Representantes do grupo Basic – bloco de países recém-industrializados formado por Brasil, África do Sul, Índia e China – cobraram hoje (12) avanço nas negociações para implementar o Acordo de Paris. Em entrevista coletiva, na 24ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, em Katowice, na Polônia, o grupo se comprometeu com os princípios do acordo climático, mas demonstrou preocupação com a questão do financiamento dos países desenvolvidos.
O bloco foi formado em 2009, durante a COP15 de Copenhagen, com o objetivo de fortalecer as discussões sobre o assunto nos países. Desde então, o grupo tem atuado para manter os preceitos dos acordos internacionais relacionados ao clima e para captar recursos que possibilitem a adoção de medidas de controle das emissões de carbono e do aquecimento global.
O ministro do Meio Ambiente, Edson Duarte, destacou que o Basic quer colaborar com as negociações na Polônia e que ainda há tempo para que os países saiam da conferência com resultado positivo.
O Brasil está na COP 24 para mostrar seu exemplo e sua contribuição e que está unido aos outros países, disse Duarte. Ele defendeu propostas comuns à agenda climática. O ministro ressaltou que, apesar de admitir flexibilização em alguns pontos, o grupo quer finalizar os trabalhos da conferência sem parcialidade ou retrocessos.
“Temos defendido a flexibilidade, mas sem retrocessos. Estamos e sempre estivemos com uma posição construtiva e sempre muito preocupados com o multilateralismo e daquilo que for decidido, que não venha a trazer prejuízos. De tal forma que este grupo, que tem uma importância naquilo vem fazendo, defende o cumprimento do acordo, mas sem retrocessos”, disse Duarte.
África do Sul
O representante da África do Sul, Derek Andre Hanekom, afirmou que o multilateralismo “está em perigo” e que a conferência representa a oportunidade de mostrar a importância da ação conjunta. Hanekom ressaltou que é preciso encontrar equilíbrio entre as medidas de mitigação e adaptação dos efeitos das mudanças climáticas e considerar as diferenças de capacidade e habilidade entre as nações para atingir as metas do Acordo de Paris.
O acordo estabelece que as nações devem se esforçar para manter o aumento da temperatura global em até 1,5º C para evitar o agravamento dos efeitos das mudanças climáticas, principalmente em países mais vulneráveis.
O ministro sul-africano destascou a necessidade de financiamento para que seja possível adotar as práticas de combate às mudanças, sob o risco de esvaziar o acordo. “Se não trabalharmos juntos para atingir este objetivo, estamos condenados ao fracasso.”
Acordo de Paris
O Acordo de Paris prevê que os países desenvolvidos devem investir anualmente pelo menos US$ 100 bilhões até 2020. A menos de dois anos do prazo final, o valor ainda não foi atingido e não alcança US$ 1 bilhão por ano, segundo o ministro sul-africano.
“Depois do Acordo de Paris, não deveríamos estar falando em retrocesso, mas em levá-lo adiante. Infelizmente, a situação não melhorou e tem piorado nos últimos anos. E alguns dos compromissos, por exemplo, o financiamento ainda não foi alcançado, e neste estágio não estamos no caminho certo”, acrescentou Hanekom..
O ministro da área ambiental da China, Xie Zhenhua, afirmou que está otimista, apesar de alguns países desenvolvidos estarem demonstrando que não querem a continuidade do Acordo de Paris. O negociador chinês reiterou que é possível ter um resultado bem-sucedido se os princípios do acordo firmado em 2015 não forem descumpridos.
“Depois de tudo o que avançamos, só podemos ir adiante e não voltar atrás. Financiamento é muito importante, é uma das questões mais preocupantes, mas vamos fazer nosso melhor. Temos que agir, somente agindo podemos salvar a humanidade”, declarou.
Até a próxima sexta-feira, mais de 190 nações que integram a convenção quadro das Nações Unidas para o clima devem finalizar um livro de regras que contém um plano de ação para colcoar em prática as metas do Acordo de Paris. Participam da Conferência mais de 30 mil pessoas e delegados de vários países.
*Repórter participa da COP 24 a convite da United Nations Foundation