O presidente da França, Emmanuel Macron, pediu ao primeiro-ministro do país, Édouard Philippe, que se reúna com a oposição e com lideranças do movimento conhecido como coletes amarelos visando buscar uma saída para a crise deflagrada pelos protestos contra a alta dos combustíveis.
Após retornar da Cúpula de Líderes do G20 (que reúne as maiores economias mundiais), em Buenos Aires, o presidente visitou ontem (2) a região mais afetada pelos confrontos entre manifestantes e policiais nos protestos de sábado – o Arco do Triunfo – para verificar de perto os danos provocados ao monumento histórico de Paris.
Macron se reuniu no Palácio do Eliseu com o gabinete de crise instalado para lidar com a situação – formado pelos ministros de Interior, Chistophe Castaner, de Justiça, Nicole Belloubet, e de Ecologia, François de Rugy.
Discordâncias
O presidente não falou com a imprensa depois do encontro. A única declaração dele sobre a violência ocorreu em Buenos Aires, há três dias, após a Cúpula de Líderes do G20. “Sempre respeitarei as discordâncias, sempre ouvirei a oposição, mas jamais aceitarei a violência”, disse o presidente.
Há informações que Macron pediu a Philippe para se reunir com os chefes dos partidos com representação parlamentar e com líderes dos manifestantes. Ele solicitou que fosse feita uma “reflexão” sobre o esquema de segurança de sábado para atos similares no futuro.
O primeiro-ministro, no entanto, pode ter que lidar com uma situação quase parecida com a da semana passada, quando convidou uma delegação de coletes amarelos para conversar. Só dois membros do grupo compareceram. Um deles quis ficar anônimo. O outro foi embora minutos depois de chegar para a reunião após a recusa de Phillipe em gravar o encontro.
Antes de atender ao chamado do primeiro-ministro, o homem, que se apresentou como liderança dos coletes amarelos, disse ter recebido ameaças e pressões do movimento para que não fosse ao encontro.
Com uma organização dispersa e completamente heterogêneo – a única coisa que une o movimento é usar o colete requerido como item de segurança viária -, o diálogo de Phillipe será complicado.
Alta dos impostos
Pela terceira semana seguida, houve um manifestação contra a nova alta dos impostos sobre combustíveis e o custo de vida na França, 682 pessoas foram presas em todo o país (412 em Paris). Além disso, 263 ficaram feridas, cinco delas em estado grave. Do total, 81 eram policiais.
Os confrontos com as forças de segurança e as imagens de depredação de estabelecimentos públicos e privados se reproduziram em Paris, Marselha e Bordeaux. E, apesar da reação do governo, os manifestantes já convocam o próximo ato.
No Facebook, os líderes informais do movimento divulgaram o novo protesto: sábado que vem, em frente ao Palácio do Eliseu.
Mas a infiltração de vândalos e a dificuldade de diferenciá-los dos demais ameaçam demonizar o movimento dos coletes amarelos. Antes dos tumultos de sábado, o grupo era apoiado pela maioria dos franceses, segundo pesquisas realizadas no país.
Mesmo com a pressão das ruas, o governo não parece disposto a voltar atrás no aumento dos impostos sobre os combustíveis.
Dissolução do parlamento
A presidente da Frente Nacional, principal partido de extrema direita do país, Marine Le Pen, e Jean-Luc Mélencho, que comanda o França Insubmissa, da extrema esquerda, pediram neste domingo a dissolução do parlamento e a adoção de um sistema proporcional.
Os dois e o líder do partido Os Republicanos, Laurent Wauquiez, exigiram que o governo desista do reajuste sobre os combustíveis. Já o Partido Socialista, do ex-presidente François Hollande, convocou uma reunião para amanhã para debater a crise nacional.
A ministra da Justiça, Nicole Belloubet, descartou hoje a hipótese de decretar estado de emergência para controlar a situação, uma sugestão que foi feita por um sindicado de policiais e não descartada ontem pelo titular do Ministério do Interior.
Castaner terá que se explicar na terça-feira (4), no Senado, sobre o esquema de segurança montado para o protesto em Paris, considerado por muitos como antiquado, insuficiente e equivocado.
*Com informações da EFE