Capital debaixo d'água

Comporta tem problemas de vedação e alagamentos tomam conta do 4º Distrito, em Porto Alegre

O nível do Guaíba chegou em 3,45 metros às 7h15, se tornando a terceira maior enchente a atingir a Capital desde 1873.

Avenida Voluntários da Pátria tomada pela água – Imagem: Leonardo Severo/Agora RS

A cheia histórica do Guaíba causa uma série de transtornos em Porto Alegre por causa de alagamentos nesta terça-feira (21). A região abaixo da Ponte antiga do Guaíba, no bairro Navegantes, está debaixo d’água após uma comporta ter problemas de vedação. A operação do Trensurb segue interrompida entre Mercado e Farrapos. O nível chegou em 3,45 metros às 7h15, se tornando a terceira maior enchente a atingir a Capital desde 1873.

Durante a noite de segunda-feira, uma das comportas teve problemas de vedação por causa da força da água. A estrutura de número 13, que era uma passagem ferroviária e permitia acesso da zona norte ao porto, se abriu parcialmente. A água está passando do cais para a região do acesso à avenida Sertório.

O acesso da Castello Branco para a Sertório está totalmente bloqueado. Segundo a EPTC (Empresa Pública de Transporte e Circulação), os motoristas devem utilizar as avenidas Farrapos, Castello Branco e Terceira Perimetral como alternativa.

A região embaixo da ponte do Guaíba já estava alagada desde a tarde de segunda-feira (20). Os trens entre Mercado, Rodoviária, São Pedro e Farrapos foram paralisados por volta de 13h50 da tarde de ontem. A linha férrea está totalmente inundada e o nível se aproxima do topo do muro de contenção. A EPTC mantém a prestação de serviço emergencial de ônibus entre as estações Farrapos e Mercado. As estações Rodoviária e São Pedro não estão sendo atendidas.

Pontos dos bairros Navegantes, São Geraldo e Floresta também enfrentam alagamentos. É o caso, por exemplo, da região das avenidas Polônia e São Pedro, que tinha alagamentos já ontem pela manhã. Diversas ruas estão totalmente intrafegáveis por causa extravazamento de água do Guaíba que está ingressando pelo sistema de esgoto pluvial (da água da chuva).

A recomendação é evitar o deslocamento pela Voluntários da Pátria. A via tem pontos de inundação no trecho do DC Navegantes, embaixo da antiga Ponte do Guaíba e entre a Comendador Tavares e a Câncio Gomes.

Cheia do Guaíba tem proporções históricas

De todas as cheias que Porto Alegre enfrentou até hoje, apenas duas foram maiores que a atual. Em 1873, o nível do Guaíba atingiu 3,50 metros, segundo dados da PMPA (Prefeitura Municipal de Porto Alegre). São apenas seis centímetros de diferença para a que enfrentamos neste novembro de 2023.

A maior de todas as enchentes ocorreu em 1941, quando choveu 791 mm em Porto Alegre entre os meses abril e maio, em um evento relacionado com o que, décadas depois, se chamou de El Niño. A grande cheia deixou 70 mil pessoas – um terço da população à época – sem energia elétrica e água potável. As áreas atingidas pelas foram do Menino Deus até o Quarto Distrito. À época a região do Humaitá e bairro Farrapos ainda não havia sido urbanizada.

O Mercado Público ficou inundado com mais de metro de água. Ruas importantes, com a Rua da Praia (atualmente rua dos Andradas) ficaram debaixo d’água e barcos ajudaram na retirada dos atingidos.

Mercado Público (ao fundo) e Edifício Guaspari submersos na cheia de 1941. Foto: Acervo do Museu Joaquim José Felizardo

Maiores cheias do Guaíba:

  • 1873 – 3,50 metros
  • 1914 – 2,60 metros
  • 1928 – 3,20 metros
  • 1936 – 3,22 metros
  • 1941 – 4,75 metros
  • 1967 – 3,13 metros
  • 1984 – 2,60 metros
  • 2015 – 2,94 metros
  • 2016 – 2,65 metros
  • setembro de 2023 – 3,18 metros
  • novembro de 2023 – 3,44 metros até 6h da manhã (dados da ANA, via Hidroweb)