MEIO AMBIENTE E ECONOMIA

Adaptação climática gera retorno de até 10 vezes o valor investido, aponta estudo

Relatório do WRI revela benefícios econômicos, sociais e ambientais de ações de resiliência climática em 12 países.

PORTO ALEGRE | 26/05/2024 | Cheia no Centro de Porto Alegre recua. Crédito: Leonardo Severo / Agora RS
PORTO ALEGRE | 26/05/2024 | Cheia no Centro de Porto Alegre recua. Crédito: Leonardo Severo / Agora RS

A cada dólar investido em adaptação climática, até US$ 10 podem ser retornados em benefícios ao longo de dez anos. É o que aponta um estudo do WRI (World Resources Institute). Este estudo avaliou 320 iniciativas em 12 países, envolvendo um total de US$ 133 bilhões em recursos.

As ações analisadas resultaram em potencial de retorno superior a US$ 1,4 trilhão no período. O estudo considerou investimentos voltados exclusivamente à redução ou gestão de riscos climáticos físicos. Exemplos incluem agricultura adaptada, proteção contra inundações urbanas e ampliação de serviços de saúde.

Segundo o relatório, metade dos dividendos ocorreu mesmo na ausência de desastres climáticos, demonstrando que os projetos de adaptação geram valor constante e multidimensional.

Desenvolvimento com retorno ambiental e social

Os dividendos identificados foram agrupados em três categorias: perdas evitadas, benefícios econômicos induzidos (como empregos e produtividade), e benefícios socioambientais. A análise aponta que, além de prevenir prejuízos, esses investimentos fortalecem economias locais e promovem saúde pública.

“O mais marcante é que adaptação climática traz benefícios mesmo sem crises. Ela gera empregos, saúde e desenvolvimento sustentável todos os dias”, afirmou Carter Brandon, pesquisador do WRI.

Entre os exemplos citados, está a proteção de áreas costeiras. Com a instalação de barreiras naturais, não apenas se evita a erosão. Também se garante habitat para pesca e recreação. Isso fortalece a economia e a qualidade de vida.

Redução de gases e ganhos financeiros

Quase metade das ações avaliadas resultou também em redução de emissões de gases do efeito estufa, criando sinergia entre adaptação e mitigação. Isso, segundo os autores, amplia o acesso a linhas de financiamento climático e mercado de carbono.

O retorno financeiro médio desses projetos é de 27%, mas pode ultrapassar 78% em áreas como saúde. No entanto, apenas 8% dos projetos analisados estimaram monetariamente todos os benefícios. Isto revela a necessidade de aprimoramento nos métodos de avaliação utilizados por bancos e governos.

“A melhor compreensão dos retornos pode atrair novos investidores e reduzir o déficit de financiamento da adaptação climática”, conforme destaca o documento.

Oportunidade para a COP30

Dan Ioschpe, campeão de alto nível da COP30, destaca que 2025 será decisivo para colocar a adaptação no centro das políticas nacionais. Ele ressalta que 90% dos investimentos em adaptação vêm de fontes públicas, segundo estudo recente da Climate Policy Initiative. Ele defende também o engajamento do setor privado.

“As evidências oferecem um argumento econômico sólido. Este é o impulso que os atores não estatais precisam no caminho até a COP30”, avalia.

A COP30 ocorrerá este ano em Belém (PA). Segundo o estudo do WRI, o modelo do TDR (“dividendo triplo da resiliência”) criado a partir da pesquisa está disponível para governos e instituições financeiras. Este modelo pode melhorar a avaliação de projetos futuros.

“É hora de reconhecer que a adaptação não é apenas uma rede de proteção. É uma plataforma real para o desenvolvimento,” concluiu Sam Mugume Koojo, co-presidente da Coalizão de Ministros das Finanças para Ação Climática.