A convite da Dropzando e do Espaço Z, participei da cabine de imprensa de “A Melhor Mãe do Mundo” (2025, Galeria Distribuidora), novo filme de Anna Muylaert, com estreia marcada para 7 de agosto nos cinemas. O longa conta a história de Gal, uma mãe da periferia que tenta escapar de um relacionamento abusivo para buscar uma vida melhor ao lado dos filhos.
Sabendo que não poderia contar com o apoio das autoridades, em especial da polícia, Gal decide sair de casa com as crianças — sem saber exatamente para onde ir, mas determinada a deixar a condição de vítima para trás. A partir desse ponto, o filme conduz o espectador por uma jornada dolorosa, real e, acima de tudo, necessária.
Saí da sessão com um mix de sentimentos. Por um lado, a felicidade de ver o cinema nacional entregando uma obra tão potente. Por outro, o peso de encarar uma realidade ainda comum nos dias de hoje. É um filme que permanece na mente, que reverbera. Tenho certeza de que, ao assistir uma segunda ou terceira vez, novas camadas e detalhes surgirão.
Uma retomada de fôlego para o cinema brasileiro
Admito que, particularmente falando, eu estava um pouco afastado do cinema nacional. Confesso que o que via ser comercializado não era algo que me atraia, com humor escrachado e depreciativo, coisas muito apelativas. Salvo exceções como Minha mãe é uma peça, não estou dizendo que para ser bom tem de ser algo dramático, mas ultimamente era um humor tão apelativo, que realmente não dava vontade de assistir.
Recentemente tivemos “Ainda Estou Aqui” (Sony Pictures Classic, 2024) que foi lindo acompanhar sua repercussão, sendo indicado e levando grandes prêmios da indústria cinematográfica. E agora assistir essa obra da Anna Muylaert me fez sair com um quentinho no coração de que o cinema nacional continua vivo e produzindo obras de imensa qualidade.
Por que você deve assistir
Assim como na minha última conversa não vou entrar em spoilers, até porque um dos motivos de escrever aqui é exatamente instigar a você de ir prestigiar essa obra. Mas posso dizer com segurança: “A Melhor Mãe do Mundo” é um filme necessário.
É uma história linda de superação, mas que passa por momentos bem delicados. Como mencionei na introdução, a Gal é mãe de duas crianças – super carismáticas diga-se de passagem – está em um relacionamento abusivo. Mas, apesar da realidade, faz de tudo para se ver livre disso.
Ela foge com os filhos, mas em nenhum momento transmite a gravidade da situação a eles. O filme deixa claro: por trás de toda a vulnerabilidade, existe a força de uma mãe que luta para preservar a inocência das crianças. Um dos momentos mais simbólicos está no trailer: um dos filhos pergunta se vão dormir na rua. Eles estão, sim, na rua — dormindo em um carrinho de reciclagem. Mas Gal transforma esse momento difícil em uma aventura, dizendo que vão acampar ali.
Essa tentativa de proteger as crianças da dura realidade é tocante. Gal sabe das dificuldades, mas diz aos filhos que sempre quis viver uma grande aventura ao lado deles. E, com o pouco que tem, consegue proporcionar momentos felizes. Ela não se deixa abater: os filhos merecem e terão o melhor que ela puder dar.
Uma obra que merece ser prestigiada
Saí da sessão emocionado. E pensando. Quantas mães vivem isso todos os dias? Quantas pessoas permanecem em relacionamentos infelizes ou violentos, físicas ou psicologicamente? Quantas não percebem que xingamentos também são agressões?
O filme me fez refletir sobre as pessoas em situação de rua, que estão apenas tentando sobreviver. Me fez pensar no quanto as mulheres precisam ser respeitadas e no quanto é urgente fortalecer redes de apoio. Às vezes, sabemos que estamos em uma situação ruim, mas não temos força para sair dela sozinhos. E está tudo bem precisar de ajuda.
Esse filme é um soco no estômago — mas um soco necessário. A história de Gal precisa ser vista. O cinema nacional precisa ser valorizado. Não com obras que romantizam a dor, mas com histórias como essa, que despertam o desejo real de transformar a vida das pessoas.
Agradeço à equipe da Dropzando e ao Espaço Z pelo convite. “A Melhor Mãe do Mundo” foi uma grata surpresa. Espero que você também sinta esse mix de emoções ao assistir e consiga refletir sobre esse ponto sensível da nossa sociedade.