Realismo fantástico: o novo discurso político brasileiro

Que nos perdoem tantos nomes da nossa teledramaturgia, mas os absurdos que lemos e vemos acontecer na nossa história recente deixam todas as tramas e personagens desenvolvidos até hoje com cara de textos rasos de literatura barata.

A tragicomédia envolvendo a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é uma novela que jamais nenhum autor brasileiro sonhou escrever. Que nos perdoem tantos nomes da nossa teledramaturgia, mas os absurdos que lemos e vemos acontecer na nossa história recente deixam todas as tramas e personagens desenvolvidos até hoje com cara de textos rasos de literatura barata.

Lula acredita ser uma espécie de “O Bem Amado” versão século 21 e seus interlocutores e simpatizantes, como se fosse um verdadeiro fã clube, produzem expressões como “não se pode prender um ex-presidente”.

A frase poderia ter sido dita por um personagem cômico de alguma obra de realismo fantástico, mas é pronunciada com alguma frequência pelos defensores de Lula (e até mesmo pelo próprio político) sob a alegação de que ele teria feito muito pelo país e, nas entrelinhas, seria ingratidão colocá-lo na prisão após tantas benfeitorias.

Nas falas e discursos, tentam justificar os fins com os meios, como se fazer o bem pudesse justificar qualquer maldade cometida. Além disso, acirram ainda mais a luta Nós x Eles, num repeteco do eterno Bem x Mal tão presente nos folhetins e que, na política, só fazia sentido na campanha eleitoral de 2002.

E esse discurso dualista soa cada vez mais ultrapassado e absolutamente desnecessário.

Veremos o que sai do julgamento do STF na quarta-feira.