A população em situação de rua em Porto Alegre deu um salto de 57% em apenas cinco anos e de 75% nos últimos oito, conforme dados de uma pesquisa da UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). O estudo, chamado Cadastro e Estudo de Mundo da População em Situação de Rua de Porto Alegre – 2016, foi contratado pela FASC (Fundação de Assistência Social e Cidadania).
Em 2011, foram cadastrados 1.347 moradores de rua no censo da UFRGS. O contingente, em 2016, aumentou para 2.115. Em 2008, eram apenas 1.203.
Dos 2.115 adultos encontrados pelos pesquisadores vivendo nas ruas da Capital, 1.758 aceitaram responder aos questionários. Os coordenadores da pesquisa explicaram que as visitas foram feitas nos pontos de concentração da população de rua, em dias diferentes e nos três turnos, para garantir o maior universo possível de entrevistados. “Criamos uma rotina que tornasse possível conversar com todos. Isso dá mais confiabilidade à pesquisa”, disse o professor Ivaldo Gehlen.
Outro fator importante foi a parceria com os movimentos sociais. “A população de rua tem seus movimentos representantes bem organizados e que têm consciência da importância de que esses dados sejam coletados e sejam conhecidos para que as políticas públicas atendam seus anseios”, explicou Patrice Schuch, que também coordenou a pesquisa, ao citar o jornal Boca de Rua e o Movimento Nacional da População de Rua.
“Essa grande participação nos garante um diagnóstico mais preciso sobre quem são, o que pensam, como vivem essas pessoas e se o atendimento a elas tem sido eficaz. Observamos um aumento, nos últimos anos, na procura pela rede de serviços da assistência social como o restaurante popular, o Centro POP e os centros de referência, além dos postos de saúde. Agora a prefeitura vai utilizar esses dados para analisar quais os desafios e o que precisa melhorar”, disse o prefeito de Porto Alegre, José Fortunati.
O presidente da Fasc, Marcelo Soares, ressaltou que está prevista para a primeira quinzena de março a entrega do relatório final, contendo o resultado dos estudos qualitativos da criança e do adolescente, dos trabalhadores e das instituições/serviços de atendimento à população em situação de rua.
Objetivo da pesquisa
A pesquisa teve como objetivo identificar quem são essas pessoas que estão em situação de rua, suas condições de vida e hábitos, sua situação de saúde e violência, mapear os locais que utilizam e analisar de que forma a rede de assistência e proteção tem conseguido atendê-las. Os dados devem ser utilizados no planejamento e desenvolvimento de políticas públicas específicas para estes moradores.
Com foco na população adulta e de crianças e adolescentes no período de setembro a outubro de 2016, o estudo objetivou recensear, mapeando os locais de utilização, conhecer as especificidades da formação antropológica dessa população, identificar seus dados étnicos, socioeconômicos e culturais, suas estratégicas de sobrevivência, de trabalho e geração de renda, suas formas de sociabilidade, suas identidades e representações sociais, suas relações com instituições e suas principais demandas.