A língua presa, também chamada cientificamente de anquiloglossia, é uma condição que atinge de 2,8% a 10,7% dos bebês, segundo estudos internacionais da área médica.
Considerada uma anomalia congênita, ela ocorre quando o freio ou frênulo lingual, que é a membrana embaixo da língua responsável por prender o órgão na boca, é menor que o normal ou posicionada muito próximo da ponta da língua.
No Brasil, desde 2014, vigora a Lei nº 13.002 que tornou obrigatória a realização do Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua, também conhecido como “teste da linguinha”, com o objetivo de identificar precocemente o problema em recém-nascidos.
De acordo com o Ministério da Saúde, o exame permite detectar se há alguma alteração de tamanho e anatomia na membrana embaixo da língua capaz de dificultar a amamentação e interferir no desenvolvimento da fala, mastigação, deglutição e dentição ao longo do crescimento da criança.
Diante do diagnóstico positivo para anquiloglossia, o procedimento cirúrgico de incisão no freio lingual, chamado de frenectomia ou frenulotomia, tem aumentado, chegando a crescer 800% em todo o mundo, segundo a nota técnica da Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica, de 2022.
O cenário acendeu um alerta em organizações representativas da comunidade médica, entre elas a Academia Brasileira de Otorrinolaringologia Pediátrica (ABOPe), a qual avalia que é preciso ter cuidado com esta intervenção.
Em nota técnica, a entidade questiona critérios considerados controversos no teste da linguinha e chama a atenção para o fato de que a frenectomia “não é isenta de riscos, ainda mais em locais sem estrutura adequada, como consultórios de profissionais não médicos, que não têm treinamento para lidar com complicações da anestesia local em bebês e complicações do procedimento em si (sangramento, infecção)”.
Segundo os especialistas, nem todos os casos em que se identifica a língua presa justificam a cirurgia. Além disso, um diagnóstico definitivo nos primeiros dias de vida não é o recomendado, uma vez que os bebês ainda estão aprendendo a mamar e as mães a amamentar, sendo que a língua presa pode não ser a causa de uma eventual dificuldade que eles estejam enfrentando nessa tarefa.
“Como otorrinolaringologistas, vemos casos de dificuldade de amamentação por outras causas que não correspondem ao freio lingual curto, como malformações das vias aéreas e alterações neurológicas que, em um primeiro momento podem não ser fáceis de diagnosticar e exigem avaliação e acompanhamento médico”, esclarece a presidente da ABOPe, Cláudia Schweiger.
Campanha
Para orientar os pais e profissionais da saúde sobre o que fazer em casos identificados com essa anomalia, a ABOPe e a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial (ABORL-CCF) promovem a Campanha Nacional da Otorrino Pediátrica, com o tema: “Meu filho tem língua presa. E agora, doutor?”.
“Vamos informar sobre causas, sintomas, questões ligadas ao diagnóstico e tratamentos disponíveis para essa condição. A língua presa pode levar ao desmame dos bebês mais cedo que o tempo ideal, pois gera dificuldade da pega correta do seio e dor na mãe ao amamentar. Essa situação impacta a qualidade de vida do recém-nascido e da mãe, trazendo insegurança e angústia à família. Por isso, queremos apoiar e orientar os pais com informações médicas”, afirma Cláudia.
A médica enfatiza a necessidade e a importância da avaliação anatômica e funcional especializada antes da indicação de qualquer intervenção.
“Os riscos de complicações não se limitam somente ao período imediatamente após o procedimento, mas também a estágios posteriores durante o processo de cicatrização. Além disso, é fundamental reconhecer situações em que o procedimento é contraindicado e poderia piorar sintomas respiratórios”, esclarece a presidente da ABOPe.