Três pessoas presas, dois policiais feridos, ao menos dois ônibus depredados, e mais de dez pontos de barricadas com fogo. Este foi o saldo dos protestos após boatos de rapto de crianças e prisão de um homem, no bairro Mário Quintana, na zona norte de Porto Alegre. Os atos de vandalismo ocorreram na noite de ontem (23).
Conforme o comandante de policiamento na Capital, tenente-coronel André Luiz Nickele Córdova, dois dos presos estavam montando barricadas nas ruas do bairro. Os focos do incêndio obrigaram o Corpo de Bombeiros combater as chamas em ao menos doze pontos.
O terceiro preso estava, conforme Córdova, com materiais para a execução de novas barricadas. Os detidos foram encaminhados à 3ª Delegacia de Polícia de Pronto Atendimento, onde foram autuados.
Conforme a Polícia Civil, um dos detidos foi conduzido para a Cadeia Pública de Porto Alegre. Os outros dois indivíduos assinaram termo circunstanciado e foram liberados.
Durante os distúrbios de segurança pública, dois ônibus foram depredados por indivíduos com os rostos cobertos com camisetas. Ao menos 40 vândalos participaram da destruição dos coletivos.
Em um dos veículos danificados houve pichação com letras em alusão a sigla de uma facção criminosa com atuação nos presídios gaúchos. Mais adiante, na mesma lateral mesmo veículo, foi escrita a palavra “justiça”.
Diante da depredação, os coletivos das empresas Nortran e VAP (Viação Alto Petrópolis) deixaram de circular no bairro Mário Quintana. Muitos moradores tiveram que caminhar grandes distâncias para poderem chegar em casa. A circulação do transporte público foi retomada nesta manhã.
Policiais feridos
Durante os protestos em frente a 18ª DP (Delegacia de Polícia), dois policiais foram feridos após pedras terem sido jogadas contra o prédio. Um foi atingido no ombro, outro no braço. Os ferimentos foram leves.
Também houve danos ao patrimônio público, com janelas sendo quebradas pelos moradores. Ao menos 80 agentes da Polícia Civil fizeram o resguardo do prédio. A delegacia seguiu protegida por 60 policiais durante a madrugada.
O que motivou a confusão
O motivo dos distúrbios foi a propagação, via Facebook e WhatsApp, de uma suposta prisão de um homem que teria tentado raptar uma criança no bairro Mário Quintana. Somado ao choque do caso da menina Eduarda Herrera de Mello, 9 anos, o conteúdo provocou revolta nos moradores.
A informação mentirosa propagada online dizia que o indivíduo detido teria sido levado até a 18ª DP, no mesmo bairro. Centenas de pessoas foram até o local para tentar linchar o suposto preso. Algumas estavam armadas com facas e facões.
A delegada Vandi Lemos Tatsch, titular da 18ª DP, afirmou aos presentes que não havia nenhum preso no local. Depois, líderes comunitários foram autorizados a revistar todos os cômodos do prédio onde está instalada a delegacia. Até o forro do local foi revisado. Mesmo assim, nem os representantes da comunidade e nem a população se convenceu de que o local não tinha nenhum preso.
Pedras foram jogadas contra os policiais e contra o prédio. Em determinado momento, após a agressão aos agentes, um grupo cercou um policial civil. Ele realizou disparos para o alto na tentativa de dispersar a multidão. Houve gritaria e corre-corre, mas ninguém foi ferido.
Ainda durante a tarde, a Polícia Civil chegou a emitir nota afirmando que não haviam sequestros de crianças em andamento no Rio Grande do Sul. De nada adiantou.
O BOE (Batalhão de Operações Especiais) foi chamado para tentar conter os ânimos. No entanto, houve acirramento da tensão, que acabou em confronto entre o fim de tarde e a noite. Barricadas foram montadas e os coletivos, citados no início da reportagem, foram depredados.