Obituário

Papa emérito Bento XVI morre aos 95 anos

O quadro de saúde de Joseph Ratzinger começou a se agravar nos dias anteriores ao Natal, quando ele apresentou problemas respiratórios

Crédito: iStock

O papa emérito Bento XVI morreu na manhã deste sábado (31), aos 95 anos de idade, quase uma década após sua renúncia ao comando da Igreja Católica. “Com dor, informo que o papa emérito Bento XVI morreu hoje, às 9h34, no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano”, disse o diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni.

Seu corpo ficará exposto para a despedida dos fiéis a partir da manhã da próxima segunda-feira (2), enquanto o funeral foi marcado para quinta (5), às 9h30 (horário local), na Praça São Pedro, em cerimônia presidida pelo papa Francisco.

“Seguindo o desejo do papa emérito, o funeral ocorrerá sob o signo da simplicidade. Será solene, mas sóbrio. O pedido explícito do papa emérito é de que tudo tivesse a marca da simplicidade, seja no funeral, nos ritos ou nos gestos nesse tempo de dor”, afirmou Bruni.

O quadro de saúde de Joseph Ratzinger começou a se agravar nos dias anteriores ao Natal, quando ele apresentou problemas respiratórios, porém a situação se tornou pública apenas na última quarta (28), após o papa Francisco pedir “orações” dos fiéis pela saúde de seu antecessor.

Na tarde daquele mesmo dia, ao fim de uma missa no Mater Ecclesiae, o papa emérito recebeu a extrema-unção.

A vida de Bento XVI: da infância na Baviera à sua renúncia

Nascido na pequena cidade de Marktl am Inn, no estado alemão da Baviera, em 16 de abril de 1927, Ratzinger era filho de um policial e uma cozinheira e, na adolescência, foi membro da Juventude de Hitler, etapa obrigatória para jovens durante o regime nazista.

Após a queda da Alemanha na Segunda Guerra, foi prisioneiro dos aliados durante um breve tempo e, após conquistar a liberdade, enveredou pelos estudos religiosos, tornando-se padre e obtendo doutorado em teologia.

No ano de 1977, Ratzinger foi nomeado arcebispo de Munique e Freising pelo papa Paulo VI e, em junho do mesmo ano, tornou-se cardeal. Em 1981, já com a fama de teólogo respeitado, foi nomeado por João Paulo II como prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, importante dicastério da Cúria Romana herdeiro da Santa Inquisição.

De orientação conservadora, ele permaneceu no cargo até abril de 2005, quando venceu o conclave para escolher o sucessor de João Paulo II.

Em fevereiro de 2013, no entanto, renunciou ao trono de Pedro alegando não ter mais forças para seguir na função, abrindo caminho para a ascensão do progressista Francisco. Bento XVI foi o primeiro papa a renunciar em cerca de 600 anos.

Após sua abdicação, Ratzinger passou a viver de forma reclusa no Mosteiro Mater Ecclesiae, fazendo raras aparições públicas. Sua rotina era marcada por orações, leituras, correspondências, música e passeios nos Jardins Vaticanos.

Passagem pelo Brasil

O papa emérito Bento XVI teve uma única passagem pelo Brasil enquanto era o líder da Igreja Católica. Mas, a vinda ao país em 2007 arrastou multidões. O ponto alto da visita foram as celebrações na cidade paulista de Aparecida, onde também canonizou Frei Galvão no dia 11 de maio, mas houve uma rápida passagem por Guaratinguetá para visitar dependentes químicos cuidados por freiras.

Joseph Ratzinger ficou no Brasil entre 9 e 13 de maio daquele ano, participou da 5ª Conferência Geral do Episcopado da América Latina e do Caribe e também se reuniu com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, líderes católicos e de outras religiões.

Outro grande evento foi um encontro com milhares de jovens no estádio do Pacaembu em São Paulo. Em seus sermões e discursos, Bento XVI não poupou críticas sobre temas tabus na Igreja Católica como aborto, questões envolvendo pesquisas com embriões, divórcio, castidade e eutanásia, mas também condenou abertamente cristãos que criam “seitas” e se apegam ao fundamentalismo religioso – ou a qualquer sistema político ou social.

Mas, também deixou espaço para o carinho com os brasileiros, o país que tem mais católicos no mundo, dizendo que a nação tinha um “lugar especial” em seu coração e em suas orações. Ratzinger deveria ter vindo ao Brasil uma segunda vez, em 2013, para a Jornada Mundial da Juventude, no Rio de Janeiro. No entanto, fez a inesperada renúncia ao cargo poucos meses antes. O evento em solo brasileiro foi o primeiro compromisso internacional de seu sucessor, o papa Francisco.