recurso porque competimos com outros países que têm custo menor de produção”, disse.
Cooperativas
A ampliação do sistema cooperativo dominou os primeiros debates do último dia do evento, que reúne representantes de 15 países na capital paranaense. Atualmente, segundo números da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), quase 7 mil cooperativas estão em atividade no país, com 3,2 milhões de cooperados e respondendo pela geração de 376 mil empregos.
Gabriela Prado, jornalista da organização, disse que, diante dos números globais do setor, o país ainda pode inflar ainda mais o modelo de negócios que tem como promessa o aumento da produtividade para os produtores rurais e melhorias estratégicas tanto na compra de insumos como nas estratégias de vendas dos produtos.
“Nosso modelo está em sintonia com muitas questões que a sociedade espera hoje, tendo como vertente a busca de um mundo mais justo e equilibrado”, disse. Segundo ela, o modelo das cooperativas busca valor compartilhado, incluindo crescimento econômico, social e preservação ambiental, tem gestão democrática com participação dos cooperados e se baseia em um capitalismo consciente.
Apesar dos números abarcados pelo sistema que incorpora 25% das famílias brasileiras, Gabriela disse que o cooperativismo ainda é desconhecido no país. Um diagnóstico realizado pela OCB mostrou que grande parte dos pesquisados confundem esse modelo com o de voluntariado ou associativismo.
“Temos que unificar o discurso e fazer barulho. Temos que mostrar que somos um modelo de negócio organizado”, defendeu. Segundo ela, a propagação sobre os benefícios do cooperativismo podem impulsionar a formulação de leis e políticas públicas mais adequadas ao setor.
* A repórter viajou a convite do Fórum de Agricultura da América do Sul