Antes da pandemia de Covid-19, muitos países estavam observando constantes progressos no combate à tuberculose, com uma redução de 9% na incidência observada entre 2015 e 2019 e uma queda de 14% nas mortes pela doença no mesmo período.
No entanto, relatório da OMS (Organização Mundial da Saúde) divulgado em outubro revela que o acesso aos serviços para tuberculose continua a ser um desafio e que as metas globais de prevenção e tratamento provavelmente serão perdidas sem ações e investimentos urgentes.
Aproximadamente 1,4 milhão de pessoas morreram por doenças relacionadas à tuberculose em 2019. Das cerca de 10 milhões de pessoas que a desenvolveram naquele ano, cerca de 3 milhões não foram diagnosticados oficialmente.
De acordo com a OMS, a tuberculose está entre as dez maiores causas de morte no mundo. O Brasil integra a lista dos 30 países que concentram 90% de todos os registros da doença no mundo.
Segundo estimativas da organização, o país somou 96 mil novos casos em 2019, com 6.700 óbitos. Por tudo isso, 24 de março se tornou o Dia Mundial de Combate à Tuberculose.
“Os principais sintomas são tosse por mais de três semanas, sudorese e febrícula a partir das 18h, emagrecimento, dor torácica, cansaço fácil e, às vezes, escarro com sangue”, destaca a pneumologista Karla Cristina de Moraes Arantes Curado.
Em razão desses sintomas, a médica revela que a tuberculose pode ser confundida com outras doenças.
“Isso pode acontecer porque ela manifesta sintomas parecidos como tosse, febre e fadiga respiratória”, afirma. A especialista alerta ainda as pessoas que estão com coronavírus.
“Quem tem Covid pode sim pegar tuberculose, uma vez que a Covid é uma doença viral e que deixa o indivíduo mais debilitado e suscetível a outras infecções bacterianas”, explica.
Karla relembra que a tuberculose é também uma doença contagiosa. “É transmitida pela inalação de aerossóis no ar através de uma pessoa contaminada durante a fala, espirro ou tosse”, conta.
A tuberculose é causada pela bactéria Mycobacterium tuberculosis, também conhecida como bacilo de Koch. A identificação precoce do caso suspeito e o tratamento adequado ajudam a diminuir gradativamente a transmissão e, após 15 dias, os níveis de contaminação são praticamente insignificantes.
Apesar da melhora dos sintomas já nas primeiras semanas após início, a cura só é garantida ao final da terapia.
Vacina
Porém, se prevenir contra essa doença bacteriana é algo simples. “A prevenção é através da vacina BCG, aplicada em toda criança nascida no Brasil no primeiro mês de vida. Todos os indivíduos ao nascer devem tomar a BCG e ela deve ser dada até no máximo até os 5 anos. Não é preciso reforços. Além disso, é importante evitar ambientes mal ventilados, fechados e aglomerados”, reforça.
O bacilo é sensível à luz solar e a circulação de ar possibilita a dispersão das partículas infectantes. Por isso, ambientes ventilados e com luz natural direta diminuem o risco de transmissão.
Qualquer pessoa pode adoecer por tuberculose, embora alguns grupos populacionais, devido às suas condições de saúde e vida, possuem maior risco de adoecimento, como os indígenas, portadores do vírus HIV/AIDS, diabéticos, pessoas em situação de rua e os privados de liberdade.
A doença que antigamente era quase uma sentença de morte e demorava a ser tratada, atualmente é descomplicada e possui tratamento gratuito pelo SUS (Sistema Único de Saúde), durante um período de, em média, entre seis a nove meses.
“Por ser um tratamento de longa duração e os medicamentos às vezes causarem muitos sintomas de desconforto gastrointestinal, ele tem sido descontinuado com muita frequência”, lamenta Karla.
No Brasil, de cada dez pessoas que iniciam o tratamento, pelo menos uma abandona o uso dos medicamentos. “O perigo de se abandonar o tratamento antes do seu término seria o de levar a resistência do Mycobacterium às drogas causando um número aumentado de casos e disseminação da doença”, alerta a médica.
A OMS estima que o diagnóstico e o tratamento salvaram 60 milhões de pessoas da tuberculose de 2000 a 2019. .