Nem começou o inverno e o frio de gelar os ossos já causa estrago na saúde ocular.
Segundo o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, os prontuários mostram que a doença mais frequente nos consultórios é a síndrome do olho seco.
Em um grupo de 270 pacientes, 73 receberam diagnóstico de olho seco. “Isso é mais que o dobro da incidência nas estações quentes antes da pandemia de covid, quando a disfunção atingia 12% dos brasileiros”, disse o oftalmologista.
O médico ressalta que a avaliação dos pacientes mostra que prevalece entre eles o olho seco evaporativo. “É o tipo mais frequente desencadeado pelas alterações ambientais, nas pálpebras e no número de piscadas. Normalmente piscamos cerca de vinte vezes por minuto. Na frente das telas de seis a sete vezes e toda a população ficou mais conectada durante a pandemia”, pontuou.
O oftalmologista afirma que o olho seco tem efeitos significativos na função visual, produtividade e qualidade de vida. Isso porque, os sintomas são: sensação de areia nos olhos, ardência, vermelhidão, fotofobia e visão embaçada.
A disfunção, explica, é uma alteração na quantidade ou qualidade de uma das três camadas da lágrima formada por água, gordura e muco.
“A falta de lubrificação na superfície dos olhos predispõe a outras complicações, como por exemplo, lesões na lente externa do olho, a córnea, e à blefarite, inflamação crônica das pálpebras”, disse.
Segundo Queiroz Neto, a chance de contrair conjuntivite viral durante o frio também é maior, principalmente se você permanecer em ambientes fechados.
Isso porque, o frio espalha todo tipo de vírus no ar e a diminuição da lágrima deixa os olhos mais expostos. Uma evidência bastante clara da proliferação dos vírus neste período é o aumento dos casos de covid nos últimos dias.
Gatilhos
Queiroz Neto ressalta que toda síndrome do olho seco é multifatorial. Sofre influência do meio ambiente, estilo de vida, idade, sexo, hábitos alimentares, consumo de água, uso de lente de contato, doenças sistêmicas como o diabetes, ou na superfície do olho como cicatrizes na córnea, ceratocone e blefarite.
A incidência da síndrome é de e 3 mulheres para cada homem. Pode também estar relacionada ao uso de ar-condicionado frio ou quente que diminuem a umidade do ar.
Medicamentos antialérgicos, anti-hipertensivos e antidepressivos e a diminuição dos hormônios sexuais com o envelhecimento interferem nas glândulas lacrimais e causam deficiência aquosa na lágrima, mas é a evaporação a maior causa do olho seco.
Diagnóstico
Queiroz Neto afirma que 11% dos casos de olho seco são assintomáticos. Isso acontece porque 98% da lágrima é formada por água e a evaporação passa despercebida quando é pequena. Por isso, poucas horas no computador ou celular não afetam os olhos.
“O diagnóstico manual feito com colírio e contato com o olho pode mascarar o resultado por estimular a lacrimação. Por isso, hoje é feito com uma câmera que emite luz infravermelha e é teleguiada por um software para avaliar as três camadas da lágrima sem interferir na superfície do olho. O exame também inclui a avaliação das pálpebras inferior e superior e das glândulas de meibômio. Por isso, permite flagrar logo no início a blefarite, inflamação na pálpebra que está relaciona a alterações nas glândulas de meibômio”, explicou.
Tratamento
O oftalmologista afirma que o olho seco brando é tratado com colírios lubrificantes. Nos casos gaves pode ser feita uma cirurgia em que é implantado um plug no olho para reter a lágrima no globo ocular.
“Já atendi pacientes que depois da aplicação da luz pulsada comemoravam o alívio nos olhos”, afirmou.
Prevenção
As recomendações de Queiroz Neto para manter os olhos lubrificados são:
- Nas telas pisque voluntariamente e descanse olhando par um ponto distante a cada 20 minutos.
- Posicione o computador abaixo da linha dos olhos para manter a superfície ocular mais lubrificada.
- Desligue os equipamentos uma hora antes de ir dormir para ter uma boa noite de sono.
- Limpe a borda das pálpebras com cotonete embebido em xampu neutro para evita a obstrução das glândulas e a blefarite.
- Beba água. Hidratação nunca é demais. Protege os olhos, a pele e os rins.
- Inclua ômega na dieta. As melhores fontes são: abacate, castanhas e peixes gordos como a sardinha, salmão e bacalhau.