Cotidiano

"Os três depoimentos são mentirosos", afirma delegado que investiga suposto ritual satanista

A descoberta das inverdades se deu após os policiais investigarem cada passo da vida dos envolvidos nos supostos rituais satanistas e das pessoas que se diziam testemunhas.

O delegado Rogério Baggio, responsável pelas investigações no caso das crianças esquartejadas, afirmou que as três testemunhas arroladas no processo mentiram. Uma delas foi presa por falsa comunicação de crime.

A investigação, que era dada quase como concluída, voltou ao início diante da comprovação das mentiras durante os depoimentos aos policiais. A descoberta das inverdades se deu após os policiais investigarem cada passo da vida dos envolvidos nos supostos rituais satanistas e das pessoas que se diziam testemunhas. “Os três depoimentos são mentirosos”, apontou Baggio.

Segundo ele, a primeira testemunha, que teria visto o suposto ritual, foi induzida a mentir para receber proteção policial e um salário pago pelo programa Protege, de resguardo à testemunhas.

O delegado apontou que as desconfianças surgiram ao reanalisar o depoimento da segunda testemunha, que teria visto o descarte das caixas com os corpos. “Perguntei como a pessoa lembrava do fato, a testemunha disse que era porque tinha um filho, que fazia aniversário na data e foi visitá-la. Realmente, a testemunha tinha um filho que fazia aniversário em 4 de setembro”, disse Baggio. Mas, ao ser questionada, a testemunha deu informações desencontradas e os policiais, ao checarem a versão dela, viram que ela escondia a verdade.

A hipótese de ritual satanista não é descartada, mas não há provas que liguem os presos aos fatos. “A gente não descarta, mas a investigação agora volta ao zero. Tudo o que tínhamos até agora é mentira, uma farsa”, afirmou o delegado Baggio.

Uma pessoa, que não teve o nome divulgado, foi presa em São Leopoldo. Ela foi acusada por vários crimes, entre eles coagir testemunha a mentir à polícia, falsa comunicação de crime e falso testemunho.

Estavam presos Sílvio Fernandes Rodrigues; Jair da Silva; Paulo Ademir Norbert da Silva; Andrei Jorge da Silva, e Márcio Miranda Brustolin. Jorge Adrian Alves e Anderson da Silva não chegaram a serem presos. As prisões preventivas foram revogadas hoje à tarde.

As primeiras prisões ocorreram em 27 de dezembro, quase três meses depois que os corpos de duas crianças foram encontradas às margens de uma estrada em Novo Hamburgo. Os dois menores tiveram os cadáveres esquartejados e se suspeitava de um ritual satanista para atrair prosperidade.

Investigação na corregedoria

Por conta da reviravolta das investigações, a Corregedoria da Polícia Civil vai investigar a atuação dos agentes envolvidos nas investigações. O principal alvo deve ser o delegado Moacir Fermino Bernardo, que, durante coletiva após a prisão dos primeiros acusados, disse que “era servo de Deus” e que havia solucionado o crime através de uma “revelação de  profetas”.

Foi Fermino que pediu a prisão dos sete detidos como supostos autores da morte das crianças esquartejadas em Novo Hamburgo. Ele batizou a operação que capturou três dos sete suspeitos de “Revelação”.

Quem são as vítimas

Perícia feita nos corpos apontou que as crianças foram mortas e esquartejadas. Há suspeita, com base na necropsia, que as vítimas foram decapitadas e tiveram todo o sangue retirado dos corpos. Há indícios, também, de canibalismo, o que reforçaria a tese de ritual macabro.

Os crânios não foram encontrados até agora, cinco meses depois que as ossadas foram descobertas. Sem as cabeças, a polícia não consegue reconstruir, digitalmente, a face das vítimas e buscar por crianças desaparecidas que tenham as mesmas características físicas. Uma das hipóteses da investigação é que a mãe das crianças também tenha sido morta.