A demissão prematura de Aguirre coroa o 7 a 1

Aguirre teve um mês ruim e foi demitido

Poucas coisas retratam tão bem a atual situação futebol brasileiro quanto as atitudes dos dirigentes de Inter e Cruzeiro. O time mineiro demitiu o bicampeão brasileiro Marcelo Oliveira pela falta de resultados. Sim, o BICAMPEÃO BRASILEIRO, que estava sem os principais nomes das últimas temporadas (Ricardo Goulart e Everton Ribeiro) e com elenco muito mais fraco. O Inter fez a mesma coisa com o uruguaio Diego Aguirre. O treinador ficou por OITO MESES no Beira-Rio, seis destes com uma equipe competitiva e em amplo crescimento. Mas como os feudais dirigentes brasileiros vivem do resultado imediato, Aguirre teve UM MÊS ruim e foi demitido.
Desde que chegou, o uruguaio foi criticadíssimo pelo rodízio implantado na equipe, especialmente pela imprensa mais conservadora, que ainda vive os anos 90. O Inter demorou a engrenar na temporada, mas quando o trabalho do ex-técnico colorado começou a aparecer, despontou e foi um dos grandes expoentes no continente. Aquelas duas partidas contra o Atlético Mineiro foram gigantescas para o colorado e colocou-o como candidato ao título da Libertadores da América. O time estava encaixado e compactado. As críticas ao rodízio das peças do elenco iam desaparecendo e a confiança da torcida só aumentava. Então, chegou o segundo jogo contra o Indepediente Santa Fe, da Colômbia, pelas quartas-de-final do torneio continental.
Aquela partida foi um divisor de águas na passagem de Aguirre pelo Inter. O Inter venceu por 2 a 0 com o coração na ponta da chuteira e os pulmões quase destroçados. A preparação física colorada já dava indícios de problemas desde muito antes desta partida, mas foi o estopim para toda a má fase que o time passa atualmente. Eduardo Sasha e Nilmar saíram lesionados, D’Alessandro já estava jogando com um problema na mão e Diego Aguirre perderia Aránguiz e Géferson para a Copa América.

Foto: Alexandre Lops/Inter
Foto: Alexandre Lops/Inter

Aí começou derrocada do uruguaio no Inter. Com o time completamente desfalcado e com jogos difíceis pelo Brasileirão pela frente, a confiança da torcida e diretoria se foram. Derrotas para o Atlético-MG em casa e Sport fora abalaram o elenco e aquele colorado da Libertadores nunca mais voltou. Aránguiz nunca mais jogou a mesma coisa. Géferson e William se assustaram nas semifinais da competição. De lá pra cá, pouca coisa mudou. Aguirre não encontrava a equipe ideal e ainda a imprensa já batia nele novamente pelo rodízio desde a parada para a Copa América. Sendo que, na ocasião, foram SETE lesões e dois jogadores cedidos às suas seleções. Impossível manter o time, muito menos um padrão de jogo. Apenas UM MÊS derrubou Diego Aguirre, depois de seis meses onde o time tinha um ótimo padrão de jogo e uma boa formatação de equipe. O uruguaio levou o time até às semifinais de uma Libertadores, ganhou um Gauchão e deixa o Inter na 10ª posição no Brasileirão.
Aguirre deixou o Beira-Rio após 48 jogos, 24 vitórias, 15 empates e nove derrotas. 60% de aproveitamento. Índices razoavelmente altos para a demissão de um treinador. Ainda mais ás vésperas de um Grenal.
Foto: Alexandre Lops/Inter
Foto: Alexandre Lops/Inter

No começo do ano, Vitório Píffero trouxe cinco reforços caros. Leo, Nilton, Anderson, Vitinho e Lisandro Lopez. Nenhum vingou no time. Aguirre “encontrou” nas categorias de base jogadores para todas estas posições e ainda vai fazer render muito mais dinheiro que os contratados. O uruguaio foi demitido por não ganhar a Libertadores e pelos resultados negativos das últimas rodadas. Em apenas OITO MESES, Diego Aguirre foi demitido. Eu disse O-I-T-O. O trabalho do uruguaio não era para resultado imediato. Era visível que os frutos viriam a longo prazo, como deve ser no futebol. Não se tira mais coelhinho da cartola com “fato novo” em busca de um título em poucos meses. Isso é coisa dos anos 2000, quando Inter demitia GUTO FERREIRA pra trazer CELSO ROTH. Atualmente, coisa dos anos 2000 é coisa de dirigente amador.
Gostaria apenas de lembrar-lhes que, em 1986, Alex Ferguson chegou ao Manchester United e ganhou seu primeiro título pelo clube QUATRO anos depois. Sua história em Manchester todos já conhecem, campeão de todos os principais campeonatos que o clube inglês pôde disputar. Atualmente, no mesmo clube, Van Gaal não conseguiu nem a classificação para a Liga dos Campeões e segue firme e forte no cargo. Mas, no Brasil, é tudo diferente, né? Tem que vencer tudo o que for disputado, independente da dificuldade do torneio e dos problemas do elenco.
Então, vocês realmente têm certeza de que o problema do Inter era Diego Aguirre? Os dirigentes do futebol brasileiro acham. A filosofia do esporte aqui se perdeu e hoje somos completamente arcaicos e ultrapassados. Por essas e outras que 7 a 1 foi pouquíssimo.