O Copom (Comitê de Política Monetária) do Banco Central reduziu a taxa básica de juros da economia brasileira em 0,50 pontos percentuais. A taxa Selic voltou ao patamar de 13,25%, sofrendo a primeira retração no período de três anos. A expectativa do mercado financeiro é que a Selic encerre o ano em 12% ao ano.
A decisão pela queda nos juros, no entanto, não foi unânime. Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Gabriel Muricca Galípolo e Otávio Ribeiro Damaso. Os outros quatro membros – Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Maurício Costa de Moura e Renato Dias de Brito Gomes – defenderam um redução de 0,25 ponto percentual.
Ao reduzir a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica. Ao contrário, quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a expansão da economia.
Conforme o comunicado oficial, o Copom “entende que essa decisão [de reduzir a taxa básica de juros] é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau menor, o de 2025. O Comitê reforça a necessidade de perseverar uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas”, afirma a nota do Copom.
O movimento pela queda dos juros atendeu as expectativas do governo Lula 3, que cobrava uma inflexão na política monetária diante da melhora dos indicadores da inflação. Em entrevista à EBC (Empresa Brasil de Comunicação), o ministro da Economia, Fernando Haddad, já acreditava em uma queda do freio para a inflação. “Temos um espaço importante para a queda da taxa básica e, quando cai a taxa básica de juros, o que certamente vai começar a acontecer hoje, você vai ter uma perspectiva de diminuição dos juros futuros, o que implica que as empresas vão começar a captar mais barato e, ao final, isso vai acabar chegando no consumidor”, afirmou.
Conforme o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn, a decisão é muito bem recebida diante do cenário de queda da inflação. “Uma taxa de juros real tão elevada por um longo período de tempo pode ter impactos extremamente negativos para uma economia, especialmente para aquelas atividades que são mais sensíveis à dinâmica dos juros, como é o caso da indústria e do comércio”, afirma. “Estamos no início de um ciclo de queda que esperamos que dê algum impulso à atividade no curto prazo, mas temos ciência de que a queda estrutural das taxas de juros no país está condicionada necessariamente a um controle mais efetivo das contas públicas e a outras reformas que enderecem aumento da produtividade da economia brasileira no médio e longo prazo”, destaca.
Vai e vem da taxa Selic
O Brasil tem histórico de juros altos. A taxa Selic (Sistema Especial de Liquidação e de Custódia) foi criada em 1979 durante a crise de inflação sofrida na Ditadura Militar após o “milagre econômico” do início daquela década. Ela serve com balizador de todas as outras taxas de cobrança do país, tais como empréstimos, financiamentos e aplicações financeiras.
O maior índice da Selic ocorreu em 1989, em um período de hiperinflação e quando os juros eram calculados todos os dias. Segundo a B3, em 2 de fevereiro daquele ano, o índice apurado foi de 3,626% no dia. A maior Selic acumulada em 12 meses foi registrada em 26 de dezembro de 1989, quando a taxa composta atingiu inacreditáveis 115.334,03%.
Mas foi só a partir de março de 1999 que a meta para a taxa Selic passou a ser considerada para fins de política monetária. Naquela época a taxa foi fixada em 45%, após a turbulência causada pela Crise dos Tigres Asiáticos (1997) e do início do “câmbio flutuante” do Real junto ao Dólar (1998).
Entre ciclos de altas e baixas, a Selic ficou oscilando entre 8% e 19% nos governos Lula 1 e 2 (2003-2010) e Dilma 1 (2011-2014). Mas foi no governo de Michel Temer que os juros começaram a cair: passaram de 14% em outubro de 2018 para 6,5% em dezembro de 2018. No governo de Jair Bolsonaro (2019-2022), houve a mínima histórica de 2% em agosto de 2020, em meio à pandemia de Covid-19. Depois veio, com aumento da inflação, houve um choque dos juros sobre a economia brasileira, que teve 12 altas seguidas, chegando até os 13,75% em 2 de agosto de 2022.