Cotidiano

Comportamento de eleitor e método explicam imprecisão de pesquisas

Como já ocorreu em campanhas eleitorais anteriores, as pesquisas de opinião sobre intenção de votos estão de novo sendo questionadas. Isto porque em alguns casos a diferença entre o resultado da pesquisa e os percentuais finais apurados pela Justiça ...

Como já ocorreu em campanhas eleitorais anteriores, as pesquisas de opinião sobre intenção de votos estão de novo sendo questionadas. Isto porque em alguns casos a diferença entre o resultado da pesquisa e os percentuais finais apurados pela Justiça Eleitoral variam muito. Nas eleições deste ano, a crítica ficou mais contundente porque os principais colégios eleitorais do país e que concentram o maior número de eleitores – São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro -, além do Distrito Federal, apresentaram grande distorção entre a estimativa e o resultado de fato.

Em Minas, surpreendeu a ascensão de Romeu Zema (Novo) ao segundo turno, com quase 14 pontos percentuais à frente de Antonio Anastasia (PSDB). As últimas pesquisas indicavam Zema em terceiro lugar, a dois pontos percentuais (que é considerado dentro da margem de erro) do segundo colocado nas pesquisas Fernando Pimentel (PT).

No Rio, a surpresa foi Wilson Witzel (PSC) que liderou a votação com 41,3% dos votos, mas aparecia nas pesquisas mais recentes com 11% e 12% da intenção de voto, supostamente mais de 20 pontos percentuais em desvantagem em relação a Eduardo Paes (DEM) que acabou superado na votação, com menos da metade dos votos.

Em São Paulo e no Distrito Federal, a surpresa ficou com o segundo turno do pleito, já que as pesquisas indicavam que os atuais governadores – Márcio França em São Paulo e Rodrigo Rollemberg no DF – não chegariam à segunda etapa do pleito.

Para Cláudio Gonçalves Couto, cientista político da Fundação Getulio Vargas, o comportamento do eleitor ajuda a entender a disparidade entre o resultado das pesquisas e o resultado final do pleito. “As grandes viradas e as grandes mudanças repentinas em relação às últimas pesquisas ocorreram na eleição para governador de vários estados, sobretudo no Sudeste do país, e nas eleições para o Legislativo. Isso acontece porque depois de prestar muita atenção na eleição presidencial, o eleitor diz ‘agora deixa eu ver o que farei na eleição do meu estado’, quando escolhe o governador”. Segundo ele, o mesmo fenômeno se observou na escolha dos senadores, também por voto majoritário.

De acordo com o cientista político, é comum haver descolamento entre a escolha nacional e os votos estaduais, “mas nesta eleição, pelo grau de polarização do ambiente político, o eleitor acabou sendo movido pelo seu humor relativo à eleição nacional”. O fenômeno explicaria o bom desempenho de Witzel, no Rio, e de Zema, em Minas – alinhados à candidatura presidencial de Jair Bolsonaro (PSL).

Erro e influência

Mais crítico, o cientista político da Universidade de São Paulo (USP) Glauco Peres da Silva aponta que houve erros também nos levantamentos de intenção de voto presidencial. “O resultado do Bolsonaro foi maior do que as pesquisas na véspera diziam”, lembra. Ele aponta dois conjuntos de fatores que explicariam a diferença. “De um lado existem problemas de aplicação, coleta de dados, dos números. Do outro, a influência na decisão das pessoas. As pesquisas têm problemas metodológicos sérios. Mesmo erradas, as pessoas mudam de opinião por causa delas”, enfatiza.

A maior crítica do cientista político é com as amostras que não são de fato aleatórias. Para Glauco da Silva, “na prática não há uma pesquisa que vá ser perfeitamente aleatória. Isso não vai existir. A gente vai ter sempre um grau de interferência. Em alguns casos, isso é pior.”

Metodologia

Os especialistas criticam as metodologias dos principais institutos de pesquisa. Alguns aplicam questionários em pontos de fluxo de grande circulação com cotas de pessoas a serem representadas na amostra, sem respeitar a aleatoriedade que poderia haver na abrodagem em domicílio, quando a pesquisa é feita de porta em porta, seguindo critérios estatísticos.

Há também discussões entre especialistas sobre os levantamentos feitos por telefone – se são pesquisas ou enquetes. Quem critica, lembra que o conjunto de eleitores que vota é diferente do conjunto de pessoas que usa e atende telefones, e que apenas os que têm voto decidido permanecem até o fim da ligação (feita por robô). Quem defende, lembra que o procedimento é mais rápido e fidedigno, pois capta inclusive o “voto envergonhado”.

Todas as pesquisas eleitorais precisam estar registradas na Justiça Eleitoral. O site do Tribunal Superior Eleitoral publica um extrato do contrato da pesquisa, informando preços do levantamento, composição da amostra, responsável técnico, questões aplicadas e os locais de aplicação, quando feitas na rua ou em domicílio, entre outras informações.

* O repórter viajou a convite da Anpocs