Um “consórcio” entre facções criminosas para o tráfico de drogas foi desarticulado pela Polícia Civil do Rio Grande do Sul nesta segunda-feira (12). Os criminosos também são investigados por lavagem de dinheiro com a compra de bens, carros e imóveis a partir da venda dos entorpecentes. Até as 10h da manhã, 14 investigados haviam sido presos. Também houve apreensão de cerca de R$ 300 mil em esmeraldas, de R$ 7 mil em espécie, e de quatro veículos de luxo.
As investigações da “Operação Consortium” são da 3ª Delegacia de Investigações do Narcotráfico e da Delegacia de Repressão à Lavagem de Dinheiro do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico. A ação conta com apoio da SEOPI (Secretaria de Operações Integradas), do Ministério da Justiça e Segurança Pública; de outros departamentos da Polícia Civil do RS, da Brigada Militar, da Susepe (Superintendência dos Serviços Penitenciários), além das polícias civis de Santa Catarina e Paraná.
São cumpridas 375 ordens judiciais contra os investigados nas cidades de Porto Alegre, Gravataí, Cachoeirinha, Esteio, Estância Velha, Novo Hamburgo, Tramandaí, Osório, Charqueadas, Viamão, Canoas, Soledade, Pelotas, Passo Fundo e Cruz Alta, além dos estados de Santa Catarina e do Paraná. A Justiça deferiu quebras de sigilo bancárias, fiscais, financeiras, telemáticas, além da extração de dados telefônicos.
Foram atendidos pelo judiciário pedidos de prisão temporária, de prisão preventiva, além do bloqueio de contas bancárias e valores mobiliários, da indisponibilidades de imóveis,o arresto de veículos – inclusive de carros de luxo – e apreensão de valores em espécie. Estão sendo sequestrados ou tornados indisponíveis imóveis, veículos, contas bancárias, ativos na bolsa de valores e dinheiro em espécie, que podem chegar a R$ 5 milhões de reais.
Segundo o delegado Adriano Nonnenmacher, essa investigação demonstra que o narcotráfico está se utilizando de vários segmentos da sociedade. “Há recrutamento de empresários, pessoas sem antecedentes, agindo com discrição, criando uma rede complexa de lavagem de capitais”, destaca. Para o delegado Gabriel Borges, o trabalho integrado entre as delegacias do Denarc possibilitou, ao mesmo tempo, desmantelar o esquema de transporte de drogas e lavagem de dinheiro dessa organização criminosa.
“Esta é mais uma ação direcionada a grandes operadores de facção sediada na grande Porto Alegre, com abrangência interestadual, responsáveis pela compra e distribuição em larga escala de drogas no Estado”, apontou o diretor de Investigações do Denarc, delegado Alencar Carraro.
Como funcionava o esquema de tráfico e lavagem de dinheiro
Conforme a apuração policial, a organização criminosa tem, ao menos, dois núcleos que, juntos, movimentaram cerca de 104 milhões de reais. Ao todo, 93 pessoas foram identificadas como integrantes da organização criminosa.
Todos esses valores investigados eram oriundos do dinheiro obtido com o tráfico de drogas. O grupo criminoso desarticulado é o responsável pelo maior esquema logístico de distribuição de maconha do Rio Grande do Sul, transportando de 2 a 3 toneladas da droga por quinzena. Os entorpecentes vinham de países produtores, especialmente o Paraguai, para a região metropolitana de Porto Alegre, onde eram distribuídos aos compradores que participavam de uma espécie de “consórcio”, daí o nome da operação.
Os quadrilheiros atuavam em várias cidades do Rio Grande do Sul usando um sistema de venda “por atacado” de drogas, trazendo os entorpecentes do Paraguai. Para isso, tinham conexões também em Santa Catarina e Paraná para a parte de logística e de lavagem de capitais. Durante as investigações, os policiais conseguiram identificar a lavagem de dinheiro obtido com o tráfico. Os dados foram obtidos a partir de meses de análises bancárias, financeiras, fiscais, telemáticas, extração de dados telefônicos e diligências externas.
O outro núcleo investigado é financeiro, que fazia uma série de ações para impedir a identificação da origem do dinheiro. Para isso, os criminosos usavam técnicas de fracionamento de grandes quantidades de dinheiro em pequenas quantias. Essa pulverização de capitais usava um esquema que contava com gerentes financeiros e “laranjas”, pessoas que emprestavam o nome ou contas bancárias para a movimentação de dinheiro da organização criminosa.
“Laranjas” pagavam traficantes e dissimulavam origem de carros de luxo
A Polícia Civil aponta que os traficantes utilizavam cheques para pagamentos e obtinham “descontos” com outro operador financeiro de vulto da quadrilha, um empresário identificado também na Operação Erga Omnes, e que está atualmente preso. Os pagamentos a esse indivíduos eram feitos por laranjas dos traficantes, bem como em alguns casos diretamente por eles.
Uma das formas de dissimular a origem do dinheiro ilícito era usar o nome dos “laranjas” para mascarar a propriedade real de veículos de luxo. Por exemplo, um integrante da quadrilha usava um Porsche registrado no nome de terceiro.
Segundo a Polícia Civil, um alvo – gaúcho, mas morador de Santa Catarina e recentemente preso – teve em sua posse aproximadamente 1,8 milhões de reais destes carros, usando técnicas para enganar o sistema bancário e fazer pagamentos aos demais alvos. Ele é suspeito de ser o mediador com os “atacadistas”.
Mensagens interceptadas pela Polícia Civil mostram um dos líderes “ensinando” outros comparsas a como lavar dinheiro. A investigação comprovou ainda a alta especialização da quadrilha, pois os criminosos usavam pessoas sem antecedentes, tais como comerciantes, empresários, além de parentes próximos.
Os criminosos usavam empresas reais e algumas de fachada para dissimular o dinheiro do tráfico. Eles também praticavam mescla de receitas entre valores de origem lícita e ilícitos, gerando confusão patrimonial com a finalidade de ocultação da origem criminosa. Além disso, dissimulavam nos contratos sociais alguns funcionários como sócios, para o empresário e operador financeiro também utilizar a conta bancária destes para a lavagem dos capitais.
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