O governo do Estado veio a público desmentir uma informação que circulava nas mídias sociais. De acordo com o material compartilhado, o banco de areia que teria “surgido” no Guaíba seria indicativo de assoreamento. Ou seja, de acúmulo de sedimentos decorrentes dos temporais recentes ocorridos no RS.
O banco de areia que pode ser visto junto à Ilha das Balseiras, no Guaíba, em Porto Alegre. Segundo o governo, trata-se de uma formação antiga e que não teve início nas cheias de 2024. Mapas do Exército e da Marinha Brasileira elaborados com base em levantamentos realizados entre 1961 e 1964 já indicavam sua presença (veja na imagem principal).
“Esse tipo de formação geológica ocorre devido a um processo natural de sedimentação e, apesar de o banco ter aumentado de tamanho após o evento extremo do ano passado, isso não representa risco maior de inundações na capital do Estado nem interfere na capacidade de navegação”, disse o governo em comunicado.
Conforme o doutor em Recursos Hídricos e Saneamento Ambiental e professor do IPH (Instituto de Pesquisas Hidráulicas) da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), trata-se de uma formação natural na área do delta do rio Jacuí. Neste local, “sedimentos são depositados, e sua influência é desprezível para as cheias do Guaíba”, enfatiza .
“Esse banco de areia foi identificado na década de 1960. Houve um crescimento em razão do evento adverso de 2024, porque processos dessa magnitude sempre deixam marcas na paisagem. Porém trata-se de uma área muito pequena em relação à dimensão do Guaíba”, acrescenta o analista-chefe do departamento de qualidade ambiental da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), Glaucus Ribeiro.
“Tecnicamente, essa porção de areia não trará efeitos no que tange a inundações em Porto Alegre, e sua remoção seria ineficaz no que diz respeito ao controle de enchentes”, conclui.
Fenômeno natural
Reforçando esse entendimento, o secretário-executivo do Comitê Científico de Adaptação e Resiliência Climática do Rio Grande do Sul, professor Joel Goldenfum, explica que a formação de bancos de areia é um fenômeno natural em ambientes que se comportam de maneira semelhante a lagos – como é o caso do Guaíba. Nesses cursos d’água, o material em suspensão transportado pelas águas tende a se depositar quando a velocidade da corrente diminui.
“A formação de bancos de areia nesse tipo de ambiente é um processo absolutamente normal, comum em áreas onde a água perde velocidade, o que favorece a deposição de material em suspensão. Primeiro, formam-se bancos de areia e, à medida que eles vão crescendo, podem ou não se tornar ilhas”, detalha Goldenfum. “As Ilhas dos Marinheiros e da Pintada, por exemplo, se formaram por meio de processos semelhantes, mas num intervalo de tempo bem maior.”
O professor também aponta que, nesse caso, a dragagem é desnecessária.
“Não há nenhum motivo técnico para isso. O volume do banco de areia é muito pequeno se comparado ao volume total do Guaíba. Além de ser um processo que demanda altos investimentos, não há indicativos de que sua retirada possa ter um impacto significativo no controle de enchentes”, ressalta.
Além disso, segundo a Portos RS, a área onde está localizado o banco de areia é muito distante do canal de navegação e não oferece qualquer risco ao transporte de cargas.
Desassoreamento de rios
Por meio do Plano Rio Grande, um programa de Estado liderado pelo governador Eduardo Leite para reconstruir o Rio Grande do Sul e torná-lo ainda mais forte e resiliente, preparado para o futuro, o governo está executado o Programa Desassorear RS – que promove o desassoreamento e a limpeza de recursos hídricos.
O programa está no Eixo 2, que envolve grandes rios e depende da conclusão da batimetria, que é o mapeamento da topografia do fundo dos rios realizado por meio de ecobatímentro e GPS de precisão. Os trabalhos começaram nesta segunda-feira (7) no rio Taquari, em Triunfo. Conforme o governo, a medida é fundamental para apontar onde é necessário o desassoreamento.