CRÍTICA DE CINEMA

"O Agente Secreto" estampa o brutalismo da sociedade brasileira nos anos 1970

No longa de Kleber Mendonça Filho, fazemos uma viagem no tempo – com primor e um apreço aos detalhes – ao Recife de 1977.

Crédito: Vitrine Filmes / Divulgação
Crédito: Vitrine Filmes / Divulgação
Conteúdo Especial

Sejam muito bem-vindos, meus amantes da sétima arte! Como vocês estão? Que alegria poder estar aqui mais uma vez celebrando o Cinema Nacional! Então, meus queridos, se aprochegue para mais uma conversa. Hoje, sobre “O Agente Secreto” (Vitrine Filmes, 2025). Não se acanhe, pegue um cafezinho, com um bolo de milho quentinho e vamos nessa!

Mais que um longa visando as premiações no mercado internacional, “O Agente Secreto” é uma obra de qualidade. Ele possui um primor e um apreço aos detalhes que bate de frente com produções americanas. Vai dizer que, às vezes. você assiste algo no cinema e fica com o pensamento “Esse filme merece um Oscar”. Não estou criticando a premiação, mas tem vezes que o filme parece seguir uma cartilha de requisitos para poder entrar na corrida para o prêmio (Olá, Emilia Pérez!).

E, convenhamos, as premiações estavam perdendo um pouco o interesse do público. O feito desse ano, com “Ainda Estou Aqui” (Sony Pictures, 2024), foi algo fora da curva. Sabemos que o nosso povo é engajado. Quando vimos que existia um competidor nosso, virou clima de Copa do Mundo. Mas, apesar de não ser uma premiação popular, quando vemos aquele selo “Vencedor do Oscar”, desperta mais curiosidade e interesse.

Exatamente nesse ponto que gostaria de chegar. “Ainda Estou Aqui” fez um grande sucesso. Mas a consagração com as premiações despertou ainda mais o interesse das pessoas para assistí-lo. O que, ao meu ponto de vista, é algo muito positivo para o nosso cinema. Veja quantas produções nacionais boas tivemos neste ano! Inclusive, algumas delas, nós já conversamos aqui.

Imersão no Brasil de 1977

“Dona Sebastiana”, vivida por Tânia Maria, em O Agente Secreto. Crédito: Vitrine Filmes / Divulgação

E “O Agente Secreto” é mais uma excelente produção para nosso cinema. Vai muito além de um longa “caça-Oscar”. No longa de Kleber Mendonça Filho, fazemos uma viagem no tempo, ao Brasil de 1977. E que viagem!

Me senti sendo recebido pela Dona Sebastiana (Tânia Maria) no Edifício Ofir. Aqui é interessante em ver o contraste dos personagens. Nós conhecemos, de início, o personagem de Wagner Moura – que dispensa comentários, atuação excelente! Ele passou os últimos três dias viajando no seu Fusca amarelo. Mas percebemos no olhar dele que algo de estranho está acontecendo. Ele tenta passar despercebido, mas é possível que isso não aconteça.

Como um bom quebra-cabeças, não conseguimos encaixar as peças logo de cara. Porém, é interessante o contraste dele com a Dona Sebastiana, pois ela pode até saber o que está acontecendo. Mas na forma como ela conversa e se expressa, a gente nem percebe. E, conforme vamos juntando as peças, ficamos “êta senhorinha danada essa”.

A ambientação, fotografia, trilha sonora, gente cada um daria uma conversa diferente. São tantos elementos que te permitem imergir na história. O que me dá um certo saudosismo, de como as coisas antigamente tinham um primor, um cuidado a mais. Hoje em dia, as casas são todas uns grandes blocos quadrados ou retangulares, pintados de cinza ou “off white”. Sem personalidade de fato. Hoje em dia as casas os objetos tem um ar de “requinte”, mas um requinte totalmente vazio.

Quando você assiste esse filme, fica encantado pelas casas. As cozinhas com porcelanato. Cores vivas. Parece que, antigamente, a decoração era mais “alegre”, com mais cor. Um contraste com o período de chumbo daqueles tempos. Hoje, tons de cinza, preto ou branco.

Riqueza de detalhes

Acho que vocês já perceberam ao longo das nossas conversas o quanto amo filme com riqueza de detalhes. Particularmente, isso me ajuda a me conectar ainda mais com o filme. A, de fato, comprar essa história. Mas também me gera um gatilho do tipo “ah, queria que as coisas fossem assim, mais simples”.

Nesse longa você pode esperar de tudo, até um bom suspense. Personagens que vão te conquistar, e outros que você vai torcer pelo seu fim da forma mais dolorosa e demorada possível. Vai te trazer um “quentinho no coração” de uma época em que as coisas pareciam ser mais alegres e simples. Um sensação de que a injustiça que ocorria nos tempos antigos segue até hoje, junto com a vontade de tentar fazer a nossa parte por um Brasil mais igualitário.

Mais uma vez, saio de uma sessão com um mix de sentimentos e com uma alegria: nosso Cinema Nacional segue vivo. Que o nosso povo continue se interessando pelas nossas obras, que a gente continue gerando um grande engajamento com as nossas produções assim como fazemos para produções do exterior. “Ah, mas cinema brasileiro é tudo igual, carnaval, futebol, tráfico, humor galhofa”… Se você tem mesmo vontade de conhecer o nosso cinema, deixa de lado esses preconceitos e olha bem. Analisa as coisas que você está prestes a consumir. E se, mesmo assim você tiver dúvidas, continue acompanhando a gente.

É isso meus queridos, um “xêro”, Thi.