Além da Lava Jato: novo ministro terá voto crucial no tabuleiro do Supremo

Temas polêmicos estão à vista, como aborto em caso de Zika, assembleias autorizarem denúncias contra governadores e habeas corpus para presos da Lava Jato

O futuro da Lava Jato no STF preocupa muita gente, seja pelo bem ou pelo mal. Mas o décimo primeiro ministro do tribunal, a ser escolhido pelo presidente Michel Temer, terá grande influência em outras decisões de repercussão na corte. Quando o assunto é avanço da jurisprudência, temos hoje no Supremo quatro ministros mais conservadores, quatro mais progressistas e dois que são incógnitas, ou seja, muito provavelmente o substituto de Teori terá o voto de desempate no colegiado.

Um exemplo clássico é o do julgamento que decidiu que condenados em segunda instância já devem começar a cumprir a pena de prisão. Na ocasião, outubro de 2016, seis ministros – Cármen Lúcia, Roberto Barroso, Edson Fachin, Luiz Fux, Gilmar Mendes e Teori Zavascki – votaram nesse sentido e cinco – Celso de Mello, Marco Aurélio, Dias Tóffoli, Rosa Weber e Ricardo Lewandowski – foram contrários. Ou seja, voto de Teori no plenário foi decisivo.

Na suprema corte brasileira – diferente do que ocorre na americana – os magistrados não assumem declaradamente suas posições, mas como é possível perceber nesse julgamento, do povo de vista da doutrina jurídica, o ministro Celso de Mello é quem puxa a ala mais conservadora do tribunal. O decano é acompanhado pelos ministros Marco Aurélio, Ricardo Lewandowski e Rosa Weber. Todos normalmente avessos a mudanças na jurisprudência e apegados a precedentes da corte.

No sentido contrário está a turma mais progressista, que tem a frente à ministra Cármen Lúcia, presidente do Supremo, que – certa ou errada – busca atualizar jurisprudências do próprio STF de acordo com as mudanças na sociedade. Com a presidente, estão muitas vezes os ministros Luiz Fux, Roberto Barroso e Edson Fachin.

E tem também a ala incompreensível, ou seja, a depender do julgamento vota de forma mais progressista ou mais conservadora, como é o caso dos ministros Dias Tóffoli e Gilmar Mendes, conhecidos por decisões, declarações e pedidos de vistas controversos.

Com temas polêmicos à vista, como o do aborto em caso de Zika Vírus, o da necessidade das assembleias legislativas autorizarem denúncias contra governadores e habeas corpus contra presos da Lava Jato (como Eduardo Cunha), o futuro ministro terá papel crucial no tabuleiro do plenário do Supremo – o que aumenta ainda mais a relevância dessa escolha por parte do Presidente da República.

Sobre o autor: João Gabriel Alvarenga é graduando em jornalismo, editor do Últimas Brasil e colaborador do site Os Divergentes. Acompanha o Supremo Tribunal Federal desde 2015.