COVID-19

Estudo da FURG aponta para disparidade étnico/racial na mortalidade por Covid-19

Para os pesquisadores, as dimensões continentais do Brasil e as desigualdades socioeconômicas exacerbam este quadro

As taxas de mortalidade por Covid-19 foram maiores entre não-brancos (pretos, pardos ou indígenas) no Brasil. É o que aponta um estudo publicado recentemente por um grupo de pesquisadores do PPGCS (Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde) da FURG (Universidade Federal do Rio Grande).

O estudo, orientado pelo professor Flavio Rodrigues, coletou os dados de mortes por Covid-19 no ano de 2020 do Portal da Transparência do Registro Civil de Óbitos de todos os estados brasileiros e suas respectivas capitais, com o objetivo de calcular as taxas de mortalidade por Covid-19 entre as diferentes etnias/raças.

Essa realidade encontrada se apresentou em 25 unidades federativas e, entre as capitais, 26 mostraram maiores taxas de mortalidade por Covid-19 deste público supracitado. A exceção foi Brasília.

Para os pesquisadores, as dimensões continentais do Brasil e as desigualdades socioeconômicas provavelmente exacerbam as disparidades étnico/raciais nas mortes por Covid-19. Entre as causas desta mortalidade superior entre não-brancos, estão o menor acesso a serviços de saúde, as condições de moradia mais precárias e uma maior exposição ao vírus.

No Rio Grande do Sul, o estudo apontou que as maiores taxas de mortalidade por Covid-19 no Estado foram entre indígenas (138 mortes por 100 mil habitantes) e pretos (137,9 mortes por 100 mil habitantes). A taxa de mortalidade por Covid-19 entre brancos foi de 81,2 mortes por 100 mil habitantes, cerca de 40% menor que a taxa entre indígenas e pretos.

Em Porto Alegre, os dados foram ainda mais alarmantes e a taxa de mortalidade entre pretos foi de 312,3 mortes por 100 mil habitantes, muito superior à taxa de óbitos entre brancos, de 169,6 mortes por 100 mil habitantes.

Subnotificação e mortes acima do esperado

Outro ponto crítico relevado pela pesquisa é a alta taxa de subnotificação da etnia/raça entre as mortes por Covid-19. A ausência de notificação da etnia/raça chegou a mais de 70% em alguns estados, como Bahia e Minas Gerais. “A subnotificação ou mau preenchimento de informações nas bases de dados governamentais é um importante vilão da consolidação de políticas públicas no país”, aponta o professor Flavio Rodrigues, orientador da pesquisa.

Outro dado trazido pelo estudo é o número de mortes em excesso, aquelas além do esperado, por Covid-19 entre não-brancos. Os pesquisadores calculam mais de 9,3 mil mortes em excesso entre não-brancos no ano de 2020, decorrentes da disparidade nas taxas de mortalidade, sendo a maior parte destas mortes em excesso nas capitais dos estados. No Estado do Rio Grande do Sul, o percentual de mortes além do esperado entre não-brancos ultrapassou 30%.

Responsabilidade do governo federal

O professor Flavio Rodrigues destaca ainda que o governo federal, ainda no ano de 2022, retirou as ferramentas para extração dos dados de mortalidade por Covid-19 estratificados por raça/etnia do Portal da Transparência do Registro Civil. Esta ação prejudica a continuidade de estudos importantes sobre o tema, incluindo a avaliação das disparidades étnico-raciais no período pós-vacinação.

Os pesquisadores ressaltam ainda que o governo brasileiro não priorizou ações para grupos étnicos mais vulneráveis e isto resultou em piores indicadores nessa população. O professor Flavio Rodrigues finaliza apontando que medidas governamentais urgentes são necessárias para reduzir a disparidade étnico-racial nos indicadores de saúde no Brasil.